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Vídeo mostra policial penal arrombando porta e dando coronhadas em vizinho

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

15/07/2021 16h22Atualizada em 16/07/2021 08h31

Um policial penal arrombou o apartamento de um vizinho e agrediu o homem com socos e coronhadas na última segunda-feira (12) em um prédio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Evandro Soares é agente da SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) e chegou a ser preso em flagrante, mas pagou fiança e foi solto.

A agressão aconteceu depois que o policial se irritou com barulhos vindos do apartamento do analista de sistemas Leandro Citro, de 34 anos, que mora com a esposa e uma filha de dois anos. Nas imagens das câmeras de segurança, é possível ver o policial armado e arrombando o apartamento da família.

O analista levou pontos na cabeça, está com hematomas no rosto e disse ter medo de voltar para casa.

O caso aconteceu por volta das 23h e está sendo investigado pela 32ª DP (Taquara). O policial teve a arma apreendida e irá responder por lesão corporal e invasão de domicílio. Em nota, a SEAP informou que Evandro está respondendo a um processo administrativo disciplinar e foi afastado das atividades.

Leandro mora com a família há cinco anos no condomínio em que foi atacado e declarou que nunca teve problema com nenhum vizinho em outras ocasiões, incluindo Evandro, que sequer conhecia pessoalmente.

Como o policial responde às acusações em liberdade e até o momento a Polícia Civil não cedeu nenhum tipo de medida protetiva, o analista conta que preferiu não voltar para casa e está morando temporariamente na casa de um familiar.

Em entrevista ao UOL, Leandro conta que todas as agressões aconteceram na frente da filha de dois anos, que está traumatizada e pergunta "por que aquele homem fez isso com o papai". A menina, que passa a maior parte do tempo em casa, brincando, acaba fazendo alguns barulhos com os brinquedos, explicou ainda a vítima.

O policial, que mora no apartamento 510, chegou a reclamar dos vizinhos do 610 para o condomínio. Leandro afirma que, assim que foi notificado, ele e a mulher colocaram um tapete de borracha no quarto da filha, para reduzir o ruído e evitar novas reclamações.

Na noite das agressões, segundo o analista, ele e a filha estavam dormindo. Apenas Cintia, mãe da criança, estava acordada fazendo um trabalho. Em certo momento, o policial enviou uma mensagem no grupo de Whatsapp do condomínio: "começou o inferno no 610".

Cintia respondeu que ele estava equivocado e o investigado disse que iria até o apartamento dos vizinhos "levar balas" para eles. Quando a campainha tocou, Leandro conta que olhou pelo olho mágico, abriu a porta e se deparou com o homem armado, dizendo: 'eu vou te matar'.

Ele conseguiu trancar a porta, mas o homem não desistiu. Nas imagens das câmeras de segurança, é possível ver Evandro dando chutes e socos na porta, até que consegue derrubá-la.

"Eu falei para ele soltar a arma, parar com isso, até que ele tenta me dar um soco e acerta na minha esposa, que estava tentando separar a briga. Aí eu me descontrolei e parti para cima dele", detalhou Leandro. Vizinhos e um segurança do prédio apareceram para tentar conter o policial. O analista pegou a arma do investigado - que estava engatilhada - e deixou o objeto na portaria.

Quando pegou o elevador para voltar a seu apartamento, a vítima encontrou novamente o policial, que pegou uma segunda arma para ameaçar o vizinho.

"Ele pegou duas armas para tentar me matar, o cara estava transtornado. Eu pedia pra ele parar e perguntava: 'Você vai me matar por causa disso?'. Nessa segunda parte, ele me batia muito. Minha cabeça está inchada, tomei quatro pontos, sinto muitas dores e tinha certeza que ia morrer", disse Leandro.

Após receber atendimento na UPA mais próxima, Leandro foi à delegacia prestar queixa: "O delegado disse que não tinha como prender porque não tinha provas o suficiente, não houve disparos. Depois que ele viu os vídeos, que decidiu ir até o condomínio para fazer a prisão".

A vítima passou por exame de corpo e delito no IML (Instituto Médico Legal) e, quando saiu, foi surpreendido com a notícia de que Evandro havia sido solto após pagar fiança e já estava em casa.

"Me senti impotente. A gente nunca imagina que pode acontecer isso um dia. Senti a injustiça desse país na pele. O que me deixa mais triste é que não mantiveram ele preso e nem chegaram a registrar a segunda arma na delegacia. Agora o sentimento é injustiça", lamenta.

O policial Evandro Soares mora com a esposa e dois filhos em um apartamento alugado no condomínio.

"Já que o delegado não me ofereceu nada, tive que voltar ao apartamento para resolver umas coisas com um amigo. Fico com medo do que pode acontecer, o advogado do condomínio disse que não pode expulsá-lo e eu não sei o que fazer agora", disse Leandro.

O UOL tenta contato com Evandro Soares. Assim que houver retorno, a matéria será atualizada.