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Sumiço de 3 meninos no RJ completa 1 mês sem pistas: 'Devolva meu filho'

Fernando Henrique, Lucas Matheus e Alexandre da Silva desapareceram há um mês em Belford Roxo (RJ) - Arquivo Pessoal
Fernando Henrique, Lucas Matheus e Alexandre da Silva desapareceram há um mês em Belford Roxo (RJ) Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

27/01/2021 04h00

As famílias de Lucas Matheus da Silva, 8, Alexandre da Silva, 10, e Fernando Henrique Ribeiro Soares, 11, não tiveram até agora respostas sobre o desaparecimento das três crianças que saíram de casa para brincar em 27 de dezembro, um domingo, no bairro Castelar, favela de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Até hoje, a Polícia Civil não conseguiu criar uma linha concreta de investigação. O UOL falou ontem com a mãe de dois deles —que relatam angústia, saudade e esperança, por vezes abalada. Não bastasse a dor das famílias, elas ainda tiveram de lidar no último mês com fakenews sobre o paradeiro dos meninos.

O delegado Uriel Alcântara definiu o caso como "complexo e atípico". Câmeras de segurança não captaram a movimentação dos meninos. Indícios de suposto envolvimento do tráfico de drogas que domina a comunidade também estão em análise.

Todas as linhas estão sendo trabalhadas, inclusive sobre o tráfico [estar envolvido]. Essa é uma das possibilidades, dentre outras. Não existe nada concreto, mas isso passou a ser analisado com uma atenção maior

Uriel Alcântara, titular Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Belford Roxo tenta um encontro das famílias com o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), para cobrar celeridade na solução do caso.

Alexandre da Silva, 10, desapareceu após sair para brincar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Alexandre da Silva, 10, desapareceu após sair para brincar
Imagem: Arquivo Pessoal

Mães relatam dor e esperança

A mãe de Alexandre da Silva luta todos os dias com a dor de estar longe do filho.

Se Rana Jéssica da Silva, 31, pudesse fazer um pedido de aniversário —na última segunda-feira (25)—, ele seria: "Devolva meu filho. Só quero isso". Mesmo sem saber a quem endereçar o apelo, ela diz que a esperança do reencontro com o menino que gosta de pipa e bola de gude em nenhum momento foi abalada.

Eu estou sem forças. Chega a noite e eu fico pensando neles. O Alexandre dorme comigo na cama. É difícil olhar pro lado e não ver ele, é um vazio. Como eu estou sentindo, eu sei que ele está também

Rana Jéssica da Silva, mãe de Alexandre

A dona de casa se deu conta do sumiço porque o filho não foi almoçar. "Quando deu a hora do almoço, o prato de comida dele e do Lucas estava até pronto e eles não apareceram. Foi aí que eu, a Tatiana [mãe do Fernando Henrique] e a Camila [mãe do Lucas Matheus] começamos a procurar por eles."

Fernando Henrique, 11, desaparecido há um mês em Belford Roxo (RJ) - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fernando Henrique, 11, desaparecido há um mês em Belford Roxo (RJ)
Imagem: Arquivo Pessoal

A última lembrança

Tatiana da Conceição Ribeiro, 31, mãe de Fernando, relembra a última vez que viu o menino brincalhão, companheiro e amoroso. Ele estava saindo de casa para brincar com Lucas e Alexandre.

"Antes de ele ir para a rua, eu pedi para jogar o lixo fora. Depois já foi encontrar os meninos. A partir daí eu não vi mais meu filho."

Meu olho está enchendo de água só de falar sobre isso. Vivo chorando. Às vezes, eu dou uma prendida no choro por causa dos meus outros dois filhos. O de cinco anos ainda diz pra mim: 'Ele está vivo mãe, ele está voltando pra casa. Tenha fé em Deus'. Eu tento ter esperança, mas nesse momento, ela está bem abalada

Tatiana da Conceição Ribeiro, 31, mãe de Fernando

"A gente fica sem saber se ele está vivo ou morto. Se estivesse vivo eu só queria ele de volta, se estiver morto só queria ver o corpo do meu filho. Poder enterrar, dar um enterro digno", acrescentou.

Eu queria uma resposta, só isso. Falem algo, alguma pista pra gente

Ednalva Gonçalves diz que chovia quando as crianças desapareceram. A amiga de Camila Paes da Silva, 29, mãe de Lucas Matheus lembra de ter visto ver o menino, o mais novo dos três, brincando.

"Depois começou a chover bastante e cada criança foi voltando pra casa, mas eu não o vi mais. A Camila estava em casa e começou a procurar por ele."

Mudança na rotina e pistas falsas

Após o desaparecimento, a rotina no Castelar mudou. Até nos finais de semana, o número de crianças nas ruas diminuiu.

É um dia de sábado, é um dia de domingo, e você não vê mais aquelas crianças igual nós víamos brincando. A gente vê poucas, mas agora sempre tem uma mãe perto, um irmão mais velho, sempre tem um adulto

Ednalva Gonçalves, moradora da região

No último mês, familiares e a Polícia Civil receberam diversas informações falsas.

Lucas Matheus, 8, desapareceu em Belford Roxo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Lucas Matheus, 8, desapareceu em Belford Roxo
Imagem: Arquivo Pessoal

Na noite de 5 de janeiro, parentes dos meninos voltavam para casa pela via Dutra após receberem a informação de que eles estariam em uma sorveteria na vizinha Nova Iguaçu.

O estabelecimento contudo estava fechado. No caminho de volta para Belford Roxo, o pneu do carro estourou e o carro capotou. Ninguém se feriu.

Outro caso aconteceu em 11 de janeiro quando moradores do Castelar levaram à DHBF um suspeito que mora no mesmo condomínio dos meninos.

Segundo a polícia, ele foi torturado por traficantes. Uma foto do homem amarrado a um cartaz escrito "Suspeito de desaparecimento das 3 crianças, pego por moradores do Castelar" ganhou as redes sociais. Houve protesto na delegacia e um ônibus foi incendiado.

A polícia concluiu contudo não haver indícios de envolvimento do homem, que acabou detido porque havia pornografia infantil no celular dele.

O Disque-Denúncia recebeu até agora 51 ligações sobre o caso. Os relatos foram repassados à polícia.