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Jovem morre com tiro no rosto indo a aniversário do pai; família acusa PMs

Emanoelly Almeida da Silva tinha 19 anos; PM diz que houve troca de tiros onde a jovem morreu, mas familiares negam - Acervo pessoal
Emanoelly Almeida da Silva tinha 19 anos; PM diz que houve troca de tiros onde a jovem morreu, mas familiares negam Imagem: Acervo pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

15/03/2021 15h12

Familiares de Emanoelly Almeida da Silva, 19 anos, morta com um tiro no rosto durante uma ação da Polícia Militar em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, acusam a PM de ter sido responsável pelo ocorrido. A menina foi baleada quando ia para o aniversário do pai. Os parentes contestam a versão apresentada pela polícia de que aconteceu um confronto na região.

"Ela estava dentro de uma loja, estava indo para minha casa para o churrasco de aniversário, veio um rapaz de moto, e nisso estava passando uma viatura. Quando o motoqueiro viu a viatura, ele manobrou; os policiais desembarcaram e foram em direção à moto. A minha filha foi ver o que estava acontecendo e colocou o rosto para fora da janela — o policial se assustou e atirou acertando o rosto dela", lamentou o pai da menina, Ubirajara Silva de Freitas.

Ao UOL, Ubirajara falou ainda que não houve confronto, apenas um tiro disparado pela Polícia Militar. "Foi só um disparo e não houve troca de tiros, não houve confronto. Eles chamaram outras viaturas para começar a criar aquela movimentação. Eles deixaram ela caída por 40 minutos — só que, mesmo morta, eles a socorreram. Nunca vi isso: socorrer uma pessoa morta. Isso é alterar a cena do crime. Ela já estava em óbito, o certo era esperar a perícia chegar", questionou o pai.

O caso aconteceu na tarde de sábado (13) no bairro Santa Luzia. De acordo com a Polícia Civil, "houve apreensão de arma dos policiais militares que participaram da ação para confronto balístico". A ocorrência foi registrada na 73ª DP (Neves) e as investigações estão em andamento. Ontem, familiares estiveram no Instituto Médico Legal de São Gonçalo para reconhecer o corpo da jovem. O enterro aconteceu no mesmo dia no cemitério Parque da Paz, na mesma região.

Pai contesta versão da PM

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que "policiais militares do 7ºBPM (São Gonçalo) estavam em patrulhamento pelo bairro Santa Luzia quando se depararam com indivíduos armados em motocicletas. Estes indivíduos efetuaram disparos de arma de fogo contra a equipe policial, que reagiu. Foi solicitado apoio de outras equipes. Após cessarem os disparos, uma pessoa foi encontrada ferida e foi imediatamente socorrida ao Hospital Estadual Alberto Torres".

Porém, de acordo com testemunhas, a menina foi baleada no momento em que estava com o rosto virado para a viatura policial.

"Eu só queria uma resposta deles [da PM]. 'Meu irmão, olha só, eu errei, fiz uma cagada e acabei com a vida da sua filha e acabei com a sua', só isso. Não é chegar falando que teve confronto. A posição que ela levou o tiro, ela estava olhando na direção de onde os policiais estavam vindo, ela não levou um tiro na nuca, foi no rosto, de frente. Não tem como, não adianta. Eles vão sempre usar esse argumento", acrescentou Ubirajara.

Emanoelly havia completado 19 anos recentemente e terminava o ensino médio. "Estamos sem chão, é uma perda irreparável. Infelizmente é mais uma vítima e mais um pai que chora a perda de uma filha. Ela era uma menina tranquila, sempre estudando, ia terminar agora o 3º ano, não dava trabalho algum. Tinha um futuro pela frente. Ela tinha feito 19 anos na segunda-feira (8). Não dá para aceitar", finalizou o pai, emocionado.

De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, até o momento, só neste ano 26 pessoas atingidas por bala perdida no Grande Rio. Destas, 12 morreram. No mesmo período de 2020, 53 pessoas haviam sido feridas, e nove não resistiram.