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Polícia apreende carro que teria sido usado por PM para matar Guilherme

Luís Adorno e Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

19/06/2020 18h07

A Polícia Civil cumpriu hoje sete mandados de busca e apreensão relacionados ao sequestro, tortura e assassinato do jovem negro Guilherme Silva Guedes, 15, ocorrido na madrugada de domingo (14), na Vila Clara, região de Americanópolis, zona sul de São Paulo. Um porteiro que, até então, era considerado suspeito, foi descartado das investigações.

Na casa do terceiro-sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, 41, considerado pela Polícia Civil o principal suspeito e mentor do crime, agentes do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), apreenderam um carro cinza escuro que teria sido utilizado no crime. Esse carro é do filho do sargento.

A Polícia Civil acredita que o automóvel foi utilizado pelo sargento no crime. O filho do sargento afirmou em depoimento que seu pai costumava utilizá-lo. Um revólver e uma arma de brinquedo também foram apreendidos.

De acordo com o delegado Fábio Pinheiro Lopes, diretor do DHPP, os policiais também realizaram buscas na empresa de segurança que é controlada pelo sargento. No local, o filho dele estava trabalhando e foi levado para prestar depoimento. "Ele foi chamado para depor e afirmou que quem usa o carro é o pai dele", disse o delegado em entrevista ao UOL.

Ontem, a polícia ventilou a possibilidade de que um porteiro, de nome Fábio, também teria participado do crime. Em um primeiro momento os policiais não o encontraram na residência do suspeito. "Quando falei na televisão que a gente ia pedir um mandado de prisão contra ele, ele compareceu à delegacia para ser ouvido", diz o delegado, afirmando ainda que não há indícios de que ele tenha participado do crime.

Outro veículo, um Volkswagen Fox, de cor preta, foi apreendido na casa de outro policial militar, identificado como soldado Paulo. No local do crime, foi encontrada perto do corpo do jovem a tarjeta de identificação de um policial com o nome SD Paulo. Segundo a polícia, todavia, ele não é tratado como suspeito na investigação.

O Ministério Público de São Paulo chegou a afirmar que policiais militares têm rondado a casa onde a vítima vivia, no bairro da Vila Clara, "inclusive exigindo a entrega de tarjeta de identificação de PM localizada por familiares da vítima".

Guilherme Silva Guedes, morto após ser sequestrado na Vila Clara - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Guilherme Silva Guedes, morto após ser sequestrado na Vila Clara
Imagem: Arquivo Pessoal

O adolescente desapareceu na madrugada de domingo (14) e foi encontrado horas depois em Diadema, cidade do Grande ABC, com dois tiros na cabeça e com muitas marcas de agressão espalhadas pelo corpo.

Guilherme teria sido confundido e, consequentemente, teria sido vítima de vingança. Segundo as investigações, um galpão da região foi roubado no domingo. O porteiro que estava no galpão chegou a ligar para o 190, mas desistiu de denunciar após o sargento ter prometido que resolveria por conta própria, ainda de acordo com a investigação.

Sargento da PM é o principal suspeito, diz polícia

O terceiro-sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, do Baep (Batalhão de Ações Especiais), de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, está preso no presídio militar Romão Gomes, zona norte da capital, sob suspeita de ter participado do sequestro, tortura e morte do adolescente.

A família, com ajuda de vizinhos, obteve a filmagem que mostra quem a polícia diz ser sargento Adriano, armado e à paisana, na travessa da Vila Clara, ao lado da casa em que Guilherme vivia com a avó, local de onde ele foi levado pelo policial.

Eles identificaram que o homem que aparecia na imagem era segurança de um terreno na rua de trás da casa do adolescente. Segundo os policiais civis que investigam o caso, não há sombra de dúvidas de que trata-se do sargento Adriano.

Adriano Fernandes de Campos, suspeito de matar Guilherme Silva Guedes - UOL - UOL
Adriano Fernandes de Campos, suspeito de matar Guilherme Silva Guedes
Imagem: UOL

O sargento, que já foi da Tropa de Choque em 2018, tem holerites datados de São Bernardo desde 2013. Ele é dono da empresa de segurança privada Campos Forte Portaria Ltda. Seu sócio na empresa privada é seu pai, o sargento aposentado Sebastião Alberto de Campos.

Um outro soldado da PM, identificado como Paulo, também é suspeito de ter participado diretamente da morte do adolescente. Segundo a Polícia Civil, Paulo apresentou um álibi forte e a apuração aponta que, de fato, ele não estava envolvido na ocorrência.

Adriano e o comparsa foram flagrados em uma câmera de segurança que está sob posse do DHPP. Segundo a Polícia Civil, o sargento aparece com um outro policial militar. Em determinado momento, é possível observá-lo com uma arma de fogo em mãos.

Segundo o advogado Renato Soares, que defende o PM, "o sargento Adriano é inocente". De acordo com a defesa do policial, o advogado ainda não teve acesso ao conteúdo das investigações. "Assim que tivermos conteúdo sobre as apurações nós manifestaremos", disse.