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Brumadinho, 2 anos: famílias de vítimas protestam e esperam fim da angústia

Vítimas de Brumadinho são homenageadas dois anos após a tragédia - Washington Alves/Reuters
Vítimas de Brumadinho são homenageadas dois anos após a tragédia Imagem: Washington Alves/Reuters

Bruno Torquato

Colaboração para o UOL, em Brumadinho (MG)

25/01/2021 21h01

Angústia e dor de ainda não ter conseguido sepultar seu irmão. Assim vive Angelica Maria de Souza, irmã de Renato Eustáquio de Souza, desde 25 de janeiro de 2019, quando houve o rompimento da barragem em Brumadinho (MG) e matou 270 pessoas. Onze vítimas ainda estão desaparecidas, e Renato está entre elas.

Hoje, a tragédia completou dois anos, e Angelica participou das celebrações em homenagem aos mortos em Brumadinho. Foram realizados eventos na cidade palco da tragédia, mas também em outros municípios como Betim e Belo Horizonte.

Em Brumadinho, familiares discursaram e colocaram flores em cruzes brancas expostas no chão, com o nome de cada vítima. Angelica e os parentes dos outros dez desaparecidos foram os primeiros, seguidos pelas famílias das outras 259 vítimas. Um helicóptero sobrevoou o local e jogou pétalas de rosas sobre as cruzes.

"É uma angústia que já tem dois anos. Não só minha, mas de toda a família. A esperança existe para que possamos encerrar um ciclo que não se fechou", disse Angelica ao UOL. Ela conta que é muito difícil explicar o que toda a família passa, mas diz que é "um sentimento de falta".

Ela também ressaltou ainda que não foi procurada pela Vale durante todo este período. Renato trabalhou por nove anos na empresa.

Alexandra Gonçalves, que também perdeu parentes na tragédia, foi ao palco do evento para ler uma carta dos familiares, que destacou a atuação do Corpo dos Bombeiros. "Tenho ciência que os esforços empregados foram do tamanho da tragédia-crime que se abateu em nosso estado de Minas Gerais. Esperamos ainda que a justiça seja feita. Nenhum lucro vale uma vida", disse.

Familiares prestaram continência aos bombeiros como uma forma de reverenciar o trabalho feito pelos profissionais há dois anos. O trabalho só chegou a ser interrompido entre março e agosto de 2020 por causa da pandemia do novo coronavírus.

"Estamos vivenciando e fazendo parte da história da maior operação de busca e resgate já empregadas no mundo. O lema de vocês é nosso: não desistiremos até que todas as joias (forma como são chamados os 11 desaparecidos) sejam encontradas", explicou Jojo Resende, representante da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão.

Zema diz que é direito dos familiares encontrarem seus parentes

Em pronunciamento durante o evento, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), disse que se trata de um direito os familiares encontrarem os corpos de seus parentes que morreram na tragédia. "Fica o compromisso nosso de continuarmos as buscas. É um direito de eles terem seus entes de volta", disse Zema.

Comandante dos Bombeiros na operação Brumadinho, o coronel Alexandre Gomes Rodrigues explicou que o trabalho realizado é um sucesso. "Avalio que conseguimos um êxito muito grande. Se você colocar 270 vítimas nessa quantidade de rejeito que saiu da barragem, conseguimos uma taxa de 96%. É um sucesso nas histórias das atividades de busca e salvamento", avaliou.

De acordo com ele, a maior adversidade vem sendo localizar os 11 desaparecidos. "Hoje as dificuldades é que encontramos apenas segmentos e há mais de um ano são reidentificação. Estamos esse tempo sem nova identificação", lamentou.

Asfalto com frase de protesto

Duas missas foram realizadas em memória às vítimas na manhã de hoje. Uma em Brumadinho, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Vicente Ferreira, e outra a 25 km de distância, em Betim, na Igreja São Francisco de Assis, no bairro Angola. Ela foi presidida pelo padre Renê Lopes, que era pároco em Brumadinho à época do acidente.

Ao longo da estrada que leva ao Córrego do Feijão, moradores escreveram sob o asfalto frases pintadas como "Vale assassina" e pedindo por justiça.

Vale alega priorizar famílias

Em nota, a Vale informou que prioriza o cuidado com as famílias das vítimas, mesmo sem ainda ter chegado a um acordo para reparar os familiares.

"Desde as primeiras horas após a ruptura, dois anos atrás, a empresa tem cuidado das famílias impactadas, prestando assistência para restaurar sua dignidade, bem-estar e meios de subsistência. Além de atender às necessidades mais imediatas das pessoas e regiões afetadas, já atua também na entrega de projetos que promovam mudanças duradouras para recuperar as comunidades e beneficiar a população de forma eficaz. Reparar os danos causados de maneira justa e ágil é fundamental, e a Vale tem priorizado iniciativas e recursos para este fim", explicou a empresa.