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Pandemia gerou 'descarte de corpos que merecem respeito', dizem funerárias

Aumento de mortes pela covid-19 tem pressionado o setor funerário, que pede reforço para produtoras de urnas para não colapsar - Bruno Kelly/Reuters
Aumento de mortes pela covid-19 tem pressionado o setor funerário, que pede reforço para produtoras de urnas para não colapsar Imagem: Bruno Kelly/Reuters

Do UOL, em São Paulo

25/03/2021 09h50Atualizada em 25/03/2021 10h04

O setor funerário do país está sentindo o impacto do aumento acelerado de mortes pela covid-19. O presidente da Abredif (Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário), Lourival Panhozzi, chegou a pedir aos fabricantes de urnas de todo o Brasil que trabalhem com sua capacidade máxima para evitar a falta de materiais nos sepultamentos, de acordo com o jornal O Globo.

Panhozzi encaminhou ao governo de São Paulo uma requisição para que as fábricas de urnas funerárias passem a ser consideradas atividades essenciais. O estado produz cerca de 60% das urnas funerárias usadas em todo o Brasil. Hoje, o país tem um estoque de cerca de 100 mil urnas funerárias, mas serão necessárias mais 400 mil para conseguir absorver o número de óbitos.

"Com esse aumento na produção, vamos conseguir adequar à necessidade. Só que a logística é complicada, porque estamos falando de um país continental, e 60% da produção está concentrada em São Paulo. Precisamos de planejamento com urgência", alertou Panhozzi.

Ao ser questionado sobre a possibilidade do país enfrentar um colapso funerário com escassez de caixões, o presidente da Abredif alega que "seria prepotência" dizer que não existe o risco.

"Na situação em que estamos, existe risco de tudo. Acredito que isso não vá acontecer no Brasil todo, mas pode acontecer pontualmente. Estamos falando com as fabricantes para tentar dimensionar isso", disse.

Um portal será lançado nesta semana pela Abredif para que todos os cemitérios possam se cadastrar e informar o número de vagas e a capacidade de sepultamento por hora. A medida foi adotada para evitar que um colapso funerário aconteça, diante do aumento de mortes pela covid-19, que já ultrapassa mais de 3 mil óbitos por dia no Brasil, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

'Estão descartando corpos, e não sepultando pessoas'

Com a pandemia da covid-19, grande parte do Brasil suspendeu os velórios para evitar que haja risco de contaminação no momento durante os sepultamentos. Em suas diretrizes oficiais, a OMS aconselhou evitar velórios e missas — quando houver, que sejam curtos, com número reduzido de pessoas, sem toques, abraços e aproximações.

"Não existe nenhum motivo para que o corpo seja sepultado correndo. O que estamos fazendo hoje é indigno, com enterros em poucos minutos. Estão descartando corpos, e não sepultando pessoas. Esses corpos merecem respeito. Podem ir, sim, para funerária, ficar numa sala lá e aguardar o dia seguinte para o momento de sepultamento", alegou Panhozzi em entrevista ao O Globo.

De acordo com o representante do setor funerário, os corpos lacrados e em uma urna não tem capacidade de contaminar e que nenhum agente foi contaminado em razão de manipular o corpo, mas por outras razões.

"Nos EUA, por exemplo, a operação funerária leva dias. Lá, as funerárias não têm estoque de urna. Elas trabalham com showroom, a família escolhe o modelo, e a funerária entra em contato com a fabricante, que faz a entrega no dia seguinte, e o funeral acontece no terceiro dia. Isso aparece muito nos filmes americanos. A operação no Brasil é diferente. Em 24 horas, fazemos tudo: ocorre o óbito, depois a liberação do corpo, o velório e o sepultamento."

Pior momento da pandemia no Brasil

O Brasil chegou a marca de 300 mil mortos por covid-19 ontem, 75 dias após registrar 200 mil óbitos pela doença. O número supera a população de 98,3% das 5.570 cidades do país.

O país atravessa o pior momento da pandemia, e registrou na última terça-feira (23) mais de 3.158 mortes, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. O número é o maior contabilizado desde o início da pandemia, em março de 2020.