Choro e música: As reações de pai e mãe de Henry no 1º dia de audiência
O primeiro dia de audiência do processo que apura a morte do menino Henry Borel, de 4 anos, foi marcado pela emoção dos pais do garoto. Apesar de estarem em lados opostos, Monique Medeiros e Leniel Borel se emocionaram juntos em vários momentos da audiência, que durou 14 horas.
A mãe da criança estava sentada no banco dos réus. Ela é acusada, junto com o padrasto do menino, o ex-vereador do Rio Dr. Jairinho (sem partido), por homicídio triplamente qualificado. O pai é assistente de acusação.
Leniel prestou depoimento por quatro horas para corroborar a tese, sustentada pela denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que Jairinho matou Henry e Monique acobertou porque via "vantagens financeiras".
Emoção ao ouvir detalhes do crime
As provas técnicas afastaram a tese de que Henry morreu por acidente. Os laudos, depoimentos e provas reunidas pela Polícia Civil e pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) apontam que o menino foi morto por ação humana.
O processo na 2ª Vara Criminal da Capital apura agora qual a influência da mãe e do padrasto no crime.
Enquanto ouvia a juíza Elizabeth Machado Louro ler a denúncia que culminou no julgamento, o pai se emocionou. No momento que Elizabeth descrevia as lesões identificadas pelo laudo pericial, Leniel chorou e passou mal. Diante da cena, a juíza interrompeu a leitura para que o pai se acalmasse, bebesse água e tomasse um calmante.
Depois da leitura da denúncia, Leniel e as demais testemunhas saíram do plenário e foram para um local reservado, de onde cada uma sairia na hora que tivesse de prestar o seu depoimento. Não é permitido que uma testemunha ouça o depoimento de outra.
Ao sair da sala, Leniel passou a cerca de 5 m de Monique, mas nenhum dos dois demonstrou qualquer reação. Ele caminhou em direção à porta sem desviar o olhar. Ela continuou imóvel olhando em direção à juíza.
Até então, era assim que Monique estava: impassível. Vestida de moletom branco, calça jeans e chinelos brancos, observou atentamente a leitura da denúncia sem demonstrar qualquer reação, sempre com os braços repousados nas pernas. A mãe de Henry permaneceu dessa forma por cerca de três horas.
As primeiras lágrimas de Monique vieram à tona na terceira hora de audiência, durante o depoimento do delegado Henrique Damasceno, titular à época da 16ª DP (Barra da Tijuca) e responsável pelo inquérito policial que apurou a morte de Henry.
Em dado momento, Damasceno afirmou que "é evidente que Jairinho batia nessa criança", em referência a Henry, e que "Monique sabia das agressões". Imediatamente, a mãe do menino começou a chorar. Por alguns minutos, chorou de forma contida e, depois, bebeu um pouco de café.
Monique auxilia advogados e contesta em silêncio
Depois disso, Monique passou a fazer anotações durante os depoimentos, conversar com advogados e sinalizar a eles quando alguma fala de testemunha não condizia com a verdade —ou até para confirmá-la.
Isso aconteceu principalmente no depoimento de Leniel. Quando o pai de Henry falou que estava sem carro, porque o veículo ainda estava com Monique, o advogado Thiago Minagé, da defesa, perguntou a ela se era verdade. Monique acenou positivamente com a cabeça, enquanto fazia anotações. O defensor informou hoje ao UOL que a mãe de Henry fez uma ressalva —disse que o automóvel é dela.
Em outro momento, quando Leniel afirmou que Henry havia dito que "mamãe não é boa, mamãe é má", para se recusar a ir para a casa de Monique, ela reagiu rapidamente. Olhou para os advogados e, em seguida, para Leniel com a mesma expressão de espanto.
Pais choram juntos ao lembrar últimos momentos
O principal momento de comoção de Leniel e Monique foi quando o pai relembrou todo o último fim de semana junto ao filho. O menino estudava em uma escola católica, e o pai se emocionou ao lembrar de uma música religiosa que ouviu do filho ao colocá-lo na cama.
Enquanto repetia os versos "Mãezinha do céu, eu não sei rezar / Quero dizer que quero te amar / Azul é seu manto, branco é seu véu / Mãezinha, eu quero te ver lá no céu", Leniel se emocionou.
Ao mesmo tempo, Monique começou a chorar. Diferentemente da primeira vez, neste momento, ela chorou copiosamente. Com os olhos vermelhos, ela chegou a soluçar, abraçou o advogado Hugo Novais e precisou de um lenço para se recompor.
Depois, voltou a chorar quando Leniel citou novamente alguns episódios do filho —como aquele em que ele teria recusado voltar para a casa da mãe.
Ao sair da sala, ao fim do depoimento, Leniel passou por uma outra porta, mais distante de Monique.
Além de Leniel e Damasceno, outras oito testemunhas foram ouvidas nesta quarta-feira (6). As próximas audiências de instrução e julgamento —para ouvir as testemunhas de defesa— serão nos dias 14 e 15 de dezembro, por determinação da juíza responsável pelo caso.
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