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IBGE: Brasileiro passa a comer menos fora de casa, mesmo antes de pandemia

Getty Images
Imagem: Getty Images

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

21/08/2020 10h00

Resumo da notícia

  • Só 36,5% das famílias disseram ter o costume de comer fora de casa
  • Região Norte teve a queda mais acentuada desde último levantamento
  • Pesquisa foi feita com quase 58 mil domicílios do país entre julho de 2017 e julho de 2018

O brasileiro está comendo menos fora de casa e não é de hoje. Pesquisa divulgada hoje (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra menos famílias se alimentando fora com frequência, principalmente em centros urbanos. O dado foi levantado de 2017 a 2018, portanto antes da pandemia de coronavírus, que deve gerar ainda mais impactos no futuro.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018, feita com quase 58 mil domicílios do país entre julho de 2017 e julho de 2018, revelou que apenas 36,5% das famílias disseram ter o costume de comer fora de casa.

Este dado representa uma queda de quase quatro pontos percentuais em relação ao último levantamento, realizado entre 2008 e 2009, quando 40,2% das famílias brasileiras diziam comer fora de casa com frequência.

Dado que a renda e o percentual gasto com alimentação (interna ou externa) varia de acordo com cada domicílio, a pesquisa adotou referências diferentes nos lares. "Como a operação da coleta tem duração de 12 meses, os períodos de referência das informações de despesas e rendimentos não correspondem às mesmas datas para cada domicílio selecionado", explica o estudo.

Norte, Sudeste e Sul têm queda no consumo fora de casa

As tendências variam de acordo com a região. Norte, Sudeste e Sul seguiram a mesma tendência nacional e apresentaram redução no consumo fora de casa. Centro-Oeste e Nordeste, no entanto, fizeram o caminho inverso e apresentaram aumento do consumo externo.

"A redução mais expressiva foi na região Norte, onde o consumo fora de casa foi relatado por 42,6% da população em 2008-2009 e agora foi mencionado por 30,5%", diz o estudo.

O motivo, avalia pesquisador do IBGE, é o crescimento das cidades do interior e o aumento do oferecimento deste tipo de serviço nesses locais.

"Há esse fenômeno de aumento de ocupações em áreas rurais e paralelamente a expansão de serviços de alimentação em localidades mais distantes dos centros urbanos, com a incorporação de hábitos de consumo observados nos centros urbanos", afirma o tecnologista Jefferson Mariano, do IBGE.

Segundo ele, isso é mais visível no Centro-Oeste, que experimentou alta de cinco pontos percentuais entre uma pesquisa e outra. "A região vive o fenômeno da chamada nova fronteira agrícola, com expansão [de cidades] e aumento da formalização do trabalho", diz Mariano.

Queda foi acentuada em domicílios com maior renda

O IBGE divide as famílias em quatro grupos de renda. Todos experimentaram diminuição na alimentação fora de casa, mas a queda foi mais acentuada entre as famílias com maior poder aquisitivo.

"Tanto em 2008-2009 como em 2017-2018 a prevalência de consumo alimentar fora de casa aumentava com o incremento da renda familiar mensal", explica o estudo. "Na primeira pesquisa, essa prevalência variou de 30,7% (primeiro quarto) a 50,5% (último quarto) e, na segunda pesquisa, variou de 29,2% (primeiro quarto) a 45,1% (último quarto)."

Quais os motivos para a queda?

A POF não pergunta às famílias os motivos de terem diminuído ou aumentado o consumo fora de casa, mas a queda, acentuada em lares urbanos, pode estar atrelada a uma possível queda na renda e ao aumento do delivery.

"Como se trata de um período largo de comparação é um pouco complicado [estimar a influência da renda das famílias]. Se observarmos as variações do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo], há períodos largos com maior variação positiva dos preços no consumo fora do domicílio. [Mas] aqui valeria um estudo mais detalhado", avalia Mariano.

O levantamento usa na estatística fora do domicílio só os produtos que são feitos e consumidos fora de casa. "Ou seja, alimentos trazidos de restaurantes para dentro de casa e alimentos provenientes de serviços de entrega em domicílio são incluídos na alimentação dentro do domicílio", diz o texto.

Isso significa que o crescimento dos serviços de entrega por aplicativo no últimos anos pode ser outro fator determinante, visto que o maior impacto se deu nos lares urbanos, que viram uma queda de 42,8% em 2008-2009 para 38% em 2017-2018.