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Manifestantes fazem protesto antes de início da audiência do 'caso Miguel'

Manifestantes pediram reflexão e justiça; Miguel morreu em junho, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo - Diogo Cavalcante
Manifestantes pediram reflexão e justiça; Miguel morreu em junho, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo Imagem: Diogo Cavalcante

Diogo Cavalcante*

Colaboração para o UOL, em Recife

03/12/2020 09h44Atualizada em 03/12/2020 17h13

Parentes do menino Miguel Otávio, junto a manifestantes, estão na frente do Centro Integrado da Criança e do Adolescente (Cica), na Boa Vista, área central do Recife, onde começou hoje, por volta de 9h30, a primeira audiência de instrução da morte do menino. Miguel morreu em 2 de junho, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo, quando estava sob os cuidados de Sarí Côrte Real, empregadora de sua mãe, a doméstica Mirtes Renata.

O TJ-PE (Tribunal de Justiça de Pernambuco) optou por não revelar quais serão as testemunhas - de acusação e defesa - que deverão ser ouvidas nesta primeira audiência. O órgão só informou que foram arroladas nove testemunhas de acusação e oito de defesa. Entre elas, já se sabe que uma é a manicure que estava fazendo as unhas de Sarí quando Miguel morreu.

Quatro das testemunhas de defesa irão depor por carta precatória. O procedimento será conduzido pelo juiz titular da 1ª Vara de Crimes Contra a Criança e o Adolescente da Capital, José Renato Bizerra.

Ao UOL, o advogado Rodrigo Almendra informou na manhã de hoje que a audiência "será bem longa" devido à quantidade de testemunhas arroladas e ao volume da peça processual, que tem quase mil páginas.

A expectativa é que Sarí Côrte Real seja ouvida ainda nesta quinta-feira. Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel, já entrou dentro do Cica e irá acompanhar toda a audiência. Ela irá falar com a imprensa após a audiência. O pai da criança, Paulo Inocêncio, também está presente, mas se encontra abalado e não quis comentar o assunto por enquanto.

A tia-avó de Miguel, Sandra Maria de Santana, clama pela condenação de Sarí. "Foi abandono de incapaz. Ela teve tudo nas mãos para reverter essa situação e não fez. Porque qualquer pessoa teria feito o contrário do que ela fez. Quero que ela seja condenada pelo que fez".

Na frente do local, manifestantes seguiram faixas com palavras de ordem, como "Vidas Negras Importam" e "Em defesa da vida das crianças negras".

"A gente vai até o fim com vocês. Independentemente de quantas ações sejam necessárias, estaremos com vocês. E convidamos todo mundo a fazer uma reflexão, de gestos, pensamos e atitudes racistas no dia a dia", discursou a ativista Yasmin Alves, da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), uma das instituições que organizam o ato.

Uma equipe do 16º Batalhão da Polícia Militar (PM) também está presente, para acompanhar a movimentação.

Caso Miguel

Sarí Côrte Real foi denunciada pelo MP-PE (Ministério Público de Pernambuco) por abandono de incapaz com resultado morte do menino Miguel, agravado por ser crime contra criança e ocorrido no meio de uma crise sanitária. Segundo a denúncia, aceita pelo TJ-PE, a criança estava sob a tutela provisória de Sarí, pois sua mãe, Mirtes, estava passeando com a cadela da patroa.

Miguel estava em busca da mãe, quando saiu do apartamento de Sarí e ficou correndo entre os elevadores do prédio. Em dado momento, a primeira-dama de Tamandaré deixa a criança sozinha no elevador. Segundo a perícia policial, Miguel saiu do 5º para o 9º andar e, de lá, escalou uma janela e caiu. O inquérito policial foi finalizado em 1º de julho.

Ontem, Mirtes afirmou ao UOL que estava ansiosa com a audiência e que a dor do luto pela perda do filho tem lhe dado força para pedir por Justiça.

"Esse caso não vai ficar impune porque eu sou Mirtes, a mãe de Miguel. Vou lutar até o fim pela Justiça", disse ela.

*Colaborou Aliny Gama, em Maceió