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OAB: mulher indiciada por ataques em padaria não tem registro de advogada

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

23/11/2020 17h28Atualizada em 23/11/2020 19h31

Apesar de se apresentar como "advogada internacional" em vídeo que viralizou no final de semana, Lidiane Brandão Biezok, de 45 anos, não tem qualquer registro válido de advogada na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Lidiane foi filmada durante um ataque homofóbico na última sexta-feira (20), em uma padaria de São Paulo. Nas imagens, ela aparece ofendendo clientes e funcionários do estabelecimento.

Procurada pelo UOL, a OAB-SP confirmou em nota que Lidiane "não consta no sistema de cadastro da entidade, tampouco do Cadastro Nacional de Advogados (CNA), mantido pelo Conselho Federal da OAB, que exerce a função de fiel repositório do cadastro de todos os advogados do Brasil".

Em sua versão, Lidiane afirmou sofrer de bipolaridade, e alegou que havia sido provocada antes por pessoas presentes ao local. O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) determinou hoje a prisão preventiva domiciliar. Ela foi indiciada pela Polícia Civil por injúria racial, lesão corporal e homofobia.

Entenda o caso

Em entrevista ao UOL, Lidiane disse que a confusão começou quando dois clientes foram filmá-la "apenas por provocação". Porém, novos vídeos divulgados pela padaria mostram que, antes disso, ela também havia tratado mal os funcionários. A coordenadora de marketing da Dona Deôla, Carolina Mirandez, disse que Lidiane era uma cliente que costumava criar problemas no local.

"É muito comum que ela venha aqui. Ela fica e consome, mas reclama da comida. Sempre foi grosseira, mas nunca teve um problema tão grande. Ela estava exaltada, reclamando da comida e destratando funcionários. Ela disse que, se a comida não estivesse boa, ia arremessar. O supervisor tentou acalmar. O atendente nosso percebeu que ela estava se exaltando contra o supervisor, que é um senhor, e pediu para ela falar baixo. Ela virou e falou 'sai, seu veado' e uma série de palavrões. Então os clientes se levantaram e começaram a filmar", contou Carolina.

No vídeo, é possível ver Lidiane agredindo um cliente e atirando objetos. Mas ela diz que, antes disso, Lidiane afirmou que também foi agredida.

"Eu estava pegando minha bolsa para ir embora e não queria fazer nada. Mas eles me agrediram. Antes de eu agredir, eles me agrediram, quando eu ainda estava sentada. Pegaram meu cabelo e disseram que era pixaim", alega a acusada. Mas Carolina nega que isso tenha acontecido: "Ela foi abordada por dois clientes, mas não teve agressão. Foi abordada, eles questionaram, disseram que ela não podia falar daquele jeito. Mas agressão não teve".

Lidiane afirmou que não suportou as supostas provocações porque tem um problema de saúde.

"Eu tenho bipolaridade. Chega uma hora que eu não aguento. Foi uma crise de bipolaridade. E ainda estou tendo crise. Minha mão não para de tremer. Eu sou inválida. Quando tem provocação, acabo perdendo a cabeça. Mas pedi desculpas. Falei coisas que não queria, que não sinto isso", afirmou Lidiane.

Depois, segundo Carolina, a mãe de Lidiane foi buscá-la e conseguiu sua liberação porque teria mostrado um atestado de transtorno mental. Agora, a acusada diz que tem sido ameaçada virtualmente.

"Toda minha família está sendo ameaçada. Todo mundo está apagando o Facebook porque estava recebendo ameaça de morte. Gente me chamando de vadia, de desgraçada, dizendo 'a gente vai acabar com você'. Sou uma pessoa de bem, sou uma pessoa boa. Mas sou alvo de uma campanha horrorosa", lamentou.

Processo contra a padaria

Lidiane mostrou irritação com a Padaria Dona Deôla. Ela disse que contratou um advogado para defendê-la e promete processar o estabelecimento.

"Vou processar a Dona Deôla, porque ninguém ficou do meu lado. E lá não tinha segurança. Se você passar lá, você vai ver o breu. E não me deixavam sair de lá enquanto não chegasse a polícia. Era cárcere privado", relatou a acusada.

A coordenadora de marketing da padaria negou que alguém tenha obrigado a cliente a ficar. E afirmou que ela saiu do local sem pagar.

"Ela quis sair sem pagar. O supervisor falou que não podia. Ela deu um escândalo. Então o supervisor disse que podia liberar a catraca. Ela saiu e quis atravessar a rua, mas estava alterada. Um funcionário falou para não atravessar e foi com ela. Ela atravessou e ficou parada. O funcionário ficou junto com ela, para ela não ficar transitando e se acidentar. Quando a polícia chegou, ela quis voltar e atravessou de volta. Tudo isso é mostrado nas câmeras de segurança", contou Carolina.

Vítima pede luta antirracista

Uma das pessoas agredidas no caso, que se chama Kelton, foi ao Instagram falar do momento e falou do trauma causado pelo episódio.

"Estamos processando várias coisas ainda, quando conseguirmos organizar todo esse trauma, vamos responder a todos. É muito difícil ficar revisitando essas coisas, mas tenho provas e tenho como rebater elas. Mas não queria que isso acontecesse com nenhum de nós. Peço e exijo que se estamos falando de um lugar mais saudável, temos que falar de um lugar antirracista, não um lugar menos racista", afirmou Kelton.