Polícia indicia pai de jovem que matou amiga com disparo em Cuiabá
O pai da adolescente de 14 anos que é investigada pela morte de Isabele Guimarães Ramos, 14, foi indiciado pela PJC-MT (Polícia Judiciária Civil do Mato Grosso) pelos crimes de porte e posse de arma de fogo irregular, além de fornecer arma de fogo a menor de 18 anos. A conclusão do inquérito, realizado pela 2ª Delegacia de Polícia, localizada no bairro Planalto, foi divulgada hoje, mas o documento foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário na última quinta-feira (30).
O empresário foi preso em flagrante por posse e porte ilegal de arma de fogo depois que a polícia encontrou um arsenal com seis pistolas na residência dele, localizada em um condomínio de Cuiabá, no dia 12 de julho, durante busca no imóvel, após ser constatada a morte de Isabele por um tiro na cabeça. Ele pagou R$ 1 mil de fiança para responder em liberdade provisória. O valor mudou três vezes, foi para R$ 209 mil, caiu para R$ 10 mil, e voltou a ser aumentada para R$ 52,2 mil, seguindo decisões da Justiça.
A arma cujo disparo matou Isabele estava irregular na casa do empresário, como também uma segunda pistola, que estão registradas no nome de outra pessoa. Elas pertencem ao pai do namorado da menor suspeita de efetuar o disparo. O namorado da adolescente tem 16 anos. As famílias são praticantes de tiro esportivo.
Indiciamento
A PJC-MT informou que o empresário foi indiciado de acordo com a Lei 10.826/2003, nos seguintes artigos: 12, que trata da posse irregular arma de fogo; 14, que diz sobre o porte ilegal de arma de fogo; e 16, parágrafo 1, inciso 5, que traz o crime de fornecer arma a adolescente. A polícia disse que ficou comprovado que ele "solicitou à própria filha que guardasse as armas."
"A posse de arma se configura porque ele tinha as armas em casa sem regularização. Já o porte é porque ele recebeu outras armas de um adolescente na residência onde ocorreu o homicídio da adolescente Isabele Guimarães Ramos", explicou a Polícia Judiciária Civil.
A polícia informou que a 2ª Delegacia de Polícia de Cuiabá recebeu quatro armas de fogo que seriam do empresário. Elas foram encaminhadas para perícia. O laudo evidenciou que as pistolas são eficazes para disparar tiros. "A Polícia Judiciária Civil também solicitou informações ao Exército Brasileiro para saber se armas eram legalizadas. Somente uma delas estava legalizada", informou.
As armas objeto desse inquérito não têm relação com o homicídio de Isabele Ramos. A perícia das armas que não estavam no nome do pai da menor, mas foram encontradas na mansão dele, faz parte do inquérito que apura a morte da adolescente.
Segundo a PJC-MT, todas as oitivas e laudos deste inquérito que indiciou o empresário foram compartilhados com a DEA (Delegacia Especializada do Adolescente), que tem inquérito em aberto investigando a morte de Isabele Guimarães Ramos. A polícia tem até o próximo dia 11 para concluir o inquérito. Entretanto, a autoridade policial poderá pedir prorrogação à Justiça por mais 30 dias para concluir as investigações. A Polícia Judiciária Civil do Mato Grosso não informou se haverá pedido ou não de prorrogação de prazo.
A morte de Isabele está sendo investigada pela polícia como um acidente. No entanto, a polícia também investiga o crime análogo a homicídio já que a investigada é menor de 18 anos. As investigações ocorrem em sigilo por envolver menor de 18 anos.
O namorado da menor suspeita de cometer o crime e o pai dele, que não tiveram os nomes divulgados, prestaram depoimento à polícia no último dia 20. O empresário e a filha foram ouvidos pela polícia no dia 14. Os conteúdos dos depoimentos não foram divulgados pela polícia.
Laudo preliminar da necropsia do corpo de Isabele, realizado pelo Instituto Médico Legal de Cuiabá, apontou que o tiro que atingiu a vítima foi disparado a curta distância. A bala entrou pela narina e saiu pela cabeça da adolescente. Ela morreu antes do socorro do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegar ao local. A causa da morte foi traumatismo crânio-encefálico.
Em ligação telefônica feita para o Samu, o empresário disse que Isabele tinha levado uma queda no banheiro e tinha batido com a cabeça no chão. Durante o telefonema dele, outra pessoa ligou para o Samu e disse que a menina tinha levado um tiro na cabeça. "Oi, rápido, a menina caiu no banheiro. (...) Tem muito sangue, está perdendo muito sangue. (...) Ela caiu e bateu a cabeça, está perdendo muito sangue, perdeu dois litros de sangue. (...) Bel, eu acho que ela está sem respiração, rápido", disse.
O advogado que faz a defesa da menor e do empresário, Ulisses Rabaneda, disse ao UOL, na tarde de hoje, que não tomou conhecimento oficial do indiciamento do empresário e diz que a defesa só vai se pronunciar em momento oportuno sobre o inquérito. O advogado negou que existiam armas irregulares no imóvel, local do crime.
O UOL procurou o advogado Hélio Nishiyama, contratado pela família de Isabele para ser assistente de acusação junto ao Ministério Público Estadual, mas foi informado que ele encontra-se em viagem. Até a publicação deste texto, Nishiyama não retornou ao contato.
A morte da adolescente
Isabele Guimarães Ramos tinha ido à casa da colega para fazer um bolo e foi morta com um tiro na cabeça. A vítima morreu antes do socorro, dentro de um dos banheiros do imóvel.
A polícia afirmou, inicialmente, que a cena do crime teria sido modificada e investiga o por quê. Após a morte da adolescente, a polícia encontrou sete armas de fogo no local — sendo duas armas não registradas no nome dele. Por isso, o empresário foi preso em flagrante.
As armas pertencem ao pai do namorado da filha do empresário, que tem 16 anos e teria levado as armas para o imóvel no dia da morte de Isabele. As famílias praticam tiro esportivo.
Apesar de ser multimilionário, o empresário pagou R$ 1 mil de fiança, com valor arbitrado pela autoridade policial, e foi liberado para responder pelo crime em liberdade provisória. Ele tem um patrimônio de milhões, com a mansão no condomínio de Cuiabá, mais cinco imóveis de luxo na cidade, um automóvel importado esportivo modelo Lamborghini, um avião e é sócio de uma empresa de telecomunicações, cujo capital é estimado em R$ 10,4 milhões.
O Ministério Público Estadual e a família da vítima questionaram na Justiça o valor da fiança, por ser desproporcional à condição financeira do empresário. A família da vítima pediu o reforço da fiança no valor de R$ 1 milhão, e a manifestação do Ministério Público foi pelo valor correspondente a 100 salários mínimos. A Justiça avaliou as condições financeiras do empresário e majorou o valor em R$ 209 mil.
A defesa recorreu da decisão, alegando que ele passa por dificuldades financeiras, e o valor minorou para R$ 10 mil. Porém, o MP recorreu e uma nova sentença estabeleceu o valor em R$ 52,2 mil.
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