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Família descobre idosa viva após enterrar corpo entregue por hospital na PB

Maria França de Andrade foi internada em 24 de dezembro e recebeu alta dia 4 de janeiro; no dia 29, porém, família foi informada de morte - Acervo pessoal
Maria França de Andrade foi internada em 24 de dezembro e recebeu alta dia 4 de janeiro; no dia 29, porém, família foi informada de morte Imagem: Acervo pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/01/2021 20h41

A família da aposentada Maria França de Andrade, 76, tomou um susto ao ser informada que ela estava viva, um dia após enterrar o corpo de uma mulher como sendo o dela, identificado e entregue errado pelo HRWL (Hospital Regional Wenceslau Lopes), em Piancó (PB), onde ela estava internada se tratando de covid-19.

O caso ocorreu no dia 29 de dezembro. A idosa recebeu alta médica na última segunda-feira (4) e se recupera em casa, no sítio Mufumbau, localizado na zona rural de Santa Cruz (PB), no sertão do estado.

O neto dela, Vigilio Cândido da Silva, informou que a família já constituiu advogado para ingressar com ação judicial contra o Governo da Paraíba pelo transtorno causado pelo hospital aos familiares. Silva contou que foi buscar o suposto corpo da avó no necrotério do hospital e que ele estava envolto de um plástico preto, lacrado e com o nome dela colado com uma fita adesiva.

"Devido ao protocolo seguido pelo hospital, não pude ver o rosto do corpo que identificaram como sendo o da minha avó. Já recebemos um saco, lacrado, mas o nome dela estava em cima identificado. Enterramos o corpo ainda na madrugada, seguindo a orientação que não podia ter velório por conta da covid-19. Quando disseram que minha avó estava viva, eu fiquei assustado porque só vi essas coisas na novela. Não é fácil passar por isso", relata o neto de dona Maria.

No dia seguinte ao enterro, um filho de dona Maria recebeu a visita de uma equipe do HRWL em casa para informar que ela estava viva e estava bem, recuperando-se da doença, que tinha saído da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e estava em um leito de enfermaria.

"Meu tio ficou tão nervoso, pediu para falarem comigo, pois ele estava sem condições emocionais. As assistentes sociais enviaram uma foto da minha avó no hospital para a gente ter certeza que era ela, e ficamos muito felizes por ela estar viva. A equipe disse que houve um erro de identificação, e Maria de França Andrade estava viva — a outra Maria, que não sei o nome completo, era quem tinha morrido. Não tem justificativa essa troca de nomes, pois enquanto disseram que minha avó estava morta, ela nem estava mais na UTI, estava em um leito de enfermaria, e a gente recebeu a pior notícia", disse Silva.

Os familiares de dona Maria não puderam visitá-la no período em que a idosa ficou internada devido aos protocolos sanitários para pacientes com covid-19. Desta forma, eles tinham acesso às notícias sobre ela por meio de boletins médicos divulgados sempre às 15h, diariamente.

"Achei estranho quando informaram que ela teria morrido, pois à tarde tínhamos recebido o boletim informando que ela estava evoluindo bem. De repente, veio a notícia da morte à noite e, do mesmo jeito, da troca do nome e entrega do corpo errado no dia seguinte", contou Silva.

A idosa foi internada na noite do dia 24 de dezembro no hospital regional de Sousa (PB), a 50km de Santa Cruz (PB), com falta de ar, tosse e os pulmões comprometidos. Em seguida, saiu o resultado do teste e deu positivo para o novo coronavírus. Devido ao estado de saúde dela, que necessitava de um leito de UTI, a idosa foi transferida para o hospital regional de Piancó, onde ficou internada por dez dias.

Na última segunda-feira, ao serem informados da alta de dona Maria, a família se preparou para recebê-la na porta do hospital. Os familiares contaram que o encontro foi emocionante. A idosa, que tem Alzheimer, ainda tem falta de ar e não consegue andar depois que voltou para casa. Familiares providenciaram uma cama hospitalar, com colchão especial e um balão de oxigênio para ajudar na recuperação dela em casa.

O corpo da pessoa que foi enterrado no jazigo da família de dona Maria foi exumado na semana passada e levado para ser entregue à família verdadeira. O nome da paciente que morreu não foi divulgado e nem a cidade em que a família mora.

A família não chegou a informar a morte dela no cartório para obter o atestado de óbito, pois em Santa Cruz não há cartório e o documento só poderia ser expedido em outra cidade. Os parentes disseram que "por pouco o transtorno não foi maior, pois ela poderia ter perdido a aposentadoria e até que se resolvesse ia ser difícil", disse o neto.

De acordo com dados epidemiológicos, a Paraíba tem 170.611 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus e 3.773 mortes em decorrência da covid-19. Em Santa Cruz, 111 pessoas foram infectadas pelo vírus e duas morreram. A ocupação de leitos está com a média de 50% em todo o estado, sendo 57% de UTI para adultos em João Pessoa e 52% no Sertão do estado.

Em nota, o HRWL afirmou que, após verificado o equívoco da troca dos nomes das pacientes, uma equipe técnica foi até Santa Cruz para comunicar o fato pessoalmente à família. Em menos de 24h, conseguiu exumar o corpo enterrado no jazigo da família errada para ser entregue a outra família.

"Antes mesmo de realizar qualquer julgamento de conduta profissional, o hospital se prontificou de maneira imediata a buscar o judiciário para reparação do fato, e em menos de 24 horas do ocorrido conseguiu um alvará judicial de autorização para exumação do corpo, devolvendo-o aos familiares, sendo observados os protocolos de segurança sanitária em tempo de pandemia, e que restou assegurado os direitos de personalidade e sigilo do falecido", informou o texto.

O hospital informou ainda que adotará "novos protocolos a fim de evitar que novos equívocos se repitam". "Por fim, o HRWL lamenta o ocorrido e se dispõe a auxiliar as famílias no que for necessário. O caso gerou repercussão em todo estado", finalizou a nota.