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Caso Henry: Promotor afasta hipótese de mãe ter sido dopada

Ana Caratchuk, Luís Adorno, Rafael Bragança e Allan Brito

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

09/04/2021 16h32Atualizada em 09/04/2021 18h21

O promotor de Justiça Marcos Kac, responsável pelo Caso Henry no Ministério Público do Rio de Janeiro, afastou hoje a possibilidade de a mãe do menino, Monique Medeiros, ter sido dopada no dia da morte do filho.

A possibilidade foi levantada após relatos de que uma ex-namorada do vereador do Rio Dr. Jairinho, padrasto do menino, teve a sensação de ter sido dopada por remédios.

Em entrevista realizada pela colunista do UOL Juliana Dal Piva e pelo repórter Herculano Barreto Filho, o promotor pontuou a dinâmica no dia da morte de Henry Borel, em 8 de março.

Para afastar a hipótese de que Monique fora dopada, Kac lembrou que a mãe de Henry e o padrasto ficaram da madrugada daquele dia até o início da manhã ocupados com a tentativa de resgate da criança e, posteriormente, com os trâmites legais da morte.

Não me parece que uma pessoa dopada num determinado momento tivesse condições necessárias de levar o filho no colo, de tomar automóvel, de fazer manobra boca a boca, de prestar depoimento no hospital. Então acho que essa hipótese é muito, muito remota, muito, muito pouco provável

Marcos Kac, promotor de Justiça

O relato sobre a possibilidade de uma ex-namorada do vereador ter sido dopada foi obtido pelo programa Fantástico, da TV Globo. Uma mulher de Angra dos Reis (RJ) conviveu em 2015 com Jairinho, uma ex-namorada do vereador e seus dois filhos durante uma estada da família na cidade da Costa Verde do Rio. Ela relatou incidentes envolvendo Jairinho e as crianças.

"Da primeira vez, eu percebi que o menino estava com umas manchinhas roxas. Um pouquinho na barriga, um pouquinho na perninha. Na segunda vez, eu escutei a mãe falar que tinha acordado de madrugada como se estivesse dopada de remédio. Ela levantou com as pernas pesadas, e Jairinho estava dando banho na criança", disse a mulher.

Segundo ela, a criança chorava enquanto o vereador dava o banho e havia outra pessoa que chamava Jairinho de "monstro".

Preocupação de se "livrar" do corpo

Na entrevista ao UOL, Kac afirmou que Monique e Jairinho demonstraram preocupação para enterrar o corpo da criança o mais rápido possível e sem realização de perícia. Segundo ele, essa preocupação ficou evidente após um depoimento dado ontem por um "alto executivo" da área da saúde. À Polícia Civil, o homem afirmou ter recebido quatro ligações do vereador, que pedia que o atestado de óbito de Henry fosse agilizado.

"É extremamente relevante no sentido de demonstrar que havia preocupação do casal de se livrar do corpo de forma rápida. Queriam fazer enterro rápido e não queriam que passasse pelo IML. Isso fica claro", disse o promotor.

Investigação pode ser encerrada em 15 dias

Kac afirmou ainda que as investigações do caso estão sendo conduzidas com "total isenção e imparcialidade" e disse ser possível que esta etapa de apurações seja concluída dentro de um período de 15 dias.

"Posso afirmar que a atividade está sendo desenvolvida da melhor forma. Acredito que em mais uma semana, 10 ou 15 dias, a gente possa ter o desfecho da investigação", ponderou.

O promotor também afastou a tese de que houve ilegalidade na colheita de provas. A estratégia foi adotada pela defesa de Jairinho e Monique, que afirma que a apreensão de objetos como celulares no apartamento do casal foi realizada de forma ilegal.

Relembre o caso

O menino Henry Borel Medeiros, 4, foi encontrado morto em 8 de março deste ano, no apartamento que sua mãe, Monique Medeiros, que morava com o namorado, o vereador do Rio Dr. Jairinho. O menino tinha diversas lesões graves pelo corpo, de acordo com a Polícia Civil.

A mãe e o vereador afirmaram à polícia que o menino sofreu um acidente doméstico. Para a polícia, no entanto, a versão apresentada pelos dois é falsa. A perícia feita no corpo de Henry apontou que a causa da morte foi uma hemorragia interna e uma laceração no fígado causada por uma ação contundente.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, o casal cometeu o crime de homicídio duplamente qualificado e poderá ser condenado a 30 anos de prisão. Segundo ele, o casal torturou e causou impossibilidade de defesa da criança durante o crime.

A investigação localizou, por meio de conversas da babá da criança com a mãe, que ele sofria agressões físicas constantemente do vereador carioca. A babá do garoto, segundo a polícia, era muito próxima do casal e mentiu em depoimento para respaldar a versão apresentada por eles. Ela pode responder pela prática de falso testemunho.

Segundo os investigadores, o vereador se trancou num quarto do apartamento que vivia o casal para agredir a criança com chutes e pancadas na cabeça um mês antes do crime — a mãe soube das agressões, ainda de acordo com a polícia.

Um dia antes do ocorrido, Henry foi deixado pelo pai, Leniel Borel, no condomínio que mora a mãe após um final de semana. Câmeras de segurança flagraram a chegada do menino. Na madrugada do dia seguinte, Jairinho e Monique foram vistos levando o menino ao Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, onde relataram que a criança apresentava dificuldade respiratória.

O casal ligou para o pai do garoto para relatar o ocorrido. Leniel foi, então, até a unidade de saúde e encontrou os médicos tentando reanimar a criança. Orientado pelos profissionais do hospital, o pai do menino abriu uma ocorrência na 16ª DP para entender o que aconteceu com o filho.

Os dois foram detidos ontem, quando completou um mês da morte da criança, em um endereço que eles não tinham informado inicialmente no inquérito, na casa de uma tia do vereador, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.