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Tandera e Zinho, irmão de Ecko: quem são os milicianos em guerra no Rio

Os milicianos Zinho (à esq.), irmão de Ecko, e Tandera (à dir.) disputam territórios na zona oeste carioca - Divulgação/Portal dos Procurados
Os milicianos Zinho (à esq.), irmão de Ecko, e Tandera (à dir.) disputam territórios na zona oeste carioca Imagem: Divulgação/Portal dos Procurados

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

19/09/2021 04h00

De olho nas extorsões milionárias arrecadadas pelo antigo Bonde do Ecko na zona oeste do Rio de Janeiro, Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, apontado como chefe de uma milícia e rival do grupo, fez na última semana uma investida violenta na região, segundo informações da Polícia Civil.

Sete vans de transporte alternativo foram incendiadas na última quinta-feira (16). A polícia apura se a motivação foi o assassinato de dois homens do grupo de Tandera um dia antes do ataque no bairro Dom Bosco em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que é reduto do miliciano.

Atualmente, quem controla a área é o bando de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão de Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto em junho durante operação da Polícia Civil do Rio para prendê-lo.

A polícia estima que o grupo de Zinho arrecade quase R$ 2 milhões na região por mês —o foco é extorsão de dinheiro de motoristas de vans.

Em represália às mortes de seus comparsas, Tandera teria ordenado os incêndios na Praça da Alegria, em Campo Grande, na rua Agai, em Paciência, e na avenida João 23, em Santa Cruz, na zona oeste da cidade.

De acordo com as investigações, os ataques —que culminaram na morte de uma pessoa, cuja identidade não foi revelada— ocorreram em pontos de interesse para Tandera.

16.set.2021 - Vans incendiadas em bairros da zona oeste do Rio - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Vans incendiadas interromperam transporte em bairros na zona oeste do RJ
Imagem: Reprodução/Facebook

Tandera, Zinho e Ecko: antigos aliados

Zinho assumiu a liderança da maior milícia do Rio de Janeiro dois meses após a morte de Ecko.

Antes de se tornar chefe, ele ocupava o cargo de operador financeiro do grupo —recolhia e distribuía dinheiro obtido com a exploração do transporte alternativo, cobrança de taxas para "segurança" de moradores e comerciantes e exploração de TV a cabo clandestina.

Zinho herdou o desafeto do irmão com Tandera, que chegou a ser homem de confiança na quadrilha. Ecko e Tandera romperam em dezembro de 2020 e, a partir de então, tornaram-se rivais.

Com o racha, o antigo Bonde do Ecko continuou atuando em bairros da zona oeste, como Campo Grande, Santa Cruz, Cosmos, Inhoaíba e Paciência, além de regiões da Baixada Fluminense. Somente nas cidades vizinhas à capital, estima-se que o grupo arrecade R$ 10 milhões por mês.

Já o bando de Tandera ficou com Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio, e com alguns pontos da baixada, como a comunidade K-32, e o bairro da Alvorada em Nova Iguaçu.

A polícia apostava que Tandera, dono de perfil extremamente violento, assumiria o antigo Bonde de Ecko. Mas isso não aconteceu. A liderança da maior milícia do Rio permanece em família desde 2008.

O posto passa agora para o terceiro membro da família. Ecko já havia herdado o cargo do irmão Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, que também morreu em confronto com a Polícia Civil em abril de 2017.

Foragido da Justiça, Zinho tem três mandados de prisão pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, organização criminosa e associação criminosa.

Em outubro de 2015, ele foi preso durante operação da Polícia Civil contra a milícia na zona oeste, e ganhou a liberdade quatro dias depois de a Justiça aceitar um pedido de habeas corpus.

O miliciano Ecko após prisão em junho no Rio; ele foi morto durante essa operação policial -  Reprodução -  Reprodução
O miliciano Ecko após prisão em junho no Rio; ele foi morto durante essa operação policial
Imagem: Reprodução

Após Ecko, Tandera é o mais procurado do Rio

Com a morte de Ecko, Tandera passou a ser o criminoso mais procurado do Rio. A recompensa por informações que levem à captura dele subiu para R$ 5.000. De acordo com o Portal dos Procurados, ele está foragido da Justiça desde novembro de 2016.

A polícia investiga se Tandera lava dinheiro da milícia comprando bens de luxo, como mansões, cavalos de raça e carros.

Contra ele há ao menos três mandados de prisão em aberto pelos crimes de extorsão e organização criminosa.

Após ataques, polícia reforça policiamento

Após os ataques ocorridos na quarta, a Polícia Militar informou que o policiamento foi reforçado na zona oeste. A medida mira a manutenção do funcionamento do transporte público na região.

Homens de seis batalhões da PM passaram a atuar em Campo Grande e Santa Cruz —"área que vem sofrendo reflexos de disputas territoriais entre facções criminosas desde a noite de quarta", diz a corporação em nota.

A Vila Aliança, comunidade da região, também teve o policiamento reforçado com comboios do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões e de aeronaves do Grupamento Aeromóvel.