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Silvio Almeida: governo brasileiro está alinhado a 'projeto de destruição'

Do UOL, em São Paulo

22/06/2020 23h23Atualizada em 23/06/2020 13h06

O jurista e filósofo Silvio Almeida declarou hoje durante o "Roda Viva" que o governo federal está alinhando a um "projeto de destruição do Brasil" e que a negação do racismo, principalmente no momento histórico em que vivemos, é um "reforço de posições racistas".

Para o escritor de "Racismo Estrutural", o governo brasileiro adota a postura porque "dá base para cometer os absurdos que estão sendo cometidos".

"O que me leva a pensar o que esse momento significa e a figura que hoje preside a Fundação Palmares [Sergio Camargo], como esse governo está alinhado a um projeto de destruição do Brasil", analisa.

"E não só no tecido social brasileiro, o que tem de mais pujante, mas uma destruição das instituições que foram equilibradas sobre esse pacto, que é profundamente questionável e que fazia que no Brasil nós não tivéssemos visto de maneira tão evidente laivos de supremacia branca".

Para Almeida, a força da supremacia branca no Brasil é uma novidade e que vem enraizada em um discurso econômico, justamente em um período de pandemia do coronavírus.

"Isso é muito violento, num momento em que estamos vivendo uma pandemia em que há um projeto de retração dos investimentos públicos em saúde e educação, em que se defende contra todas as evidências a manutenção de um teto de gastos que, sem precedentes em outros lugares do mundo, onde é necessário o investimento público, nós sabemos que esse discurso da supremacia branca vem afinado com certo discurso econômico que seduz muita gente", diz.

Negro é política

Segundo Silvio, parte da pauta dos partidos progressistas na redemocratização no Brasil após o período de Ditadura Militar (1964-1985) foi desenvolvida com papel fundamental dos negros, como o Movimento Sem Terra e o Movimento Sem Teto.

"Esse movimento social, que se encaixa na base dos partidos políticos, é também uma expressão muito forte do movimento negro, porque o que sustenta a questão racial é também a demanda dos negros por saúde, moradia, educação, emprego", opina.

O escritor acredita que há uma dificuldade grande dentro do processo interno político de aceitar líderes negros e pautas raciais. "O fato de serem partidos que historicamente são sustentados por agendas que se enquadram dentro de reivindicações históricas do movimento negro não significa dizer que na sua organização interna eles vão reproduzir."

Na entrevista, o jurista ainda explica que quem fica focado em identidade não é a esquerda, mas sim a extrema-direita — a que fica falando da "América para os americanos".

Silvio também critica parte da esquerda e de partidos progressistas que não olham para a questão das identidades, o que para ele é fechar os olhos para a realidade.

"Tem uma crítica de esquerda que eu acho que é puro moralismo, que é dizer: agora só se pensa em identidade. Como se as pessoas não fossem atravessadas por isso, por conta de uma série de condições sociais e tiverem de afirmar sua identidade inclusive como forma de existir", aponta.