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Henry: Com acidente descartado, defesa ataca provas colhidas, diz promotor

Ana Caratchuk, Luís Adorno, Rafael Bragança e Allan Brito

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL

09/04/2021 17h14

Depois de a tese inicial apresentada pelo casal Dr. Jairinho e Monique Medeiros —que apontava que Henry Borel, 4, morreu após um acidente doméstico— ter sido descartada, a estratégia da defesa dos suspeitos de homicídio duplamente qualificado mudou para ataque às provas colhidas, segundo afirmou hoje o promotor de Justiça Marcos Kac.

O promotor responsável pelo caso disse, durante o UOL Entrevista, à colunista Juliana Dal Piva e ao repórter Herculano Barreto Filho, que a nova estratégia é o que restou para os advogados do casal. "A partir do momento que não tem defesa apontando para ausência de prática do delito, para um álibi, passa a ter segunda linha [de defesa], que é válida, pra isso advogados são constituídos, para que possam defender de forma suficiente os investigados e acusados", disse.

"Todo meu respeito para advocacia e defesas. Mas não acredito que possa ter havido qualquer contaminação ou procedimento contrário ao que determina a legislação na colheita das provas. Estou acompanhando investigação desde o primeiro minuto", complementou o promotor.

De acordo com Kac, toda prova coletada até o momento respeitou os termos da lei. "Essa segunda linha de defesa se abre na medida em que a primeira se enfraquece. Vejo com naturalidade, mas não acredito em absoluto que esse tipo de pecha possa recair sobre a investigação criminal, porque foi muito bem conduzida", disse.

Relembre o caso

O menino Henry Borel Medeiros, 4, foi encontrado morto, em 8 de março deste ano, no apartamento que sua mãe, Monique Medeiros, morava com o namorado, o vereador Dr. Jairinho. O menino tinha diversas lesões graves pelo corpo, de acordo com a Polícia Civil.

A mãe e o vereador afirmaram à polícia que o menino sofreu um acidente doméstico. Para a polícia, no entanto, a versão apresentada pelos dois é falsa. A perícia feita no corpo de Henry apontou que a causa de sua morte foi uma hemorragia interna e uma laceração no fígado causada por uma ação contundente.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, o casal cometeu o crime de homicídio duplamente qualificado e poderá ser condenado a 30 anos de prisão. Segundo ele, o casal torturou e causou impossibilidade de defesa da criança durante o crime.

A investigação localizou, por meio de conversas da babá da criança com a mãe, que ele sofria agressões físicas constantemente do vereador. A babá do garoto, segundo a polícia, era muito próxima do casal e mentiu em depoimento para respaldar a versão apresentada por eles. Ela pode responder pela prática de falso testemunho.

Segundo os investigadores, o vereador se trancou quarto para agredir a criança com chutes e pancadas na cabeça um mês antes do crime —a mãe soube das agressões, ainda de acordo com a polícia.

Um dia antes do ocorrido, Henry foi deixado pelo pai, Leniel Borel, no condomínio da mãe após um final de semana. Câmeras de segurança flagraram a chegada do menino. Na madrugada do dia seguinte, Jairinho e Monique foram vistos levando o menino ao Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, onde relataram que a criança apresentava dificuldade respiratória.

O casal então ligou para o pai do garoto para relatar o ocorrido. Leniel foi, então, até a unidade de saúde e encontrou os médicos tentando reanimar a criança. Orientado pelos profissionais do hospital, o pai do menino abriu uma ocorrência na 16ª DP para entender o que aconteceu com o filho.

Os dois foram detidos ontem, quando completou um mês da morte da criança, em um endereço que eles não tinham informado inicialmente no inquérito, na casa de uma tia do vereador, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.