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SP: Casal se passa por funcionários da Justiça e ordena exumação de corpo

BO registrou violação da sepultura de Thiago Troncoso, suspeito de participação em um esquema envolvendo compra de criptomoedas - Reprodução
BO registrou violação da sepultura de Thiago Troncoso, suspeito de participação em um esquema envolvendo compra de criptomoedas Imagem: Reprodução

Daniel César

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

10/02/2021 17h57Atualizada em 11/02/2021 14h02

Um caso inusitado chamou a atenção da população da pequena cidade de Palmares Paulista, a cerca de 400 km de São Paulo. Um casal se passou por agentes do Poder Judiciário e ordenou que o corpo de um homem, acusado de praticar um golpe milionário em clientes e que havia sido sepultado recentemente, fosse desenterrado.

O caso aconteceu no último sábado (6), mas foi registrado na delegacia de Polícia Civil apenas ontem, quando a Prefeitura tomou conhecimento do caso depois que o coveiro comunicou a exumação para seus superiores.

Segundo consta no Boletim de Ocorrência, o pedido foi feito por "um rapaz, num veículo Cruze, de cor branca, dizendo que era da Justiça, estando ele acompanhado de uma senhora loira, que estava num Citroen, de cor vermelha". "O rapaz se identificou como sendo da Justiça e disse que teria que desenterrar Thiago para confirmar a identidade do cadáver e ver se não era um boneco", informa o documento.

Ele falava de Thiago Troncoso, de 39 anos, que havia sido sepultado horas antes no cemitério da cidade. Sem desconfiar de nada, o coveiro cumpriu a orientação e o corpo foi retirado da sepultura para, em seguida, o homem dar a ordem para que o funcionário do cemitério apertasse a bochecha do morto.

Ainda de acordo com o BO, enquanto o procedimento era feito, a mulher passou a chutar vasos no cemitério e a emitir palavrões ao mesmo tempo em que o homem tirou diversas fotos do corpo por meio de um aparelho de celular. Em seguida, a dupla foi embora sem deixar nenhum documento.

Morto teria aplicado golpes em bitcoin

Segundo o UOL apurou, Thiago Troncoso era acusado de ter dado prejuízo de mais de R$ 30 milhões em várias vítimas no país num esquema de pirâmide financeira associada a bitcoins.

Troncoso foi acusado de vender supostos pacotes de investimentos atrelados a criptomoedas chamado de Projeto Rota 33, fundado por ele em parceria com outros quatro sócios em Catanduva (SP). Aos clientes, o empresário prometia juro de 20% em cima do capital aportado, e supostamente afirmava utilizar um robô de arbitragem para potencializar os ganhos.

Em 2019, ele parou de pagar os clientes e contratou um advogado para explicar que a empresa não teria conseguido cumprir os compromissos por ser vítima de uma suposta fraude praticada pelos sócios. A fraude nunca foi confirmada.

Troncoso foi encontrado morto em Balneário Camboriú (SC) por uma mulher inicialmente identificada como esposa — a defesa da família da vítima, porém, negou parentesco. A polícia da cidade registrou o caso como suicídio.

Em contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura de Palmares Paulista, o UOL foi informado de que Thiago foi enterrado na cidade por haver vínculo ali, já que a família da esposa mora na cidade.

A reportagem entrou em contato com a delegacia da cidade, mas o titular da investigação, delegado Pedro Luís de Senzi Carvalho, não estava presente para dar maiores detalhes.

Confira a nota da Prefeitura de Palmares Paulista na íntegra:

A Prefeitura Municipal de Palmares Paulista esclarece que não recebeu nenhuma ordem judicial para desenterro de corpo no Cemitério Euclides Rocha e por isso orientou o coveiro a registrar um Boletim de Ocorrência a respeito do ocorrido no sábado (06).

Na ocasião, duas pessoas estiveram na residência do coveiro, apresentando-se como sendo da justiça e exigiram o desenterro, seguido de constatação de que o sepultado T.T. se tratava de um cadáver e não de "um boneco", como descreveu o funcionário.

Outro lado

Em contato por e-mail com a reportagem, o advogado da família de Thiago Troncoso, Rafael Dalto, negou que a pessoa que estivesse com a vítima em Balneário Camboriú fosse esposa.

"Não se sabe quem é ela e tal assunto está sendo investigado pela polícia local, posto que o cartão de crédito do falecido desapareceu e uma compra foi efetuada na manhã da sua morte", informou Dalto, que disse que a mulher citada no BO não estava hospedada com Troncoso.

Dalto argumentou ainda que Troncoso nunca utilizou "qualquer empresa de fachada ou de educação" para seus empreendimentos, e negou que o prejuízo dos investidores seja de R$ 30 milhões. "Se houve algum prejuízo, esse não passará de R$ 15 milhões", afirmou.

O advogado argumentou ainda que Troncoso foi vítima de desvio de valores, o que gerou o prejuízo aos investidores.

"Em relação ao projeto Rota 33, a Justiça já apurou e confirmou que haviam outros quatro sócios. Ou seja, Thiago não deu qualquer golpe e não é o único responsável", explicou no comunicado. "No mais, os inquéritos por supostos estelionatos e crime contra a economia popular ainda estão em andamento. E mais: envolvem todos os demais sócios e não somente Thiago, não havendo qualquer prova concreta dos crimes a ele atribuídos e que, de acordo com a Constituição Federal, todos são inocentes até que se prove o contrário."