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Belford Roxo: polícia revela dificuldades para investigar sumiço de meninos

Lucas, Alexandre e Fernando desapareceram em 27/12; segundo delegado, traficantes podem estar envolvidos - Reprodução/TV Globo
Lucas, Alexandre e Fernando desapareceram em 27/12; segundo delegado, traficantes podem estar envolvidos Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

16/05/2021 21h26Atualizada em 16/05/2021 21h43

A Polícia Civil do Rio de Janeiro diz encontrar dificuldades para investigar o desaparecimento de três meninos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que hoje completa 140 dias. Em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, o delegado responsável pelo caso explicou que a área onde as crianças moram é controlada por traficantes, e qualquer tentativa de entrar lá exigiria "planejamento operacional".

"A gente tem uma dificuldade de ingressar no cenário onde as crianças moravam. É uma região conflagrada e que, para a gente entrar, a gente precisa de planejamento operacional para atuar ali dentro", disse Uriel Alcântara Machado. "Nenhuma linha de investigação está descartada, inclusive com a possibilidade de envolvimento do tráfico."

Lucas, de 9 anos, e Alexandre e Fernando, ambos de 11, desapareceram em 27 de dezembro. Ao "Fantástico", as mães dos três meninos contaram ter reportado o sumiço à polícia naquele mesmo dia — mas foram mandadas embora com a recomendação de voltar após 24 horas.

Os policiais, relataram as mulheres, disseram que podia se tratar de uma "pequena travessura".

"Nesse dia eu estava dormindo. Ele me acordou para me pedir R$ 2, eu falei que não tinha. Aí eles saíram para brincar, depois voltaram todos sujos de barro. Tomaram banho, pegaram um pão e saíram", lembrou à reportagem Rana Jéssica da Silva, mãe de Alexandre e tia de Lucas.

"Quando foi 15h, 16h, eu comecei a sentir falta [do meu filho], mas não fui ainda na casa delas [mães]. Eu mesma, sozinha, comecei a andar por ali, aí eu subi sozinha, encontrei com elas e fiz amizade com elas", completou Tatiana da Conceição Ribeiro, mãe de Fernando.

Segundo Gislaine Kepe, defensora pública no Rio, houve uma falha por parte da polícia em não começar as buscas logo que as famílias noticiaram o desaparecimento. Além disso, o prazo de espera de 24 horas é válido apenas para adultos, e não para menores de idade.

"Se a busca começasse logo na primeira vez em que as famílias foram à delegacia, as crianças provavelmente estariam próximas as suas casas e seria muito mais fácil encontrá-las", avaliou.

A Defensoria Pública está acompanhando e cobrando agilidade nas ações da polícia, e estamos bastante descontentes com a falta de sucesso em descobrir o paradeiro destes meninos.
Gislaine Kepe, defensora pública

Em nota enviada ao "Fantástico", a Secretaria de Estado da Polícia Civil afirmou que orienta a todas as suas delegacias a realizarem o registro de desaparecimento imediatamente. A recomendação para esperar 24 horas, ainda segundo o órgão, teria partido de uma pessoa não identificada, de fora da delegacia.

"O fato não muda em nada o andamento da investigação, tendo em vista que, caso o registro tivesse acontecido na noite do dia 27 em uma distrital, teria sido encaminhado apenas no dia seguinte (28) ou até posteriormente para a DHBF [Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense], que iniciou as investigações no mesmo dia 28", acrescentou.

Sem sinal de seus filhos há mais de quatro meses, Rana, Tatiana e Camila Paes da Silva, mãe de Lucas, têm comandado buscas por conta própria, a partir de denúncias de moradores da região, e mantêm a esperança de reencontrar os três meninos.

"Eu tenho esperança de eles aparecerem e a gente voltar a ser feliz de novo. A gente também está sofrendo", disse Rana, emocionada.