Boate Kiss: concorrente admite ter arrancado espuma um dia após tragédia
A testemunha Nilvo José Dornelles, 53 anos, admitiu que arrancou a espuma das paredes da Ballare - boate concorrente da Kiss - um dia após a tragédia, ao saber que uma equipe de reportagem iria até a casa noturna. O empresário foi o quarto depoente ouvido pelo Tribunal do Júri de Porto Alegre nesta terça-feira (7), sétimo dia de julgamento dos quatros réus acusados pelo incêndio.
Dornelles afirmou que comprou a boate "pronta", já com o material instalado e, ao saber que era o mesmo produto usado na Kiss, fez a remoção.
"Eu omiti (que) tinha nos fundos, nas costas do palco, tinha essa lã, uma lã cor de areia, bege, no fundo apenas. Quero dizer, essa espuma. Eu omiti isso aí por muita pressão. (Me preocupava com) A opinião pública, as autoridades não me preocupavam. (...) Eu tinha renovado meu álvara com os bombeiros na quarta-feira anterior ao incêndio. Eu tinha renovado, estava em dia, só tirei essa lã só no fundo da parede e consumi com ela", contou Dornelles. Ele disse que não mencionou o uso do material para a Polícia Civil por vergonha.
No domingo, dia da tragédia, soube que a espuma utilizada por ele na boate era inflamável.
Fogos eram usados com frequência
O ex-proprietário da Ballare reconheceu que a banda Gurizada Fandangueira utilizou fogos de artifício em sua casa noturna e de forma frequente. "Todas as bandas que usaram, e não foi só bandas, mas DJs, barmans, nunca fui consultado. Na primeira vez eu fiquei sabendo, se eu não disse nada contra, estou consentindo."
O local tinha capacidade para 1.200 pessoas. "No sábado anterior (à tragédia) tocaram na Ballare", contou.
Dornelles afirmou ainda que perdeu público a partir de 2011 devido à abertura da Kiss, o que ocorreu de forma mais intensa em 2012. Após a tragédia, o empresário relata que a casa noturna durou mais de um ano.
Bate-boca entre advogados
O julgamento voltou a registrar gritaria no final da noite de hoje. O advogado Jean Severo, da banca de defesa do produtor musical Luciano Bonilha, estava fazendo perguntas para o ex-proprietário da Ballare quando foi interrompido pelo advogado Pedro Barcelos, assistente da acusação - não foi possível ouvir o que ele falou.
"Vai cuidar de ti. Deixa eu falar!", disse Severo batendo a mão na mesa. "Esse aqui é inocente, não vamos começar. Excelência, me garanta a palavra. Manda ficar quieto, tchê!", continuou.
O juiz Orlando Faccini Neto chegou a intervir, mas Severo continuou. "Deixa eu trabalhar, te afrouxou todo." Barcelos rebateu, aos gritos: "Tem que responder a pergunta."
Severo prosseguiu. "Te afirma. Parece prego em polenta, te afirma."
Segundos depois, a promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari tentou interrompê-lo com uma questão de ordem e os gritos voltaram. "Deixa eu trabalhar, eu não atrapalhei ninguém. Eu fiquei quieto aqui", disse o advogado de Bonilha.
A gritaria prosseguiu e alguns familiares de vítimas começaram a sair da sala - uma delas chegou a ser atendida pela Unimed.
O promotor David Medina também se envolveu na discussão. "É o que eles querem pessoal, se acalmem." Severo rebateu: "Não é o que eles querem, é o que tu quer. Eu estou defendendo inocente."
O representante do MP voltou a falar: "toma seu remédio doutor". Por fim, o magistrado considerou a situação como "desnecessária" e afirmou que "acaba transmitindo uma mensagem errada".
O julgamento
Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato — os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do Judiciário gaúcho.
Com o depoimento de Dornelles, chega a 24 o número de pessoas já ouvidas no julgamento dos réus acusados no incêndio da boate Kiss.
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