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Mulher morre de covid-19 após dar à luz em parto de emergência no MA

Cesária foi realida às pressas após complicações por covid - Arquivo pessoal
Cesária foi realida às pressas após complicações por covid Imagem: Arquivo pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, de Recife

02/03/2021 18h09

A estudante de administração Luana Cristina Gurgel, 24, morreu em decorrência de complicações da covid-19 horas depois de ter sido submetida a um parto cesárea de emergência, na sexta-feira (26), no hospital materno infantil de Imperatriz (MA). O bebê precisou ser retirado da barriga da mãe com 33 semanas de gestação, uma vez que o estado de saúde de Luana se agravou e ela precisou ser intubada. A jovem estava com 50% dos pulmões comprometidos devido à doença, e morreu na madrugada do último sábado (27), após parada cardiorrespiratória.

O bebê recém-nascido, que se chama Bento, não está infectado pelo novo coronavírus e se recupera bem na UTI Neonatal do hospital materno infantil de Imperatriz. Ele nasceu medindo 45 cm e pesando pouco mais de 2 kg. O companheiro de Luana, Cairo Yuri Avelino, 24, contou que o bebê evolui bem, já foi extubado e não necessita mais de auxílio da cânula de oxigênio. Ontem, pai e filho tiveram o primeiro contato físico.

"A primeira vez que segurei meu filho nos braços senti a sensação de calmaria. Tão pequeno, frágil, mas não tremi. Foi incrível. Agora, o plano é cuidar dele, pois ele é uma parte do nosso amor, do nosso relacionamento, dos planos que fizemos para o nosso futuro", contou Cairo, em entrevista ao UOL entre um auxílio e outro ao pequeno Bento no hospital. Para poder ter contato com o filho, Avelino fez o teste para detectar o novo coronavírus e descobriu que possui anticorpos da doença.

Ainda não há previsão de alta para o recém-nascido - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mulher morre de covid-19 depois de dar à luz em parto de emergência no MA
Imagem: Arquivo pessoal

Apesar da evolução do estado de saúde do bebê não há previsão de alta médica. A liberação para Bento ir para casa dependerá do ganho de peso dele. "O peso dele é bom, e está evoluindo bem. A médica falou para eu trazer uma mamadeira para dar leite a ele. Ele aceita bem o leite. Teremos uma previsão de alta somente no final da semana, pois nos disseram que ainda é cedo para avaliar isso pela questão de ele ser prematuro", completou.

Nossos sonhos foram interrompidos por essa fatalidade, diz pai

O casal estava junto havia um ano e três meses. Avelino relembra dos planos que tinha com Luana, como comprar uma casa e oficializar a união com uma festa de casamento, depois do nascimento de Bento. Eles moravam com a mãe de Luana. "Já tínhamos até dividido algumas atividades nos cuidados com ele, como sempre dividimos tudo. Os nossos sonhos foram interrompidos por essa fatalidade", escreveu Avelino, em uma publicação homenageando a companheira em uma rede social.

Avelino relatou que fez o que pôde para salvar a companheira e o filho. Luana apresentou sintomas da covid-19 no dia 15 de fevereiro, acompanhada de mal estar e dor de cabeça. Com o passar dos dias, ela iniciou quadro febril, depois tosse e falta de ar. Voltou ao hospital, mas o teste rápido para detectar o novo coronavírus deu negativo e ela foi mandada para se tratar em casa. A família pagou um teste em um laboratório e o resultado foi positivo para o novo coronavírus.

No último dia 21, Luana piorou e voltou ao hospital. Desta vez, ela foi internada em um leito clínico em uma enfermaria para pacientes com covid-19. Os dias foram passando e o estado de saúde de Luana se agravou, ela precisou ser intubada, mas antes foi necessário retirar o bebê. Avelino contou que Luana ainda chegou a perguntar — por meio de gestos — como estava o filho.

"Falei com Deus e o mundo para conseguir uma vaga em um leito de UTI para Luana em São Luís, pois todos os hospitais estão lotados, mas a ajuda chegou tarde demais, pois a gente sempre acha que pode fazer um pouco mais", disse.

Com o surgimento da vaga na UTI do próprio hospital em Imperatriz, o parto foi realizado às 6h do dia 26. "Na madrugada do sábado (27), às 4h recebi uma ligação para ir ao hospital. Cheguei às 4h45 e me deram a notícia que ela veio a óbito entre 2h e 2h30. Entendo toda questão do caos sem leitos de UTI, e os médicos precisam dar um jeito para atender. Acredito que se ela tivesse sido transferida em estado menos grave poderia ter resistido", acredita Avelino.

O companheiro de Luana afirmou que vai cuidar do filho do casal e que vai mostrar a ele, todos os dias, o exemplo de mulher que ela foi. Avelino destacou que ainda não consegue pensar em planos para o futuro, mas que tudo será voltado para educar Bento e terá na memória a companheira. "Estou no quarto período de jornalismo, vou concluir meu curso. Ainda não sei o que pretendo fazer, mas inicialmente continuarei morando na casa da mãe de Luana, pois o quarto de Bento está montado lá e a família dela e a minha vão me dar suporte", ressaltou.

Covid-19 no Maranhão

O boletim epidemiológico divulgado ontem aponta que o Maranhão atingiu o número de 219.632 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, sendo 5.074 mortes causadas pela covid-19. Há, atualmente, 10.016 casos ativos, sendo 8.890 pessoas em isolamento domiciliar, 664 internados em leitos clínicos e 462 em leitos de UTI. Em São Luís, 91,12% dos leitos de UTI e 70,43% dos leitos clínicos estão ocupados. Já a taxa de ocupação em Imperatriz, segundo maior município do Maranhão, é de 98,18% para leitos em UTI e 98,11% para leitos clínicos.