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Casal morto por asfixia montou motorhome por 2 anos e queria viajar o país

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

06/08/2021 15h20Atualizada em 06/08/2021 16h33

Sônia Oliveira, de 61 anos, e Ricardo Abreu, de 63, casal encontrado morto em um motorhome estacionado em Gramado, pretendiam se aventurar percorrendo várias cidades pelo país dentro do veículo, que demorou dois anos para ficar pronto.

Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a investigação indica que ambos morreram asfixiados por intoxicação de monóxido de carbono vazado para dentro do motorhome. Sônia era secretária municipal de Educação de Gravataí (RS) e Ricardo estava aposentado. Os dois foram achados já sem vida na terça-feira (3).

De acordo com a família, Ricardo esperava a aposentadoria da esposa para que os dois pudessem viajar com mais frequência dentro do motorhome.

"Eles não viajavam muito. Neste ano que começaram a passar mais tempo na estrada. Por causa do trabalho dela, não tinha muito tempo. O motorhome começou a ser construído há dois anos e ficou pronto em meados do último verão. O veículo era pequeno, do tamanho de uma van. O sonho dele era viajar com ela para aproveitar a vida. A Sônia relutava um pouco, mas sempre se mostrava companheira, fazendo parceria", contou o irmão de Sônia, Dário Oliveira.

A família diz que o casal usou o veículo em outras viagens pelo Rio Grande do Sul, sobretudo para cidades fronteiriças. Era a primeira vez que Sônia e Ricardo escolheram Gramado para passar um fim de semana.

Os parentes acreditam que ambos morreram na madrugada de domingo (1), levando em conta o início da falta de contato com os dois.

"Domingo, ela já não conversou com a gente. Também não estranhamos porque estavam passeando. Pelo o que eu saiba, foi a primeira vez que foram a esse camping de Gramado. Eles viajavam mais para a região da fronteira com o Uruguai", comentou o irmão da secretária de Educação.

Casal recebe homenagens de amigos

Amigos e família não pouparam elogios ao casal em homenagens feitas nas redes sociais.

A prefeitura de Gravataí lamentou a morte da secretária municipal. "Uma das figuras públicas mais queridas de Gravataí, com dezenas de anos de atuação na política", disse comunicado.

Sonia era filha do ex-prefeito de Gravataí e ex-deputado estadual Dorival de Oliveira. Ela e Ricardo deixam dois filhos e um neto.

O atual prefeito da cidade da cidade gaúcha, Luiz Zaffalon (MDB), decretou luto oficial de três dias e suspendeu as aulas por um dia.

"A Sônia era muito alegre, divertida e responsável, além da capacidade de humanizar os espaços onde estava, com relacionamento fácil. Já o Ricardo era mais na dele, mas sempre dando o amparo para a esposa, que era muito envolvida na política", frisou Dário Oliveira.

"A homenagem de amigos tem sido muito forte. Isso não chega a ser surpresa porque a gente sabia como o pessoal amava demais a Sônia no ambiente de trabalho. Até os sindicatos - que teoricamente eram oposição à administração pública - a viam com muito respeito", acrescentou.

Polícia investiga

Segundo a Polícia Civil, a família notou algo de errado com o casal na terça-feira (03), já que a data prevista para o fim da viagem era segunda-feira. Avisados pelos parentes das vítimas, investigadores arrombaram o veículo e viram os corpos.

O IML (Instituto Médico Legal) ainda não finalizou o laudo, mas, segundo a Polícia Civil, a causa da morte já foi confirmada como asfixia por intoxicação de monóxido de carbono.

"Provavelmente eles estavam dormindo, não perceberam que o gás entrou no motorhome. Ao que indica a cena do fato, ele morreu dormindo mesmo. Ela ainda teria tentado reagir, mas caiu no corredor do veículo. A perícia de engenharia mecânica constatou defeitos no aquecedor da água, o que levou a essa combustão errada, gerando o monóxido de carbono", afirmou o delegado Gustavo Barcellos.

A hipótese de homicídio não foi considerada, já que não havia sinais de violência e nem crime patrimonial, pois nenhum pertence foi levado do veículo.