"Mataram nosso bebê", diz tia de menino de 12 anos morto por bala perdida
Além do sentimento de tristeza, familiares de Leônidas Augusto da Silva Oliveira, 12, morto na noite de ontem, após ser atingido na cabeça por uma bala perdida, reclamam da demora no socorro ao menino. Eles dizem que o adolescente ficou cerca de 40 minutos no chão até que a Polícia Militar o levasse para o Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro.
No início da tarde de ontem, Leônidas seguia com a avó, Maria Alice da Silva, para um supermercado que fica às margens da avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade, quando começou o tiroteio. Uma mulher, de 32 anos, que não teve a identidade divulgada, também ficou ferida. A PM informou que as vítimas foram socorridas imediatamente após terminarem os disparos.
A família do menino esteve no Instituto Médico Legal, no Centro do Rio, pela manhã de hoje para reconhecer e liberar o corpo de Leônidas. A tia do adolescente, Leonice de Oliveira, questionou a demora do socorro e, muito emocionada, desabafou sobre a morte do sobrinho:
A polícia só ajudou depois que pessoas que estavam no local começaram a gritar que ele estava lá agonizando. A avó percebeu o que tinha acontecido e que ninguém parou para fazer o resgate. Ela começou a quebrar tudo na avenida Brasil, para tentar parar os carros. A avó dele estava próxima aos policiais e pediu para que fosse socorrido, os tiros já tinham parado e o Leônidas estava lá. Ela falou que foram uns 40 minutos para que houvesse um socorro. Mataram nosso filho, arrancaram nosso bebê, nosso companheiro, nosso amigo.
"Ele dizia que ia se tornar um advogado para tirar nossa família da comunidade, porque amava muito a gente. A gente não sabe nem como vai voltar para casa, tudo lembra ele", completou.
O primo do menino, Guilherme Lopes, falou que a avó do menino está inconsolável:
"A avó está se sentindo culpada de ter levado ele no mercado, está inconsolável em casa. Ele a considerava como uma mãe, e ela está a base de calmantes. A gente vê esse tipo de notícia na televisão, e não acredita que possa acontecer com a gente. Quantos vamos ter que enterrar? Hoje minha tia está desamparada, com sentimento de culpa por ter deixado ele acompanhá-la no mercado", desabafou Guilherme.
O enterro vai acontecer amanhã, no Cemitério de Inhaúma, às 14h.
Suporte à família
A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio informou que está prestando assistência a família do menino. Segundo a Alerj, uma representante da CDHC esteve no hospital, ontem a noite, para orientar a família em relação ao atendimento psicológico e jurídico.
O que diz a polícia
Diferentemente dos questionamentos feitos pela família, a Polícia Militar informou que os feridos foram levados imediatamente após os tiros terminarem. Confira a nota completa:
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, no início da tarde desta sexta-feira (09/10), policiais militares do 22ºBPM (Maré) na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, foram acionados pelo motorista de um carro informando que outros dois carros estavam o perseguindo na pista sentido Zona Oeste. Neste momento, os carros citados passaram onde a viatura estava parada e seus ocupantes fizeram disparos de arma de fogo. A equipe policial se abrigou e não reagiu ao ataque criminoso. Após cessarem os tiros, uma criança e uma pessoa adulta estavam feridas no local. As duas vítimas foram socorridas ao Hospital Federal de Bonsucesso. Ocorrência encaminhada para a 21ª DP. Ressaltamos que as vítimas foram socorridas imediatamente após cessarem os tiros. Posteriormente, equipes do 22ºBPM (Maré) localizaram um veículo abandonado na Av. Brasil com perfurações provocadas por disparos de arma de fogo. Possivelmente o carro teria participado da ação criminosa".
As investigações do caso está a cargo da 21ª DP (Bonsucesso) que apura a morte do menino. Segundo a Policial Civil, "diligências estão sendo realizadas em busca de imagens e informações que ajudem a identificar a autoria do crime".
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