Memorial em homenagem a mulheres negras é vandalizado no RJ
A pouco menos de uma semana do Dia da Mulher Negra, em 25 de julho, vândalos cobriram com tinta branca os rostos das mulheres negras homenageadas no memorial Nossos Passos Vêm de Longe, mural pintado em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e inaugurado há apenas 31 dias.
Uma das homenageadas, a professora Rose Cipriano, do Movimento Negro Unificado (MNU), fez um vídeo em frente à obra vandalizada na Baixada Fluminense para repudiar o ato contra o projeto, idealizado pela Iniciativa Direito à Memória e a Justiça Racial (IDMJR).
"Tem exatamente 1 mês que o memorial foi inaugurado, resgatando a memória de nove mulheres negras. (...) Até quando teremos que aturar o racismo, esse ódio à trajetória das mulheres negras? Deixo todo nosso repúdio, mas digo que não nos calarão, não irão apagar a nossa história", afirmou Rose no vídeo postado nas redes sociais.
Além da professora, o projeto tem imagens homenageando outras mulheres conhecidas por seu trabalho em defesa da população negra: Mãe Beata de Yemanjá - grande defensora das religiões de matriz africana -, Silvia Mendonça, Ana Leone, Maria Conga - mulher escravizada vinda do Congo, alforriada aos 35 anos e símbolo da luta pela liberdade -, Dona Leonor, Nívea Raposo, Fátima Monteiro e Marielle Franco - vereadora morta em 2018.
Segundo o site do IDMJR, o mural, na Avenida Leonel de Moura Brizola, foi executado pelos artistas Rodrigo Mais Alto e Kleber Black, ambos criados na Baixada Fluminense, e inaugurado em 19 de junho.
"Nascendo negro você já é um potencial alvo para essas agressões, para a exclusão, tanto social quanto nos instrumentos públicos, e nós não conseguimos passar pela nossa vida sem sofrer as questões raciais, não só as que afetam o povo todo, mas as pessoais", lamentou Fátima Monteiro, líder comunitária e ex-catadora de material reciclável, em entrevista à TV Globo.
Em resposta ao ato de vandalismo, o grupo convocou um ato de desagravo para o próximo dia 25, em que estarão presentes na restauração da obra.
A ambulante Ana Carolina Barreto contou à emissora carioca que ela e outros trabalhadores da região viram o momento em que um homem pintou os rostos.
"Um carro chegou, um carro bonito, e um rapaz branco, muito bem vestido, desceu, com tinta, com rolo. A gente pensou que ele ia fazer um painel do outro lado, mas ele não fez. Ele só não conseguiu pintar o restante porque os camelôs daqui 'botaram ele pra correr'", detalhou.
Em nota, a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial afirmou que "se sente atacada diretamente junto com as mulheres negras representadas no memorial", definindo o vandalismo como uma ação motivada pelo ódio "racial, patriarcal e de classe produzido por um projeto de supremacia branca".
Apesar do ato criminoso, a organização explicou que, por ser abolicionista, não pretende recorrer ao judiciário, com denúncias à polícia.
"Historicamente, processos punitivos não resolvem problemas estruturais. Por isso desejaríamos que o grupo ou pessoal que realizou esse ato racista pudesse reparar e se constranger com a publicidade de seu ato", concluíram os idealizadores em comunicado.
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