GO: Homem pede perdão a noivo e morre de covid-19 no dia do casamento
O empresário Saulo Rodrigues Lopes, de 37 anos, morreu de complicações da covid-19 ontem, dia em que se casaria com Rafael Ferreira Luiz, 27, em Anápolis (GO). Segundo o noivo, Lopes morreu de uma parada cardiorrespiratória no horário exato em que o casal teria programado para dar início à celebração - que quando foi anunciada em redes sociais, virou alvo de ataques homofóbicos. "No sábado (17), ele pediu perdão porque não conseguiria casar comigo", contou.
Saulo estava internado em um leito de UTI do Centro de Internação Norma Pizzari Gonçalves, desde a última semana, quando o estado de saúde dele piorou.
O empresário foi infectado pelo novo coronavírus no início do mês e vinha se tratando isolado em casa. Ao dar entrada no hospital, exames apontaram que Lopes estava com 60% dos pulmões comprometidos pela infecção. O empresário foi intubado no sábado (17), mas, antes, se despediu do noivo.
Devido à covid-19, não houve velório. Familiares e amigos do empresário realizaram um cortejo durante o traslado do corpo, que saiu do Centro de Internação Norma Pizzari Gonçalves direto para o cemitério Park de Anápolis, onde ocorreu o enterro.
O casal ficou conhecido depois que recebeu diversas ameaças de morte e ataques homofóbicos pela internet após anunciar o casamento, com a divulgação de um vídeo contando como o relacionamento teve início, há 10 meses.
"Vocês vão morrer. Vocês são uma vergonha para a cidade. Seus gays nojentos... Isso é falta de porrada na cara", ameaçava um perfil falso. Lopes e Luiz registraram três boletins de Ocorrência, no mês de maio, pedindo providências sobre o caso. "Mas não tivemos retorno em nenhum. Inclusive levamos provas, como áudios, prints", contou Rafael. A delegacia de Polícia Civil de Anápolis investiga de onde partiram as ameaças de morte.
Rafael Luiz contou ao UOL que ele e o noivo tentaram não se abalar com os ataques homofóbicos, focaram no casamento e encomendaram toda festa. "Ele sempre falava que era para focarmos no casamento e que as ameaças não iam nos abater. Compramos várias câmeras para gente se sentir melhor. Nunca imaginei que no dia do nosso casamento iria acontecer isso", relatou o jovem.
Em junho, a loja de produtos importados do casal foi arrombada e teve toda mercadoria furtada. O prejuízo estimado foi de R$ 30 mil. O casal atribuiu o roubo aos ataques homofóbicos que vinha sofrendo. Amigos abriram uma vaquinha na internet para ajudar o casal a comprar novos produtos. O valor arrecadado até hoje foi de R$ 1.760,00. "Toda cidade conhece os dois e sabem bem o que estão passando com ataques homofóbicos desde que foi anunciado o casamento dos dois. Agora, o inimaginável aconteceu: ladrões entraram na loja deles e roubaram tudo, deixando um grande prejuízo", descreveu Bruno Vicente Machado, criador da vaquinha.
Após a iniciativa, os dois receberam novas ameaças, pelo celular. "Vocês gays deveria (sic) criar vergonha, bando de vagabundo. Simulam assalto para querer dinheiro. (...) Se eu ver vocês na rua, eu meto bala porque vai bom, é morto", dizia um dos textos. Em outra abordagem, junto à foto de um animal sangrando, lia-se: "vou sangrar vocês igual a esse animal". Os agressores ainda tentaram fazer contato por ligação de voz, mas, sem respostas, disseram: "atende. Tá com medo, bichinha?".
Lopes e Luiz, além de empresários, são influenciadores digitais, com perfis nas redes sociais. O perfil comercial de Saulo tem 40 mil seguidores, e o de Rafael, 23 mil. Rafael Luiz publicou nos stories uma série de fotos dele com Saulo Lopes e mensagens sobre o que está sentindo com o falecimento do noivo.
"Como vou viver sem você? Te perder logo hoje, que seria nosso casamento. Como tá doendo, não vou saber viver sem você. Você foi e sempre será o motivo de eu acordar todos os dias. Você tinha que partir logo hoje, meu amor? No nosso casamento? Gratidão por tudo, te amarei eternamente", escreveu, publicando também um vídeo com o ensaio fotográfico que o casal fez visando o casamento.
A delegacia de Polícia Civil de Anápolis informou que está investigando as ameaças com ataques homofóbicos e também o furto na loja de Lopes e Luiz, entretanto não divulgou detalhes se já existe suspeita ou identificação de quem cometeu os crimes. As investigações seguem sem previsão de conclusão.
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