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Após humilhação, irmãos que vendem empanadas recebem R$ 155 mil de vaquinha

Leandro, de 14 anos, foi humilhado por um grupo de jovens ao tentar vender empanadas em Santos - Reprodução/Redes Sociais
Leandro, de 14 anos, foi humilhado por um grupo de jovens ao tentar vender empanadas em Santos Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

03/10/2021 15h00

Os irmãos Leandro e Alexandro Homero Ciancaglini Ullua, de 14 e 15 anos, respectivamente, receberam cerca de R$ 155 mil arrecadados em uma vaquinha online.

Eles enfrentaram um episódio de humilhação na cidade de Santos, litoral de São Paulo, na noite de 24 de setembro. Membros de uma família de argentinos que imigrou para o Brasil, eles vendiam empanadas e doces nas ruas do bairro do Gonzaga quando um grupo de jovens arrumou confusão com Leandro.

Eles foram auxiliados por duas mulheres que passavam pela rua Tolentino Filgueiras naquela noite e viram a confusão. Uma delas, a dentista Gabriela Guidotti, decidiu contar a história em um post, que viralizou nas redes sociais.

"Presenciei uma das piores cenas que já vi na minha vida, daquelas que pensamos que só existem em filme", escreveu Gabriela. "Esse menino [Leandro] estava vendendo na rua Tolentino e um bando de meninos o humilharam, jogaram as empanadas dele no chão, xingaram a receita que era da avó dele."

Alexandro e irmão Leandro agradecem às mulheres que os ajudaram - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Alexandro (de camisa verde) e seu irmão, Leandro, agradeceram às duas mulheres que os ajudaram
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Leandro, nascido no Brasil, e Alexandro, natural da Argentina, são os mais velhos de cinco irmãos. Eles passaram parte da infância com a avó materna, na cidade de Córdoba. De volta ao Brasil, desde os 9 anos ajudam os pais, Edgardo, de 64 anos, e sua mãe Maria, de 39 anos, nos negócios da família.

O pai, contou Alexandro ao UOL, já foi proprietário de uma fábrica de carvão em São Paulo e depois trabalhou com atividades de câmbio em Foz do Iguaçu (PR), onde também abriu um restaurante. Mas a crise econômica em 2016 obrigou Edgardo a entregar o ponto. A partir daí, os salgados e doces argentinos começaram a ser produzidos em casa pelos pais, já de volta a São Paulo, e os irmãos, já de volta ao Brasil, saíam às ruas da cidade para vendê-los.

"Meu pai queria voltar para São Paulo, mas não tínhamos dinheiro. Daí um amigo do meu pai, joalheiro, pagou as passagens para nós", conta Alexandro. "Chegamos sem nada, mas meu pai conseguiu fazer um acordo com uma empresária e, um ano depois, abriu outro restaurante em Santa Cecília."

O negócio não prosperou. Aconselhado por um empresário amigo da família, Edgardo mudou-se com a família em dezembro de 2019 para Praia Grande, no litoral de São Paulo. Montou um negócio online, de venda de doces e salgados. As vendas iam bem até que a pandemia chegou e paralisou o comércio.

"Comecei a vender os estoques do que a gente produzia nas ruas da cidade. Usando máscara, álcool gel e tomando os cuidados que exigiam. Um dia, um cliente sugeriu que eu experimentasse vender em Santos, ele dizia que lá as pessoas têm mais dinheiro para comprar", diz Alexandro.

A princípio, Alexandro ia sozinho tentar as vendas no município vizinho. Todos os dias, saía da pousada em Praia Grande, onde a família morava, e enfrentava uma viagem de 50 minutos de bicicleta até Santos. A experiência deu certo e, meses depois, Leandro já o acompanhava nas vendas, no bairro do Gonzaga. Eles chegaram a vender 50 doces e 50 empanadas num único dia.

Ofensas e piadas maldosas

Foi no bairro do Gonzaga, na noite de 24 de setembro, que Leandro foi abordado por um grupo de jovens, aparentemente alcoolizados. Eles tinham comprado alguns doces de Alexandro, pouco tempo antes, e o confundiram com o irmão.

"Eles jogaram os doces no chão, reclamando que estavam ruins. Depois, falaram que iam comprar empanadas dele, mas derrubaram sem querer a caixa no chão. Quatro salgados caíram da caixa e eles acabaram pisando em cima. Eles queriam pagar a metade do valor e meu irmão tentou argumentar. Começaram a ofender, a fazer piadas maldosas. Foi quando as duas moças apareceram para ajudar", diz Alexandro.

Alexandro conta que Leandro ficou nervoso e começou a chorar, chamando a atenção das mulheres que assistiram a cena. Elas, além de pagar pelas empanadas que haviam caído, ainda o ajudaram a vender o resto dos salgados que ele havia trazido de Praia Grande.

Após o post publicado por Gabriela nas redes, uma empresa especializada em vaquinhas online se ofereceu para criar uma especialmente para ajudar os adolescentes. A meta era arrecadar R$ 140 mil para que a família pudesse abrir um restaurante em Santos. Para surpresa dos irmãos e dos pais, a campanha, lançada às 18h de sexta-feira, já tinha conseguido arrecadar mais de R$ 155 mil até as 8h de sábado.

"Com a repercussão do post, muitas pessoas apareceram para ajudar", contou Alexandro, animado com a possibilidade de trabalhar no novo restaurante.