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Caso Henry: 'Havia preocupação de se livrar do corpo rápido', diz promotor

Ana Caratchuk, Luís Adorno, Rafael Bragança e Allan Brito

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

09/04/2021 16h43Atualizada em 09/04/2021 18h20

Para o promotor de Justiça Marcos Kac, que acompanha as investigações sobre a morte do menino Henry Borel, 4, o vereador Dr. Jairinho e Monique Medeiros, padrasto e mãe da criança, demonstraram preocupação para enterrar o corpo da criança o mais rápido possível e sem realização de perícia.

A afirmação foi feita na tarde de hoje (9) durante o UOL Entrevista para a colunista Juliana Dal Piva e para o repórter Herculano Barreto Filho. De acordo com ele, a preocupação ficou evidente após um depoimento à polícia dado ontem (8) por um "alto executivo" da área da saúde.

"É extremamente relevante [o depoimento do executivo] no sentido de demonstrar que havia preocupação do casal de se livrar do corpo de forma rápida. Queriam fazer enterro rápido e não queriam que passasse pelo IML [Instituto Médico Legal]. Isso fica claro", afirmou Kac.

À Polícia Civil, o homem afirmou ter recebido quatro telefonemas do vereador, que pedia que o atestado de óbito de Henry fosse agilizado. De acordo com o promotor, esse depoimento reafirmou o que a investigação apontava.

"O fato de não querer fazer perícia quando tudo indica, apontado pelos médicos, que essa perícia teria que ser feita, isso denota preocupação de se livrar do corpo para que [ele] não pudesse ser periciado", disse.

Promotor afasta possibilidade de mãe ter sido dopada

Na entrevista, Kac também disse não acreditar na hipótese de que Monique, mãe de Henry, tenha sido dopada na noite em que o menino morreu. A possibilidade foi levantada após relatos de que uma ex-namorada de Jairinho teve a sensação de ter sido dopada por remédios.

"Não me parece que uma pessoa dopada num determinado momento tivesse condições necessárias de levar o filho no colo, de tomar automóvel, de fazer manobra boca a boca, de prestar depoimento no hospital", afirmou o promotor, relembrando a dinâmica da noite em que Henry morreu. Para ele, portanto, essa é uma hipótese "muito pouco provável".

Investigação pode ser encerrada em 15 dias

Kac afirmou que as investigações estão sendo conduzidas com "total isenção e imparcialidade" e disse ser possível que esta etapa de apurações seja concluída dentro de 15 dias.

"Posso afirmar que a atividade está sendo desenvolvida da melhor forma. Acredito que em mais uma semana, dez ou 15 dias, a gente possa ter o desfecho da investigação", disse.

O promotor também afastou a hipótese de que houve ilegalidade na colheita de provas. A estratégia foi adotada pela defesa de Jairinho e Monique, que afirma que a apreensão de objetos como celulares no apartamento do casal foi realizada de forma ilegal.

"Eu não acredito, em absoluto, que tenha havido qualquer tipo de contaminação, de procedimento contrário ao que determina a legislação na colheita das provas", disse ele.

Caso Henry

O menino Henry Borel Medeiros, 4, foi encontrado morto em 8 de março no apartamento que sua mãe morava com o namorado, Dr. Jairinho. O menino tinha diversas lesões graves pelo corpo, de acordo com a Polícia Civil.

A mãe e o vereador afirmaram à polícia que o menino sofreu um acidente doméstico. Para a polícia, no entanto, a versão é falsa. A perícia feita no corpo de Henry apontou que a causa de sua morte foi uma hemorragia interna e uma laceração no fígado causada por ação contundente.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, o casal cometeu o crime de homicídio duplamente qualificado e poderá ser condenado a 30 anos de prisão. Segundo ele, o casal é suspeito de empregar tortura e impossibilidade de defesa da criança durante o crime.

A investigação localizou, por meio de conversas da babá com a mãe, que ele sofria agressões físicas constantemente do vereador. A babá do garoto, segundo a polícia, era muito próxima do casal e mentiu em depoimento para respaldar a versão apresentada por eles. Ela pode responder pela prática de falso testemunho.

Segundo os investigadores, o vereador se trancou quarto para agredir a criança com chutes e pancadas na cabeça um mês antes do crime —a mãe soube das agressões, ainda de acordo com a polícia.

Um dia antes do ocorrido, Henry foi deixado pelo pai, Leniel Borel, no condomínio da mãe após um final de semana. Câmeras de segurança flagraram a chegada do menino. Na madrugada do dia seguinte, Jairinho e Monique foram vistos levando o menino ao Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, onde relataram que a criança apresentava dificuldade respiratória.

O casal então ligou para o pai do garoto para relatar o ocorrido. Leniel foi, então, até a unidade de saúde e encontrou os médicos tentando reanimar a criança. Orientado pelos profissionais do hospital, o pai do menino abriu uma ocorrência na 16ª DP para entender o que aconteceu com o filho.

Os dois foram detidos ontem, quando completou um mês da morte da criança, em um endereço que eles não tinham informado inicialmente no inquérito, na casa de uma tia do vereador, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.