Polícia encontra 5º corpo em SP e fala em cemitério clandestino do PCC
Policiais civis vasculham com retroescavadeira e cães farejadores duas áreas de mata na Zona Leste de São Paulo onde foram encontrados cinco corpos. Um deles estava amarrado dentro de um saco plástico e a suspeita dos investigadores é de que os locais serviam de cemitério clandestino para enterrar pessoas assassinadas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
Os corpos estavam em dois pontos. O primeiro fica numa área de invasão na comunidade da Savoy e é tão remoto que não aparece acesso no Waze ou Google Maps. A rua acaba e surgem estradas de terra que são estreitas, esburacadas e íngremes, fazendo sair cheiro de embreagem dos carros dos motoristas que encaram o caminho. A reportagem do UOL precisou descer e subir morros a pé até alcançar a parte debaixo da área verde onde foram enterrados corpos.
O lugar em que estavam os demais cadáveres era em outro morro. Líder da equipe, o delegado Carlos Alberto da Cunha declarou que neste ponto foi descoberto um local em que funcionaria um suposto tribunal do crime. Acrescentou que a localização foi possível depois da prisão de Wislan Ramos Ferreira, em 30 de abril, apontado como chefe do tribunal do crime na Zona Leste a partir de 2017.
Cunha disse que em oito meses de investigação foram coletados dados que ligam os corpos a Wislan e que provariam que foram vítimas mortas a mando da facção. O delegado ressaltou que no suposto tribunal havia cordas amarradas em uma árvore e em pedaços de pau fincados no chão para que as pessoas fossem torturadas e mortas em caso de condenação. O local ficava em uma subida e a terra foi cavada para criar uma arquibancada para acompanhamento dos supostos julgamentos.
"Na verdade, o julgamento, o tribunal, a tortura, é aqui. E onde a gente estava, na distância de 300 metros, são as covas. [Foi] Localizado o novo tribunal do crime da Zona Leste. Saiu da favela do Savoy, lá só deve ter cadáver, e achamos ele [tribunal do crime] aqui".
No local a 300 metros citado pelo delegado, foram encontrados três corpos. Esta parte de mata é chamada de Santa Terezinha e fica próxima ao Shopping Aricanduva. Os outros dois corpos estavam na comunidade chamada de Savoy, um terreno particular que fica 1 quilômetro distante.
Mutilações e incineração
De acordo com a Polícia Civil, existe a suspeita de Wislan Ramos Ferreira, conhecido como Jagunço, ser responsável pela morte de 50 pessoas desde que assumiu o posto de gerente de execuções do PCC na Zona Leste. O delegado afirmou que o próprio criminoso executava as vítimas de que não gostava.
Cunha declarou que o ritual de tortura para os condenados incluía mutilações que começavam nos pés, subiam para o joelho, coxas, pênis, mãos, braços e até decapitação. Os alvos eram talaricos (homens que assediam mulheres casadas com presos ou criminosos), estupradores, delatores e pessoas com dívidas de drogas.
Os policiais também informaram que as vítimas eram queimadas para atrapalhar a identificação e diminuir o cheiro, dificultando o trabalho de cães. Entre os cinco corpos encontrados, quatro são somente ossadas. A estimativa é de que estivessem enterrados há dois anos.
O outro corpo estava enterrado dentro de um saco e amarrado, mas como as vítimas eram mutiladas, não é possível saber quais partes foram imobilizadas pela corda. A avaliação preliminar estima que a pessoa havia morrido sete meses atrás e o estado de decomposição era avançado.
Prisão foi crucial para descoberta dos corpos
O delegado explicou que a descoberta dos corpos é uma continuação da investigação que prendeu Wislan. Cunha chama de segunda fase a busca pelos corpos e desativação do local. O ponto onde estava um corpo, o terreno da Savoy, tem várias estradas de terra de difícil acesso a veículos. Há carcaças de veículos abandonadas e algumas estão queimadas. Existe a suspeita de que ali fossem desovados carros usados em crimes.
O delegado Cunha falou que o IML (Instituto Médico Legal) recolheu os corpos e que será feito exame de DNA e análise da arcada dentária. Mesmo com a previsão de 50 execuções nos locais, a Polícia Civil não acredita que encontrará todos os cadáveres. Justificou que houve erosão, que deixou as covas fundas, e deslizamentos que levaram as vítimas para área de pântano. As duas condições reduziriam a eficácia dos cães.
Além de assassinar desafetos da facção na Zona Leste, Wislan teria recebido a missão de matar o delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes. A descoberta da missão ocorreu ano passado e o Ministério Público interceptou um bilhete da cúpula da facção que cobrava Jagunço pela morte.
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