Topo

Esse conteúdo é antigo

Gêmeas siamesas são separadas em hospital de SP; pai celebra 'página feliz'

Vanderson Maia, de 32 anos, e Jacqueline Camer, de 29, viajaram de RO a SP para cirurgia das filhas - Acervo pessoal
Vanderson Maia, de 32 anos, e Jacqueline Camer, de 29, viajaram de RO a SP para cirurgia das filhas Imagem: Acervo pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

10/12/2020 19h41

Após oito horas de cirurgia, as pequenas gêmeas siamesas Eloá e Sara, de apenas dois meses, sobreviveram a uma cirurgia de separação ocorrida ontem no Hospital de Clínicas, em São Paulo.

O sentimento de apreensão deu lugar ao de alívio aos pais, Vanderson Maia, de 32 anos, e Jacqueline Camer, de 29. Eles saíram de Alvorada do Oeste (RO) em agosto, em busca do procedimento para as filhas, e vivem a felicidade de superarem mais um desafio.

De acordo com Vanderson, as meninas estão bem, mas sem previsão de alta. As gêmeas compartilhavam parte do fígado e de uma mesma veia próxima ao coração. Elas estavam unidas através da região torácica e da barriga. A condição deixou a família apreensiva sobre os riscos de morte resultantes do procedimento de separação.

"Sabíamos que seria uma cirurgia difícil, mas ocorreu tudo bem, graças a Deus. Tinha o grande risco de a equipe médica perder uma delas, ou até as duas, pelo grau de complexidade. A frequência cardíaca de ambas era a mesma, e havia o risco de ocorrer a queda e não retornar mais. No livro dessa guerra, escrevemos uma página feliz. Vencemos uma batalha", comemorou o pai em contato com o UOL.

Os médicos informaram à família que Eloá ainda passará por mais uma cirurgia porque é cardiopata. A intervenção ainda não tem uma data exata para acontecer. Ambas permanecem sedadas na UTI do Hospital das Clínicas. A reportagem entrou em contato com a unidade para ouvir a equipe, mas ainda não obteve retorno.

Com exceção da veia e do fígado, as gêmeas não compartilhavam de demais órgãos. Os sistemas urinário e digestório — que eram vistos com preocupação pela família e médicos — apresentavam normalidade na manhã de hoje, segundo o pai.

"Ainda é cedo para falar da recuperação delas. Fomos ao hospital e vimos que continuam sedadas. Sabemos que Eloá fará outra cirurgia de correção no coração. Em relação aos outros órgãos, cada uma tem os seus, mas as duas terão que fazer cirurgias plásticas de correção na região", informou.

Família cria vaquinha virtual

A cidade de Vanderson e Jacqueline fica a 435 km de Porto Velho. Eles chegaram em 23 de agosto a São Paulo, exatamente um mês antes de as gêmeas nascerem.

"Desde a primeira ultrassom sabíamos que eram siamesas. Foi um baque, mas Deus nos deu força para seguir com este plano em nossas vidas. Além disso, um feto era menor que o outro e os médicos não acreditavam muito no avanço da gravidez até a segunda ultrassom. Na terceira foi que nós soubemos tudo certinho, que cada uma tinha seus próprios órgãos", lembra Vanderson.

As gêmeas vieram ao mundo com 35 semanas de gestação, com cada uma pesando 2,1 kg. Desde o nascimento, segundo o pai, as filhas permanecem internadas no Hospital das Clínicas, com visitas diárias dos pais.

A família decidiu atravessar o país em busca de um centro especializado na separação após indicação de uma médica de Ji-Paraná (RO), que acompanhava a gestação de Jacqueline. Vanderson é técnico em informática e Jacqueline trabalha como operadora de caixa. Eles ainda têm um filho de 9 anos, que ficou com parentes em Rondônia. O casal está junto desde 2006.

Para ajudar nas despesas em São Paulo e Rondônia, e futuramente na recuperação das gêmeas, uma vaquinha busca arrecadar recursos. Vanderson e Jacqueline estão desde ontem em uma casa de apoio na capital paulistana depois de passarem meses morando com amigos, em Carapicuíba, na região metropolitana da capital paulista.

"Para nós que somos do interior de Rondônia, tudo para gente aqui é mais caro. Temos gastos aqui e com os da nossa vida do dia a dia onde vivemos, pois as nossas contas ainda chegam lá. Também pensamos no futuro delas, pois precisaremos fazer o acompanhamento vindo a São Paulo depois da alta", conclui o pai.