Sete corpos retirados de mangue em São Gonçalo são identificados
A Polícia Civil informou na tarde de hoje que identificou sete dos oito corpos que chegaram ao Posto Regional de Polícia Técnico-Científica em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Todos foram retirados por moradores, na manhã desta segunda-feira (22), de uma região de mangue do Complexo do Salgueiro. Nenhuma das identidades foi revelada.
De acordo com a Polícia Civil, cinco dos homens já identificados possuem anotações criminais. A corporação não informa, porém, as tipificações dos crimes. Em nota, a Civil informou que havia dois sem anotações criminais e um deles vestia roupa camuflada, como os demais. Vídeos dos corpos, que circulam nas redes sociais, não permitem identificar a vestimenta dos mortos.
Moradores que participaram da retirada relatam que contaram 11 corpos. Em nota, a Faferj (Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro) cita 14 mortes, sendo três meninas.
A Polícia Militar afirma que as vítimas morreram em um confronto, ocorrido em uma operação realizada um dia após a morte de um policial, mas a versão dos moradores contradiz a versão oficial.
Uma moradora, em relato ao UOL, afirma que viu um dos homens degolado e com as mãos para cima. Vizinhos ao mangue denunciam que os corpos tinham sinais de tortura, como degola e ferimentos a faca. Outra moradora afirma que viu corpos com sinais de esfaqueamento, ao serem retirados do mangue. Com a demora da entrada das autoridades para retirada dos corpos, coube aos moradores entrar no mangue, com lama na altura do peito, para fazer o resgate. Todos já estavam mortos.
O que diz a PM
Houve uma ação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) contra traficantes no domingo (21), um dia após um policial militar ser morto na região. Segundo a PM, o sargento Leandro Silva morreu quando equipes do Batalhão de São Gonçalo foram atacadas perto de uma área de mangue.
A ação de domingo ocorreu após a PM receber informações de que um dos homens responsáveis pelo ataque que vitimou Leandro ainda estava ferido no interior da comunidade. A corporação afirma que foi até o conjunto de favelas para uma operação de estabilização.
Ainda no domingo, segundo a PM, houve confronto e um homem morreu no local. A corporação afirma que ele foi reconhecido como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição da PM que vitimou o sargento Silva.
Uma idosa de 71 anos também ficou ferida. Carmelita Francisca de Oliveira foi atingida no braço, levada para o hospital, medicada e liberada.
O diretor da Faferj, David Gomes, informou que tem acompanhado denúncias de violência policial na comunidade do Salgueiro há meses. Há cerca de 15 dias, a federação reuniu-se com representantes do governo do Estado do Rio para pedir melhorias na comunidade. "Naquela reunião, já denunciamos que a violência policial estava grande na comunidade e as lideranças pediam para o governo entrar na comunidade com projetos sociais e obras de urbanização. Mas o que vemos é mais uma chacina", afirma Gomes.
PM não fez varredura após ação
O porta-voz da PM, o tenente-coronel Ivan Blaz disse ao UOL que, durante a ação, suspeitos de serem traficantes se refugiaram na área da mata e, após cessarem os supostos confrontos, não foi feita uma varredura no local devido à complexidade da região.
Segundo Blaz, houve uma ocupação na quinta-feira (18) na região e foram registrados confrontos durante três dias. De acordo com ele, a operação foi informada ao Ministério Público e tinha como objetivo combater a criminalidade.
Segundo a PM, foram apreendidos na ação duas pistolas, 14 munições calibre 9 milímetros, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (dois para fuzil e três para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack. A ocorrência foi encaminhada para a delegacia da área.
Defensoria ouvirá famílias
A Defensoria Pública do Rio disse que recebeu relatos sobre a operação no Complexo do Salgueiro ainda na noite de ontem. A ouvidoria comunicou o caso ao Ministério Público para adoção de medidas cabíveis. A Defensoria disse ainda que está em contato com as lideranças locais prestando orientações necessárias. O defensor público geral, Rodrigo Baptista Pacheco, disse no Twitter que o órgão acompanha o caso.
Chacina no Jacarezinho
Em maio deste ano ocorreu a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, quando 28 pessoas morreram na comunidade do Jacarezinho, na zona norte da capital fluminense, durante uma operação da Polícia Civil.
No início da operação, um policial civil foi baleado na cabeça e morreu. Posteriormente, outras 27 pessoas morreram em 12 pontos da favela.
Documentos relacionados à investigação das mortes durante a Operação Excepios mostram indícios de execução e desfazimento da cena do crime no local onde ocorreram mais mortes.
Participaram da ação oito policiais civis da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) — grupo de elite da Polícia Civil do Rio. Homens dessa unidade estiveram envolvidos em 22 das 27 mortes no Jacarezinho.
*Com informações da Reuters
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