Protesto e lojista 'escondidinha': Rio tem feriado com cara de dia útil
Com cara de dia útil, o primeiro dia do feriadão antecipado no Rio de Janeiro teve protesto e lojistas burlando as normas, que permitem apenas o funcionamento de serviços essenciais.
"Tá tudo em promoção. Quer entrar? Tá geladinho lá dentro", convidava uma mulher em Ipanema, zona sul carioca, diante de uma loja de roupas, segmento proibido de funcionar. "Tô escondidinha para ver se consigo vender alguma coisa", justificou, em frente do estabelecimento com as portas baixadas pela metade.
Já outros comerciantes procuravam se adaptar às restrições sem desrespeitar o decreto do prefeito Eduardo Paes (DEM). Proibido de atender presencialmente, um tradicional bar na rua Siqueira Campos, em Copacabana, agora passou a funcionar como delivery.
"Precisamos nos adaptar. Temos contas pra pagar. Seja o que Deus quiser", disse o comerciante Antonio Bezerra da Cruz, 59 anos (41 deles no ramo).
O movimento de pessoas e carros nas ruas era semelhante ao de um dia útil comum. Houve quem fosse às praias, ignorando as proibições de banhos de mar e permanência na areia.
O alemão Carsten Enderlein, 41, que mora há oito anos no Rio, surfou pela manhã na praia de Ipanema, na zona sul, e voltou para casa. "Pelo menos tinha menos pessoas tomando banho de mar, né?", disse. O decreto permite apenas atividades físicas individuais nas praias.
As academias de ginástica também funcionavam normalmente, e feiras livres seguiam abertas. O cenário de aparente normalidade surpreendeu turistas de São Paulo —eles decidiram arriscar a viagem já que as passagens aéreas e a estadia no hotel já estavam pagas.
"Estamos curtindo a praia e a cidade. Só estamos evitando muvuca, né?", disse o vendedor Marcel Grechi, 49. "A gente pensou que iria estar tudo fechado. Mas conseguimos ir até a uma feira de rua", completou a dona de casa Andrea Grechi, 50, esposa de Marcel.
Paes lamenta movimento nas ruas e ironiza: "Tudo normal"
Na manhã de hoje, o prefeito lamentou ter visto um movimento intenso nas ruas da cidade. Ele afirmou que o decreto não proíbe ninguém de sair de casa, mas pediu a colaboração da população.
"O movimento que a gente viu nessa manhã ainda nos ônibus, BRTs, trens, metrô, é de que tem muito serviço (funcionando). Está tudo normal, pode tudo", ironizou, durante apresentação do 12° boletim epidemiológico da covid-19 na cidade. "Não tem como fiscalizar a casa de ninguém e não vamos fazer isso. A única coisa que a gente pode fazer é apelar para a consciência das pessoas. Por favor, colaborem".
'Queremos trabalhar', gritam manifestantes
Com faixas, bandeiras do Brasil, camisas da seleção brasileira e peças que estampavam o rosto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um grupo de cerca de 200 pessoas invadiu a avenida Atlântica, em Copacabana, zona sul do Rio, para protestar contra as restrições.
"Queremos trabalhar!", puxava um homem no megafone, dando início a um coro.
O ato, que chegou a fechar hoje de manhã duas pistas no sentido centro, foi acompanhado por um comboio de dez viaturas da Polícia Militar. Houve aglomeração em meio ao protesto, com manifestantes sem máscara. Um ambulante vendia guarda-sóis nas cores verde e amarelo.
'Preciso colocar comida na mesa'
Parado em frente a um hotel, o agente de turismo Roberto William Pereira, 67, só acompanhava o fluxo de saída de hóspedes.
"Não tem mais estrangeiro, camarada. E os pontos turísticos estão fechados. Só tem gente saindo daqui para ir direto para o aeroporto. Só vim pra cá para não ficar dentro de casa", lamentou. "Medo do vírus? Medo, eu não tenho. Tenho uma saúde de ferro, companheiro. Faço caminhada todo dia", justificou.
Diante de outro hotel, o guia de turismo Leandro Pereira, 49, disse que tenta evitar o desespero. Na última quarta-feira (24), ele afirmou ter organizado um passeio para 12 pessoas. Já ontem (25), não conseguiu atrair novos clientes. Hoje voltou a Copacabana, mas admite que as perspectivas não são favoráveis.
Tô sem dinheiro, sem perspectivas de trabalho e tenho três filhos. Preciso colocar comida na mesa. Mas o turismo no Rio acabou
Leandro Pereira, guia turístico
Quais serviços poderão funcionar?
- Comércio de alimentos e bebidas, como açougues e peixarias, supermercados, hortifrutigranjeiros, padarias e lojas de conveniência. É proibido consumo no local;
- Serviços assistenciais de saúde, farmácias e comércio de equipamentos médicos e óticas;
- Assistência veterinária, serviços e comércio de suprimentos para animais;
- Comércio de materiais de construção e ferragens;
- Estabelecimentos bancários e lotéricos, instituições de crédito, seguro, capitalização, comércio e administração de valores imobiliários e serviço postal;
- Comércio atacadista e cadeia de abastecimento e logística;
- Feiras livres e móveis;
- Bancas de jornal, sendo proibida venda de bebidas alcoólicas;
- Comércio de combustíveis e gás;
- Serviço de mecânica e comércio de autopeças e acessórios para veículos e bicicletas, além de serviços de locação de veículos;
- Hotelaria e hospedagem, com o funcionamento de serviços de alimentação restrito aos hóspedes;
- Transporte de passageiros;
- Atividades industriais e obras de construção civil;
- Serviços de entrega em domicílio;
- Serviços de telecomunicações, teleatendimento e call center;
- Serviços funerários;
- Serviços de lavanderia;
Quem desacatar o decreto poderá sofrer multa individual (R$ 562,42), como no caso de pessoas flagradas sem máscaras ou que promovam aglomeração.
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