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Aluna denuncia racismo e recado ameaçador em escola militar: 'Vou te matar'

Adolescente teve caderno rabiscado com mensagens racistas - Arquivo Pessoal
Adolescente teve caderno rabiscado com mensagens racistas Imagem: Arquivo Pessoal

Abinoan Santiago

colaboração para o UOL, em Florianópolis

18/11/2021 14h41

Uma adolescente negra de 14 anos relatou ter sido vítima de racismo duas vezes em apenas uma semana no Colégio Cívico Militar Sebastião Saporski, em Curitiba. O caso mais recente aconteceu ontem, quando viu no caderno ameaças de morte. A Polícia Civil investiga o caso.

No caderno, a menina encontrou as frases "vou te matar, preta desgraçada'' e" não vai ficar assim ". As ameaças ocorreram depois de os próprios alunos promoverem um ato antirracista em 11 de novembro, em apoio à adolescente, um dia após o primeiro caso.

Na ocasião, depois do retorno da aula de educação física na área externa do colégio, a aluna viu no caderno as frases "só menina branca é bonita", "onde já se viu ter preto nesse colégio" e "preta desgraçada".

O caso gerou revolta nos demais estudantes do colégio. Eles receberam a adolescente com aplausos no dia seguinte e protestaram contra o ataque. Em um dos vídeos compartilhados nas redes sociais, a garota chega a se emocionar com o carinho.

Ambos os casos foram denunciados à Polícia Civil do Paraná. A corporação informou que apura o caso, mas que não pode passar mais detalhes por envolver menores de idade.

"Sentimento de impotência"

A família da adolescente contou que ainda não foi identificado quem fez os ataques. Os parentes revelaram que a aluna está com medo de frequentar a escola em razão dos recados ameaçadores.

"Ela está com bastante medo. Embora a gente saiba que racismo existe, não esperávamos que sofresse tão cedo com essa dura realidade. Não sei se ela pretende continuar indo para o colégio, pois o certo seria sair quem fez esse ato horrível", comentou ao UOL Alana Oliveira, prima da vítima.

Alunos colaram cartazes contra o racismo em colégio de Curitiba - Divulgação/Sindicato dos Professores do PR - Divulgação/Sindicato dos Professores do PR
Alunos colaram cartazes contra o racismo em colégio de Curitiba
Imagem: Divulgação/Sindicato dos Professores do PR

A familiar revela que, mesmo com todo apoio e investigação em curso, os parentes se sentem impotentes.

"A família está com o sentimento de impotência enorme por não conseguir protegê-la e de tristeza por ter que lidar com as palavras e as ameaças feitas contra ela. É tão jovem e dói muito ver isso acontecer. Estamos revoltados é só queremos Justiça", desabafou a prima.

Secretaria e sindicato repudiam ataques

Em nota ao UOL, a Seed (Secretaria de Educação) informou que a escola acionou a PM (Polícia Militar) e registrou os casos na Polícia Civil.

"Além da solidariedade de professores e colegas, a Seed também enviou representantes do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Curitiba para dar apoio à família e a estudante e reitera que o racismo é inaceitável nos colégios do estado. A secretaria acompanha de perto essa situação lastimável e espera em conjunto com as autoridades policiais a resolução mais rápida para o caso", destacou.

O Sindicato dos Professores também lamentou o episódio, sobretudo, pela reincidência do ato com a mesma vítima.

"É revoltante que a Secretaria da Educação e os(as) gestores(as) do colégio militarizado tenham permitido a repetição deste ato grotesco, desta vez com conotação ainda mais grave, haja vista a ameaça de morte. Passada apenas uma semana do ocorrido, não é possível compreender como o(a) agressor(a) teve, novamente, acesso ao caderno da aluna. A situação leva a crer que o episódio não foi tratado com a devida gravidade pela Secretaria e o Núcleo Regional de Educação", concluiu.