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Dirigente de sindicato em SP é suspeito de liderar rede de propinas, diz TV

Francisco Xavier da Silva Filho (à esquerda), é secretário-geral do SindMotoristas e suspeito de liderar um esquema de propinas na entidade - Reprodução/TV Globo
Francisco Xavier da Silva Filho (à esquerda), é secretário-geral do SindMotoristas e suspeito de liderar um esquema de propinas na entidade Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

28/12/2020 09h59

O secretário-geral do SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo), Francisco Xavier da Silva Filho, é suspeito de liderar um esquema de propinas em um dos maiores sindicatos do país, que representa cerca de 50 mil profissionais. Segundo reportagem da TV Globo, a investigação da Polícia Civil paulista sobre o caso aponta que o esquema distribuía mais de R$ 1 milhão por mês para dirigentes do SindMotoristas.

A investigação teve início com uma apreensão de dinheiro vivo no carro de Francisco no início do ano. Segundo o delegado Fernando Santiago, cerca de R$ 94 mil foram encontrados no veículo. Além disso, a análise do celular de Francisco, também apreendido na ação, indicou a rede de propinas dentro do SindMotoristas, com a identificação de uma planilha detalhando pagamentos de até R$ 280 mil para outros 16 dirigentes da entidade.

De acordo com a planilha, o dirigente que recebia a maior quantia mensal é o presidente em exercício da entidade, Valmir Santana, conhecido como Sorriso.

"O aparelho celular dele [Francisco] revelou várias transferências bancárias com pessoas do sindicato, em valores altíssimos", disse Santiago, explicando ainda que as propinas garantiriam uma relação "amistosa" entre o sindicato e as empresas de ônibus da capital paulista.

"Esse dinheiro seria pago para manter os dirigentes do sindicato em uma condição amistosa com as empresas de ônibus, evitando assim que greves fossem deflagradas. Fazia com que os dirigentes deixassem de atuar na defesa dos trabalhadores sindicalizados", afirmou o delegado.

De acordo com a reportagem exibida pelo "Fantástico", Francisco é conhecido "Chico Propina" no meio sindical.

"Apelido esse dado a ele em virtude dessa fama que ele tinha de pegar propina com empresários do ramo de transporte urbano", explicou Santiago.

A polícia constatou um patrimônio de Francisco que impressionou os investigadores. Segundo o delegado, o dirigente do SindMotoristas possui dois apartamentos no litoral, um apartamento de alto padrão em bairro nobre da capital e mais uma casa em construção em Atibaia (SP), avaliada em cerca de R$ 2 milhões.

No início de dezembro, a Polícia Civil deflagrou um conjunto de ações para investigar o suposto esquema, que incluiria os crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa, peculato, usura e falsidade ideológica. A Operação Fim da Linha cumpriu 31 mandados de busca e apreensão em seis cidades paulistas, incluindo a capital, onde os policiais estiveram na sede do SindMotoristas, que fica na região central de São Paulo.

Elo político

A investigação mostrou que o esquema pode ter ligação com a atuação política do deputado federal Valdevan Noventa (PL-SE), eleito em 2018 e que é presidente licenciado do sindicato. Valdevan chegou a ser preso antes de assumir o mandato por irregularidades na prestação de contas da sua campanha.

"Havia várias doações, pessoas pobres que aparentemente não tinham renda para fazer a doação", afirmou o procurador regional eleitoral de Sergipe, Heitor Alves Soares, acrescentando que muitas das doações de campanha vieram de São Paulo, onde o deputado residia há 30 anos antes de ser eleito pelo eleitorado sergipano.

"Havia repasse de recursos de pessoas que estavam situadas no estado de São Paulo, algumas eram pessoas jurídicas que passaram dinheiro através de terceiros para a campanha do candidato", disse Soares. "Era um forasteiro, uma pessoa que não tinha laços ou vínculos efetivos com o estado de Sergipe", completou o procurador.

Para o delegado que conduz as investigações sobre a suposta rede de propina, a influência política representada pelo deputado alimentava a confiança de que o esquema não seria descoberto.

"Por eles conhecerem pessoas influentes, eles talvez acreditassem que nunca seriam presos", disse Santiago.

Após ser preso no final de 2018, Valdevan assumiu o cargo na Câmara dos Deputados e chegou a ter o seu mandato cassado, mas segue exercendo suas funções no legislativo até que seja julgado o último recurso pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Camarão

De acordo com a reportagem da TV Globo, um áudio recebido por Francisco pouco antes de ter a grande quantidade em dinheiro vivo apreendida em seu carro, no início do ano, indica que o secretário-geral do SindMotoristas tratava as propinas como "camarão" para não levantar suspeitas.

"Bom dia, meu diretor, tá por onde? Já voltou da Bahia? Pegar seus camarão aqui (sic)", afirma o áudio recebido por Francisco em seu celular 1h30 antes de ter os R$ 94 mil apreendidos. Segundo a polícia, "camarão" seria um codinome para propina.

Defesa

Em nota publicada pelo SindMotoristas, o secretário-geral da entidade se defende e afirma, por meio de sua assessoria, que a mensagem em questão tratava de "camarões frescos" que um amigo de Francisco tinha lhe trazido após voltar de viagem, e "que nada tem a ver com propina, conforme interpretado e divulgado pela polícia".

A nota também afirma que a polícia ainda não realizou perícia no áudio e que o amigo que enviou a mensagem para Francisco é um cobrador de ônibus, e não empresário, como mostrou a reportagem.

O secretário-geral do sindicato negou as acusações e se coloca à disposição das autoridades, assim como o próprio SindMotoristas, que também se defendeu na nota das suspeitas apontadas pela investigação.

A entidade afirma que "tratam-se de apontamentos de eventuais indícios de um inquérito ainda em curso, que nem mesmo os investigados e seus advogados tiveram acesso". Segundo a nota, "a diretoria do sindicato desconhece qualquer envolvimento e destino de recursos financeiros da entidade para fins políticos".

O SindMotoristas ainda afirmou que a investigação sobre o suposto esquema de propinas "nada tem a ver" com o processo eleitoral ao qual Valdevan recorre contra no TSE.