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Mulher Demônia e Diabão de SP rebatem haters: 'somos obras-primas'

Rafaella Martinez

Colaboração para o UOL, em Guarujá (SP)

05/10/2020 15h24

Com a maior parte do corpo tatuado e repleto de modificações, um casal de Praia Grande, no litoral de São Paulo, tem sido alvo de diversas mensagens com cunho preconceituoso após a publicação de sua história pelo tabloide inglês 'Daily Star'. Adeptos da chamada 'modificação corporal', Michel e Carol Praddo - ou 'Mulher Demônia' e 'Diabão', como preferem ser chamados - garantem que mesmo com as mensagens de ódio, continuarão fazendo procedimentos estéticos.

"O mundo é pautado por modificações corporais 'aceitáveis', como o uso de uma aparelho dentário, uma tintura no cabelo ou uma tatuagem. A única diferença é que nossa transformação é mais extrema, mas ela não impacta em quem somos e no amor e respeito que existe em nossa família. Muitos dos que julgam nosso exterior não têm a sorte de viver a vida incrível e cheia de amor que vivemos", desabafa Diabão.

O casal, que está junto há 11 anos e tem três filhos (sendo um fruto do primeiro casamento dele e outro de um relacionamento anterior dela), conta que tudo começou há quatro anos, quando reportagens sobre o assunto passaram a ser mais frequentes em todo o mundo.

"Eu nunca fui muito adequado. Sempre usei roupas diferentes quando criança e gostava de acompanhar o trabalho de um tatuador que estava instalado em cima do comércio do meu pai, no centro de Santos. Posso dizer que meu caminho começou nessa época, ainda jovem, desenhando e vendendo tatuagens, passando a tatuar oficialmente em 1994", conta Diabão, hoje com 45 anos e 85% do corpo tatuado.

Alguns anos depois, o tatuador conheceu a esposa, que na época já gostava de tatuagens e piercings. Juntos, começaram a trilhar o caminho da modificação extrema, tendo ambos já passado por procedimentos que envolvem implantes subcutâneos; chifres na testa (implantes transdermais); pigmentação dos olhos (eyeball tattoo) e divisão da língua.

Michel e Carol Praddo, antes das modificações corporais mais extremas - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Michel e Carol Praddo, antes das modificações corporais mais extremas
Imagem: Acervo Pessoal

"Fiz minha primeira tatuagem com 17 anos e desde então se tornou um vício e inclusive meu ganha-pão. Mas chegou um momento em que eu não queria apenas ser totalmente tatuado: eu queria mudar minha forma humana. A mudança mais radical que passei sem dúvidas foi a remoção estética do nariz. Na época fui um dos pioneiros. Hoje acredito que apenas quatro pessoas no mundo passaram pelo mesmo procedimento", conta o tatuador.

Já a Mulher Demônia afirma que começou a se interessar pelo tema após a transformação do marido, mas que tem mais cautela ao fazer os procedimentos por ter medo de dor. "Sei que pode soar estranho, mas eu tenho muito medo de agulha e não gosto de sentir dor. Mas faço porque gosto do resultado. Tenho o desejo de aumentar as maçãs do rosto para ficar parecida com a Angelina Jolie no filme Malévola", afirma a aplicadora de piercing e especialista em modificação corporal que tem hoje cerca de 60% do corpo tatuado.

Curiosidade x Preconceito

Paixão compartilhada: "Diabão" e "Mulher Demônia" dividem amor pela modificação corporal - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Paixão compartilhada: "Diabão" e "Mulher Demônia" dividem amor pela modificação corporal
Imagem: Acervo Pessoal

Diabão diz não se incomodar com olhares curiosos nas ruas. A falta de respeito, sim, é um problema. "Seria ignorância da minha parte, principalmente por estar ciente de que minha aparência vai mais para o lado do sinistro, achar que não iria despertar algumas reações. Eu acho legal, pois é mais uma possibilidade de conversar e fazer as pessoas enxergarem para além do corpo. Agora eu não sei e não vou nunca aprender a lidar com a falta de respeito e as ofensas moralistas. Muitos que apontam o dedo não vivem da forma pacífica e harmoniosa que eu vivo", destaca.

Já para Mulher Demônia, a curiosidade e o preconceito são sinônimos. "Eu tento não julgar ou me abater, pois já tive uma fase de olhar com estranhamento tudo que era diferente para mim. Mas as coisas mudam e estamos sempre evoluindo. Eu lido bem com olhares e até quando vejo um amigo cutucando outro e apontando para mim na rua. Mas a falta de respeito e os xingamentos incomodam demais. Quem somos nós para julgar as escolhas dos outros? Somos pessoas do bem, só não seguimos os padrões estéticos do sistema", desabafa.

O casal tem mais planos dentro do caminho da modificação corporal, dentre eles o alongamento de dedos, aprofundamento da bifurcação da língua e novos implantes pelo corpo. "Eu criei o Diabão e ele me criou. Juntos crescemos e nos modificamos. Somos criadores e obras-primas e acima de tudo somos felizes assim", finaliza.