Três homens somem de uma vez no RJ, e polícia apura envolvimento de milícia
A Polícia Civil do Rio abriu um inquérito para apurar o envolvimento de milicianos no desaparecimento de três homens que estavam juntos em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, no dia 6. O trio trabalha com comércio de gás, um dos serviços que milícias costumam controlar em áreas do Rio.
Jorge Teixeira de Abreu, de 45 anos, o sócio Paulo César Soares e o funcionário Fabricio Oliveira dos Santos saíram pela manhã de Itaguaí, cidade da região metropolitana, onde possuem um comércio, foram até Santa Cruz buscar um novo carregamento de gás e nunca mais foram vistos.
A região onde o trio desapareceu é dominada pela milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão do também miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, que foi morto pela polícia no mês de junho. A região também é alvo de investidas do grupo de Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, ex-aliado de Ecko.
De acordo com a parente de um dos desaparecidos, que não terá o nome divulgado por questões de segurança, o trio chegou em Santa Cruz por volta de 11h, abasteceu o caminhão e, na volta para casa, foi interceptado por três carros. Imagens obtidas pela família mostram os três sendo retirados do veículo e colocados em carros diferentes.
"Eles foram interceptados na rua Padre Decaminada e direcionados para a rua Conceição de Ipanema. Nessa rua, eles foram retirados do caminhão e colocados em três carros diferentes. Depois, as imagens mostram um guincho comercial levando o caminhão", disse a fonte.
De acordo ainda com a família, o veículo usado pelo trio foi localizado em outra rua, e uma pessoa que se apresentou na região como "Sorriso" afirmou à equipe de um lava jato próximo do local onde o caminhão foi estacionado que o veículo pertencia ao seu patrão. Ainda não há informações de quem seria esse homem.
A parente contou ainda ao UOL que Jorge trabalha com a venda de botijão de gás há 25 anos e nunca sofreu ameaças ou teve problemas para circular em Santa Cruz ou Itaguaí.
"Têm áreas que são específicas da milícia, mas ele nunca sofreu ameaça por conta disso. O Jorge era uma pessoa muita conhecida e as pessoas que os abordaram deixaram muitos rastros: placa de carro, guincho comercial...", disse a familiar.
A família criticou ainda a demora da Polícia Civil em iniciar as investigações.
"A gente já passou pela terceira delegacia e estamos sem respostas. Fizemos uma denúncia sobre o desaparecimento na Delegacia de Itaguaí, de lá transferiram para Delegacia de Descoberta de Paradeiros e mudaram depois para Delegacia de Santa Cruz. Se eles tivessem um pouco mais de agilidade, a gente já poderia ter uma informação mais concretas".
Procurada, a Polícia Civil informou apenas que "o caso foi registrado inicialmente como sequestro e cárcere privado e encontra-se em fase de diligências para esclarecer o desaparecimento das vítimas e a autoria dos fatos".
Santa Cruz
O bairro de Santa Cruz é dominado por grupos de milicianos que exploram venda de gás, transporte alternativo e fazem a extorsão de dinheiro de comerciantes através da cobrança de taxas de segurança.
Atualmente, a região é controlada por Zinho, antigo integrante do Bonde do Ecko. O local tem sofrido investidas de Tandera, ex-aliado de Ecko. Os dois romperam no final de 2020.
Em setembro, a região teve sete vans incendiadas em três bairros da zona oeste do Rio, todos dominados pela milícia. Na ocasião, a Polícia investigava se o assassinato de dois homens do grupo de Tandera, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, motivaram o ataque.
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