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Polícia diz que tiro em prefeito foi acidental; ele teria 'esquecido' bala

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

30/04/2021 11h54Atualizada em 30/04/2021 18h38

A Polícia Civil concluiu ontem a investigação sobre o disparo que deixou ferido o prefeito de Itapuca (RS), Marcos José Scorsatto (DEM), em 9 de abril. O caso aconteceu dentro do próprio gabinete do chefe do Executivo e funcionários tiveram que arrombar a porta para socorrê-lo, o que foi flagrado em vídeo.

A conclusão aconteceu após depoimento do próprio prefeito, em que ele deu detalhes sobre como acabou atirando em si mesmo, afirmando que acreditava ter tirado toda a munição da arma, uma pistola .380.

"Nesse depoimento, ele confirma que foi um disparo acidental. Afirmou que tinha tirado todas as munições do carregador, mas por descuido esqueceu a da câmara. Que ao se levantar da poltrona, pegou a arma e acabou apertando no gatilho", explicou a delegada Alice Jantsch.

Com isso, foi descartada a hipótese de autolesão, em que uma pessoa fere a si mesma, mesmo sem intenção de morrer.

Marcos José Scorsatto, de 46 anos, foi reeleito em Itapuca - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Marcos José Scorsatto, de 46 anos, ficou ferido após dar um tiro acidental em si mesmo
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Em entrevista o UOL, o prefeito explicou que está afastado do cargo por atestado médico e que ainda faz fisioterapia de manhã e tarde para voltar o quanto antes à rotina normal.

O tratamento é necessário por conta da dificuldade de respirar, principal sequela do tiro, que atingiu o pulmão do político. A perfuração acabou enchendo o pulmão de Scorsatto de água e sangue, sendo necessário realizar uma drenagem. "Ainda há um pouco de água no pulmão", observa ele.

O prefeito recebeu alta em 21 de abril, mas a fisioterapia já começou no terceiro dia de internação no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Hospital São Francisco de Paulo, em Passo Fundo, para onde foi transferido.

Prefeito fazia aula de tiro

Ao UOL, Scorsatto explicou ainda que estava com a arma no gabinete pois no dia anterior ao disparo foi a uma propriedade rural para praticar tiros.

"Eu acredito que neste dia devo ter deixado uma bala dentro do cano. Eu tenho arma há muitos anos, mas não costumo andar armado, apesar de ter porte de armas", afirmou.

O político conta que no dia do acidente estava envolvido em um projeto que seria encaminhado para a Câmara de Vereadores e estava trancado no gabinete para se concentrar.

"Depois que eu terminei o projeto eu liguei para o meu irmão para vir conversar comigo. E aí peguei a arma que estava dentro da bolsa, acabei tirando as balas do pente e não verifiquei em cima se tinha bala ou não. E também para ser sincero naquele momento, naquela semana, estava com uma pressão muito grande, um estresse muito grande, eu acredito que esse tenha sido o motivo pelo qual eu 'me passei' dessa preocupação com a arma", explica o prefeito.

Ele conta que acabou colocando a munição dentro de uma gaveta, mas o pente de volta à pistola.

"Saí da minha cadeira e sentei numa poltrona que tem no gabinete. Fiquei com a arma na mão, olhando a arma. E naquilo eu coloquei a arma no lado da poltrona."

O político aguardava o irmão, secretário de saúde, que acabara de chegar na prefeitura, o que foi visto pelo prefeito pelo sistema de câmeras no gabinete. "Quando fui me levantar da poltrona e eu peguei a arma para colocar em cima da mesa para abrir a porta para ele, eu devo ter levado o dedo no gatilho e ela acabou detonando no meu peito", teoriza Scorsatto.

Após o tiro, ele diz que caiu na poltrona, já ensanguentado. "Naquele momento eu já estava com problema de respiração, como se fosse imediato. Eu ouvia meu irmão falando na porta me chamando e eu não conseguia responder para ele. (...) Eu até lembro do barulho (do arrombamento da porta)", explica o prefeito, lembrando a entrada forçada dos funcionários.

"Foi uma coisa muita rápida, a única coisa que naquele momento você pede é que tudo acabe certo. Foi um momento de muita agonia por não poder falar", afirma.

Apesar das sequelas imediatas, a previsão é de que o prefeito retome os trabalhos em 15 dias.

Arrombamento de gabinete foi flagrado em vídeo

Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gabinete do prefeito é arrombado após o disparo de arma de fogo ser ouvido de dentro da sala

Na gravação, disponibilizada pela Polícia Civil e sem áudio, é possível visualizar no corredor o irmão do prefeito e secretário de saúde Flávio Scorsatto. Ele caminha para acessar a sala da administração, ao lado do gabinete do prefeito, mas para ao ouvir o estampido. O secretário de saúde vai até a porta vizinha e percebe que está fechada.

Um outro homem também sai de outra sala, em frente ao gabinete do prefeito, assustado com o barulho. O irmão do prefeito tenta primeiro arrombar a porta com a lateral do corpo, sem resultado. Em seguida, ele e o outro homem se alternam a chutar a porta até conseguir abrir. Com o barulho, outras quatro pessoas se aproximam para ver o que está acontecendo. Dali, foi levado para atendimento médico.

O inquérito sobre o caso deve ser enviado à Justiça apenas na próxima semana, após um ataque hacker contra o sistema do TJ - RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul).

Com a conclusão apontando para tiro acidental ele pode acabar arquivado. "Somente o Ministério Público pode, após analisar, pedir o arquivamento, o qual será determinado pelo juiz", explica a delegada Scorsatto.

A arma de onde saiu o disparo foi entregue à polícia no dia seguinte ao incidente e, segundo o irmão do prefeito, foi encontrada no assoalho do carro onde ele foi socorrido.

Testes de balística comprovaram que o tiro saiu da arma do político.