Racismo no Leblon: 'Dor enorme', diz jovem negro após Justiça arquivar caso
Um dia após a Justiça arquivar o processo de calúnia contra o casal Mariana Spinelli e Tomás Oliveira, que acusaram Matheus Ribeiro, de ter furtado uma bicicleta elétrica no Leblon, o instrutor de surfe declarou sentir uma dor enorme com todo o processo e criticou o andamento do inquérito na delegacia. Ribeiro disse que o objetivo não era tipificar o caso como calúnia, mas, sim, como racismo. Ele também disse que não conseguiu encaminhar o caso para a Delegacia de Crimes Raciais.
Diante do arquivamento, Ribeiro afirmou que continuará lutando para que seu caso não seja mais um: "Queria dizer que nossa voz tem força, que vou continuar tentando mostrar o que acontece quando um negro vai a delegacia e tenta expor sua indignação", disse ele em um vídeo divulgado nesta sexta-feira (6).
"Eu não vejo motivo nenhum para a abordagem que eu recebi, a não ser pelo motivo racial. (...) O [homem] loiro que roubou a bicicleta está livre e eles [casal que abordou Matheus] estão sem nenhum processo, enquanto eu estou sem a bicicleta, sendo investigado por um crime. Isso além de deixar uma dor imensa me faz refletir como as leis desse país e os responsáveis por fazer a Justiça funcionam".
Em junho, ao esperar a namorada sair de um shopping no bairro do Leblon, área nobre da zona sul do Rio, o instrutor de surfe foi abordado por Tomás Oliveira e Mariana Spinelli. Nas imagens feitas por Ribeiro, é possível ver o casal insistindo que a bicicleta elétrica pertencia a Mariana. Os dois só desistiram da acusação de roubo ao tentar e não conseguirem abrir o cadeado da bike com a chave que possuíam.
O caso foi registrado na delegacia do bairro, e as investigações apontaram um homem loiro como autor do furto da bicicleta de Mariana. Ribeiro, que comprou a bike elétrica em um site de vendas na internet, passou a ser acusado de receptação, pois adquiriu um produto roubado, segundo ele, sem saber.
O veículo custou R$ 4.500 e segundo a polícia, foi furtado de um empresário em Ipanema, no mês de fevereiro. A bike foi apreendida e devolvida ao legítimo proprietário. A polícia, no entanto, não apurou quem vendeu o produto roubado, nem a loja online que intermediou a negociação.
Advogado fala em violação de direito
O advogado criminalista Bruno Cândido, que representa Matheus, também criticou a tipificação do caso como calúnia e não como racismo.
"Nós nunca afirmamos que era calúnia, a gente sempre afirmou que era racismo praticado através do preconceito que é um juízo de valor baseado em estereótipos. Matheus foi colocado na figura de ladrão de bicicleta a partir do momento que foi identificado como pessoa cuja palavra está numa relação social de desconfiança e dessa forma foi desrespeitado por Tomás e Mariana".
Para a defesa, houve uma grave violação institucional no direito de Ribeiro por ele passar a responder a um procedimento por receptação, mesmo tendo sido ouvido na condição de vítima. "Isso é razoável para alguém?", questionou.
A Justiça do Rio de Janeiro decidiu ontem pelo arquivamento do caso de calúnia contra Matheus. Na decisão, o juiz Rudi Baldi Loewenkron diz que não se descarta a possibilidade de "descuido" por parte do casal, mas que o caso não poderia configurar calúnia, já que não houve dolo — ou seja, a intenção de acusar falsamente. O magistrado afirmou ainda que, como não existe calúnia culposa (em que não há intenção), decidiu pelo arquivamento do caso.
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