Delegado nega relacionamento abusivo e diz que Monique intimidou Jairinho
Em depoimento na primeira audiência do Caso Henry Borel na 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, o delegado Henrique Damasceno, que comandou as investigações sobre a morte do menino de 4 anos, relatou um episódio em que Monique Medeiros, mãe da criança, intimidou o ex-vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho (sem partido) em troca de dinheiro.
Com base nas investigações, o policial afirmou que não há indícios de que ela estivesse em uma situação de relacionamento abusivo, conforme a professora alega. Questionado pelo advogado Igor de Carvalho, assistente de acusação representando Leniel Borel, pai de Henry, o delegado disse que Monique e Jairinho mantinham uma postura de casal durante a investigação.
Mais uma vez citando a apuração, Damasceno negou que Monique vivesse um cenário de coação e disse que ela chegou inclusive a intimidar Jairinho. "O que está absolutamente claro para mim é que ela mentiu. Ela mentiu e se mostrou, nas duas oportunidades que estava com ele, completamente à vontade com ele, estava como casal."
"A Thayná [a babá], em uma conversa com seu pai, fala que em uma discussão entre Monique e Jairo, a Monique estava tendo uma postura intimidatória. Ela disse que ele devia sair de casa mas ia ter que continuar pagando as contas ela. Os prints mostram, em outras palavras, que, se ele não continuasse pagando as contas dela, ela ia prejudicá-lo", disse Damasceno.
O delegado explicou que essa conclusão se baseia em uma conversa obtida em um dos aparelhos celulares apreendidos durante a investigação, que pertencia à babá Thayna de Oliveira Ferreira.
Também em depoimento hoje, a delegada Ana Carolina Medeiros, que atuou como auxiliar nas investigações do Caso Henry, reiterou o fato de Monique ter supostamente pressionado Jairinho.
"Pelo que foi apurado nas investigações, Monique não pareceu em momento algum intimidada ou subjugada. Pelo contrário. Se tivesse que afirmar um motivo [para ter cooperado com Jairinho] seria o financeiro", explicou.
Selfie, pizza e piada na delegacia
Ela também disse que a postura de Monique foi "atípica" para uma mãe que havia acabado de perder um filho de forma trágica.
"Observamos algumas condutas incompatíveis com uma mãe que acabou de perder seu filho", disse. "Ela tirou fotos sorridente [na delegacia], pediu pizza. Botou o pé em cima da mesa, fez brincadeiras."
Após mudar de advogados, Monique passou a sustentar que mentiu durante as investigações por medo de Jairinho, que a intimidaria. Da cadeia, a mãe de Henry escreveu uma carta relatando supostas situações de abuso, e sua defesa tentou que ela prestasse um novo depoimento, mas isso foi negado pela Polícia Civil.
O delegado, ouvido na audiência por mais de duas horas, afirmou que Monique chegou a chorar em um dos depoimentos, mas que no geral se manteve sem maiores reações.
Segundo ele, durante toda a investigação, Monique e Jairinho mantiveram uma postura de casal, sem nenhuma demonstração de que a mãe de Henry estivesse sendo intimidada.
Inquirido pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), o delegado narrou o comportamento do casal —que responde por homicídio triplamente qualificado— dias depois da morte, quando foram ouvidos na investigação.
Ele destacou que, em nenhum momento, os dois demonstraram sofrimento com a perda da criança.
"Soube através dos policiais que, enquanto Monique estava prestando depoimento, Jairinho fez uma piada absurda. Dizendo: 'Minha mulher está dentro de uma sala com três homens', tentando ser engraçado", relatou Damasceno.
Em outro momento, o delegado confirmou que Monique tirou uma selfie com Jairinho na delegacia no dia em que ambos prestaram depoimento.
Além do delegado Henrique Damasceno, compareceram à audiência outras nove testemunhas da acusação, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Além dos pais e padrasto de Jairinho, foram intimados Ana Carolina Ferreira Netto, ex-mulher de Jairinho, e a babá do menino. A juíza Elizabeth Machado Louro determinou que as testemunhas de defesa sejam ouvidas em outra data. A lista ainda não foi divulgada.
Defesa de réus discute com delegado
O depoimento de Damasceno foi marcado por embates com as defesas de Jairinho e Monique.
Num primeiro momento, o advogado de Jairinho, Braz Fernando Sant'anna, questionou a condução do delegado, à época na 16ª DP, sobre o caso.
De acordo com Sant'anna, um policial civil amigo de Leniel teria ido ao hospital Barra D'Or e ao IML (Instituto Médico-Legal) para rápida liberação do corpo do menino. O advogado questionou a ausência do homem, identificado como Sigmar, como testemunha no inquérito.
Damasceno respondeu que "as investigações foram mostrando as diligências e provas que são mais relevantes". "Nós reunimos inúmeras provas que demonstraram com muita clareza do que estamos diante aqui", afirmou, em alusão à suposta culpa dos réus.
O advogado Thiago Minagé, de Monique, foi quem protagonizou um embate mais duro com Damasceno. Ainda no início da inquirição, Minagé adotou a postura de interromper as respostas do delegado, além de afirmar várias vezes, em tom de voz alto, que Damasceno era "testemunha, não delegado".
Ao responder as últimas perguntas de Minagé, Damasceno já adotava uma postura impaciente no banco de testemunhas. Ouvia os questionamentos com a mão no rosto ou braços repousados na mesa. Mais de uma vez, rebateu questionamentos do advogado, alegando que já havia respondido.
Minagé na tréplica afirmava "quem pergunta sou eu" ou "eu pergunto, você responde". Em outro momento, o defensor de Monique disse: "Quando você me convocar para ser testemunha na sua delegacia, eu respondo às suas perguntas".
Ainda outro momento, Minagé duvidou da resposta de Damasceno sobre Monique ter sido ouvida como testemunha ou investigada na 16ª DP e lembrou, aos gritos: "O senhor está sob juramento".
A juíza Elizabeth Louro interrompeu: "Ameaça não. Advertência quem faz sou eu".
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