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Suspeito de matar 19 pessoas atropeladas é preso 36 anos após crime no RN

Homem identificado como Aluízio Farias Batista estava em situação de rua e sem documentos quando foi localizado - Via Certa Natal/Reprodução
Homem identificado como Aluízio Farias Batista estava em situação de rua e sem documentos quando foi localizado Imagem: Via Certa Natal/Reprodução

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, no Recife

26/01/2021 19h23

Um homem foi preso na tarde de hoje em Natal, após investigação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Ele é suspeito de ser o motorista que, na madrugada do dia 25 de fevereiro de 1984, atropelou e matou 19 pessoas, além de ferir gravemente outras 12, ao invadir propositalmente com um ônibus o trajeto de um bloco de Carnaval, que estava passando pela subida da avenida Rio Branco, abaixo do viaduto do Baldo, na zona Leste da capital potiguar. O caso ficou conhecido como "Tragédia do Baldo".

Segundo a PM, Aluízio Farias Batista, 63, estava em situação de rua quando foi localizado. O homem foi condenado a 21 anos de prisão pelos 19 homicídios, em julgamento à revelia no ano de 2009. O mandado de prisão expedido contra ele prescreverá em 2029. O motorista estava foragido desde o dia do atropelamento no Baldo.

O caso se tornou emblemático no Rio Grande do Norte devido à perversidade do autor do crime. Na época, ele afirmou ter ficado com raiva porque iria trabalhar uma viagem a mais no turno, após determinação da empresa de ônibus que ele teria de transportar membros de uma escola de samba do bairro do Alecrim para o bairro das Rocas.

Chateado com o trabalho extra, o motorista, segundo os autos do processo, saiu em alta velocidade, sem respeitar os semáforos, e acabou batendo em um Fusca que estava estacionado, no trecho abaixo do viaduto do Baldo. Após a colisão, o ônibus invadiu o lado contrário da avenida e atropelou os foliões do bloco Puxa-Saco.

O bloco era acompanhado por cerca de 5 mil pessoas quando foi surpreendido pelo ônibus. O atropelamento matou 19 pessoas e deixou 12 gravemente feridas, além de dezenas de feridos leves. Dentre as vítimas estavam músicos militares e foliões acompanhantes.

"As mortes foram intencionais. Na época, o motorista disse que estava muito chateado porque tinha dirigido fazia muito tempo e botou por cima mesmo do pessoal. Foram vários homicídios dolosos e por cada desses homicídios ele tem uma pena, mas o somatório delas que ele pode cumprir são 30 anos", disse o delegado Frank Albuquerque, plantonista da delegacia de plantão da zona sul de Natal, para onde o preso foi encaminhado pela PM.

Aluizio Farias Batista abandonou o ônibus e fugiu. Depois, chegou a prestar depoimento à polícia, mas fugiu novamente e não foi mais encontrado. Ao ser preso hoje, o motorista de ônibus disse que morou no Recife até o ano de 2012 e depois voltou para Natal. Ele foi levado pelos policiais do Bope para a central de flagrantes da zona sul de Natal. Como o preso está sem documentos, ele foi levado para ser identificado no Itep (Instituto Técnico Científico de Perícia), na Ribeira.

"O que vocês acham de uma pessoa passar 36 anos foragida, com mandado de prisão em aberto, por ser responsável de atropelamento que culminou com a morte de 15, 16 pessoas? Pois bem: fizemos a prisão desse elemento. O Batalhão de Operações Especiais, através de investigação feita pelo próprio batalhão, conseguiu localizar o meliante e ele está preso. Essa informação é muito interessante pelo tempo que esse cidadão ficou sem responder pelos crimes que cometeu", disse o tenente-coronel Eduardo Franco, porta-voz da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.

Em entrevista ao site Via Certa Natal, o preso negou que seja o motorista de ônibus que causou a tragédia do Baldo, mas confirmou o nome que consta no mandado de prisão.

"Meu pai disse que eu devo responder tudo que me perguntam, mas quem responde é a minha mentora, madre Teresa de Calcutá. Eu estive aqui na década de 2000. Cheguei em 2012, esse tempo todo vivi em Recife. Não assumo que matei, não sou assassino e nem sei dirigir. Minha irmã, madre Teresa, quem dirige", disse o homem, demonstrando estar com problemas mentais.

O delegado Albuquerque disse que o preso se negou a informar o nome, mas que na entrevista à imprensa ele acabou confirmando que se trata de Aluizio Farias Batista.

"Quando chegou aqui ele negou que se chamava Aluizio, não quis dizer o nome da mãe dele, nem o dele. Mas graças à imprensa ele confessou que o nome dele é realmente Aluizio. Ele voltou achando que ia escapar da sentença, de ser preso, mas ele foi condenado há pouco tempo, e agora graças ao serviço de inteligência do Bope ele foi preso", contou.

Albuquerque explicou que para dar cumprimento ao mandado de prisão expedido contra Aluizio Farias Batista a identificação do preso precisa ser confirmada, pois o homem não está com documentos.

"Ele está sem documentos e para dar cumprimento ao mandado de prisão ele vai ser submetido à identificação criminal no Itep. Sendo confirmada a identidade, ele vai ser encaminhado para o sistema prisional."

Questionado sobre o estado de saúde do preso, o delegado afirmou que apenas com uma perícia poderá ser atestado que o homem sofre de transtornos mentais. Desta forma, ele vai ser encaminhado para uma unidade do sistema prisional tão logo que a identidade dele seja oficializada pelos peritos do Itep-RN.

"Muita gente quando é presa dá uma de doida. Quanto está solta, está em perfeito estado de saúde física e mental. Mesmo assim, na época do crime ele estava bem de saúde, consciente, sabia o que estava fazendo. Se ele está ruim das faculdades mentais, a perícia tem de comprovar para o juiz decidir se ele vai ser internado no manicômio", explicou o delegado.