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Moradora de Caxias perde mãe e mais 4 parentes para a covid-19 em 2 meses

Thamires com a mãe, a professora Rosalita Netto, de 60 anos - Arquivo Pessoal
Thamires com a mãe, a professora Rosalita Netto, de 60 anos Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

15/12/2020 12h24

Em menos de dois meses, a assistente social Thamires da Silva Netto, de 29 anos, perdeu 5 familiares vítimas da covid-19: mãe, irmã e três tios. No começo do ano, Thamires também já havia se despedido da avó que não teve diagnóstico de coronavírus confirmado, mas houve suspeita de infecção pela doença. Derly de Paula faleceu em decorrência de insuficiência respiratória.

Muito emocionada, a assistente social conversou com o UOL na manhã de hoje e relatou o drama de um a um da família, além das dificuldades enfrentadas para conseguir vaga na rede particular de saúde.

"Outubro chegou e com ele uma grande desgraça. Primeiro foi minha tia que acabou contaminada. Ela foi internada e logo em seguida foi o esposo dela. Eles chegaram a dividir o mesmo quarto no hospital. Ele teve alta, mas acabou voltando no dia seguinte até que minha tia apresentou complicações e faleceu. Meu tio parou de receber notícias dela, teve piora no quadro de saúde e foi entubado, passou por diversos procedimentos, mas não resistiu", contou Thamires.

Rosangela Maria, de 62 anos, e Milton Bastos, de 66, morreram em um intervalo de 10 dias no hospital municipal São José, em Duque de Caxias.

Após o enterro do casal, a mãe de Thamires, a professora Rosalita Netto, de 60 anos, começou a sentir os primeiros sintomas da doença.

"Minha mãe estava destruída por ter perdido a irmã. Acho que acabou se contaminando nesse processo de cemitério e enterro. Logo depois, minha prima, filha dos meus tios, minha mãe e meu pai começaram a apresentar os sintomas [de covid-19]. Chegaram a fazer uma quarentena e exames de PCR, mas o resultado deu negativo".

Com o resultado do exame em mãos, a família optou por se encontrar. Posteriormente, Thamires e o filho também acabaram contraindo a doença.

"Minha mãe era tudo para mim. Ela começou a ficar muito cansada. Entramos com medicamento rápido, mas a saturação desceu e fomos para o hospital, mas ela não resistiu", relatou a assistente social.

Rosalita morreu no dia 27 de novembro.

Falta de vagas na rede de saúde

Thamires contou que devido ao quadro de saúde da mãe, a família buscou atendimento em três hospitais, inclusive na capital. Mesmo com plano de saúde, Rosalita acabou dando entrada em uma unidade da rede pública - o mesmo onde a irmã e o cunhado haviam falecido.

"Isso mexeu demais com o emocional dela. No dia seguinte [à internação], ela pediu para ser levada para outro hospital. Mesmo com plano, demoramos três dias para conseguir uma vaga. Conseguimos uma liminar [na Justiça] e a transferimos para outro hospital. Ela estava estável, mas no dia seguinte piorou, foi entubada e depois faleceu".

Vaga em hospital a 32 km de distância

Três dias depois de Rosalita falecer, o pai da assistente social, Jorge Netto, também deu entrada no hospital com os sintomas de covid-19. A família só conseguiu vaga para ele em um hospital em Niterói - cidade a 32 km de distância de Caxias, onde a família mora.

"Ele ficou três dias na enfermaria aguardando uma vaga. Até que conseguimos um quarto para ele. Todo o processo é bem difícil e ainda tivemos que lidar com o colapso da saúde até mesmo da rede particular".

Jorge Netto teve alta do hospital e segue se recuperando em casa.

No entanto, a família ainda precisou internar a irmã de Thamires, Tatiane Netto, de 34 anos, que apresentou febre alta e precisou ser entubada.

Tatiane morreu no dia 6 de dezembro - após cinco dias internada em um hospital em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro.

"Em nenhum momento passou pela minha cabeça que a minha irmã não iria aguentar. Ela falou com a gente por chamada de vídeo e disse que em pouco tempo estaria de novo com a gente", relembra Thamires.

A irmã e a mãe da assistente social tinham sobrepeso - um agravante para a doença.

No domingo (13), dia do sepultamento de Tatiane Netto, o tio de Thamires também não resistiu às complicações da doença. O tio paterno, José Paulo Netto, foi mais um integrante da família a morrer em decorrência da doença. O sepultado dele ocorreu na tarde de ontem.

"É muito difícil ter que falar sobre tudo isso, mas acho necessário. Tem muita gente aí ignorando a pandemia", completou a assistente social em uma mensagem de alerta aos moradores do Rio de Janeiro.

Segundo informações da Secretaria de Saúde, 23.722 pessoas já perderam a vida em decorrência da doença no estado.