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Preso é transferido para hospital do Rio, morre e família arca com despesas

Diego Caetano dos Santos morreu em 14 de julho - Acervo pessoal
Diego Caetano dos Santos morreu em 14 de julho Imagem: Acervo pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

30/10/2020 16h04

A família de Diego Caetano dos Santos, 29 anos, precisou desembolsar um pouco mais de R$ 3 mil com o translado do corpo dele, que morreu em julho. Diego cumpria pena no presídio de Campos dos Goytacazes (RJ) e morreu após ser transferido para um hospital penitenciário no Rio de Janeiro, a 5 horas de distância.

A irmã de Diego, que não terá o nome divulgado, conversou com o UOL e disse ainda que os parentes foram pressionados a providenciar a retirada do corpo da unidade.

"A gente nem sabia que ele tinha ido para o Rio. De repente, soubemos que ele morreu no hospital de lá e aí, de uma hora para outra, meu pai teve que desembolsar um dinheiro rápido, viajar para lá, fazer o reconhecimento e pagar pelo translado. Isso ficou em R$ 3 mil e pouco", contou.

Além de não ter sido informada sobre a transferência, a família do detento recebeu informações falsas sobre a morte dele. O presidiário morreu no dia 14 de julho, após viajar e esperar cerca de uma hora por atendimento no Pronto-Socorro Hamilton Agostinho, no Complexo de Gericinó, na zona oeste da cidade. No entanto, aos familiares foi passado que ele chegou morto na unidade na tarde do dia 15.

Foi pela imprensa que parentes de Diego souberam que a transferência dele ocorreu um dia antes do informado. Nas imagens divulgadas pela Rede Globo, o presidiário aparece chegando no hospital, às 14h, deixando o veículo, se locomovendo no local com dificuldades e sendo escorado em uma parede do hospital. Parecendo agonizar, o paciente chega a cair no chão e a ficar sozinho em um corredor da unidade de saúde. Diego foi atendido apenas uma hora após chegar no local e não resistiu.

Diego vivo Gericinó - Rede Globo/Reprodução - Rede Globo/Reprodução
Diego Caetano dos Santos chegou com vida ao Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, mas atestado alegava que detento já chegou morto ao local
Imagem: Rede Globo/Reprodução

No atestado de óbito entregue a família, consta que a causa da morte é indeterminada. A família disse que pretende processar o estado.

"As imagens são do dia 14, mas para a gente foi informado que ele morreu na tarde do dia 15. Até hoje não sabemos a causa da morte. Não entendemos ainda o porquê dele ter sido levado para o Rio, cidade que fica a cinco horas de Campos. Tem uma emergência grande na cidade. Ele poderia ser atendido no hospital de Campos. Fora a viagem, ele ainda demorou uma hora para ser atendido. A gente fica se perguntando se ele tivesse sido atendido mais rápido, se ele estaria vivo", disse a irmã de Diego.

Devido às informações falsas registradas no prontuário do detento, no último dia 20, o Tribunal de Justiça do Rio determinou o afastamento de dois diretores da unidade.

Diego relatava mal-estar à família

O detento, que estava há seis anos preso, cumpria pena por roubo à mão armada e tráfico de drogas no presídio do Norte Fluminense. Ele chegou a desenvolver tuberculose logo quando deu entrada no sistema penitenciário, em 2014, precisando ficar internado em um hospital da região.

Segundo a família, desde abril, Diego se queixava de dores no peito e falta de ar. De acordo com o depoimento dado ao UOL, o presidiário dizia que relatava o mal-estar, mas não era ouvido pelos agentes.

De acordo ainda com a irmã, Diego não pôde ser velado devido a possibilidade de ter contraído covid-19. Ventilou-se na ocasião a suspeita de novo quadro de tuberculose, mas nada foi confirmado.

"Meu sobrinho, filho do Diego, não pôde nem ver o pai nem se despedir dele. Ele já não via o pai dele há muito tempo e só pôde ver o caixão ir para debaixo da terra. Ele tá agitado. Não sabemos nem explicar o que causou a morte do pai dele", disse a familiar.

O filho de Diego está com nove anos, e tinha quatro anos quando o pai foi preso.

À irmã, Diego se mostrava arrependido pelo crime e demostrava preocupação com o filho.

"Ele estava disposto a mudar de vida. Parecia estar se sentindo sozinho na prisão. Falava que davam comida estragada. Meu pai não aceitava muito ele estar preso. Ele [Diego] dizia que queria ver o filho crescer e que ele ia mudar pelo filho para que ele pudesse ter uma figura paterna", relatou ela.

Acusações

Diego foi condenado, primeiramente, por roubo à mão armada. Nesta época, ele chegou a ser preso, mas posteriormente, a detenção foi substituída por medidas restritivas. Foi determinada a soltura dele, mas Diego deveria se apresentar mensalmente à Justiça, o que não ocorreu.

"Nesta época ele ficou trabalhando de carteira assinada em Macaé [cidade vizinha à Campos], e não compareceu para assinar os documentos, quando ele voltou, estava como foragido e acabou preso de novo", explicou a irmã.

A pena de Diego foi aumentada de seis para oito anos de prisão. O juiz levou em consideração outras anotações criminais do réu para determinar a preventiva, como o processo que respondia por tráfico de drogas.

O outro lado

Procurada para comentar o caso, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) informou que, inicialmente, o interno Diego Caetano dos Santos foi levado ao Hospital Ferreira Machado, em Campos dos Goytacazes, onde recebeu o primeiro atendimento. No local, o médico fez o encaminhamento para que o mesmo fosse levado ao Pronto Socorro Hamilton Agostinho, no Complexo de Gericinó, onde veio a falecer.

"É importante informar que a Seap tomou todas as medidas cabíveis para a apuração do caso do óbito do interno Diego Caetano dos Santos, ocorrido em 14/07. Conforme decisão judicial, o diretor e o subdiretor do Pronto Socorro Geral Hamilton Agostinho, também foram afastados do cargo", disse a pasta através de nota.

"Cabe lembrar que para todo óbito ocorrido dentro do sistema penitenciário, uma sindicância é instaurada. No caso, foi iniciada a sindicância para apurar as circunstâncias do óbito. No dia 10/09, a Seap foi oficiada pela Justiça sobre a denúncia de possíveis irregularidades no atendimento do interno e, por envolver servidores, a Corregedoria iniciou nova sindicância, que está em andamento", completou a pasta.