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'Não tenho como descrever', diz chefe dos Bombeiros sobre entrada na Kiss

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

07/12/2021 16h07Atualizada em 08/12/2021 16h39

O bombeiro militar Gerson da Rosa Pereira, 56, pediu para não descrever a cena ao entrar na boate Kiss no dia do incêndio, em 27 de janeiro de 2013. Na época, ele atuava como chefe do Estado-Maior do 4º Comando Regional de Bombeiros Militar, cargo correspondente a subcomandante, e atualmente é diretor do departamento administrativo dos Bombeiros.

O oficial presta depoimento no julgamento dos quatro réus pelo incêndio da casa noturna, em andamento há sete dias em Porto Alegre. Por diversas vezes, o bombeiro militar se emocionou, embargou a voz e fez interrupções na hora de responder às perguntas do juiz Orlando Faccini Neto. Chegou inclusive a chorar em diversos momentos. Em um dos questionamentos, o magistrado pediu para que ele descrevesse o que viu ao chegar ao banheiro.

Não tem como relatar doutor, é difícil, doutor. É uma imagem muito forte, até para profissional de segurança é muito forte."
Gerson da Rosa Pereira, bombeiro militar

Logo no começo do depoimento, o oficial perdeu a voz ao falar que seus filhos poderiam estar na festa. Na sequência, relatou que começou a receber informações da sala de operações do Corpo de Bombeiros e decidiu ir até o local.

"Quando disseram que era incêndio na boate Kiss, eu já vi que não seria uma coisa muito comum, fugindo um pouco da normalidade. No momento que eu indaguei da quantidade de vítimas e que me disseram que tinha 30 pessoas mortas, a situação ficou muito tensa, fiquei muito preocupado."

Ao chegar à casa noturna, o oficial encontrou uma situação de "total descontrole" dos órgãos de segurança que atuavam no local, com agentes de seguranças atuando sem coordenação. Ele recorda que, na época, o IGP (Instituto-Geral de Perícias) pretendia levar os corpos para Porto Alegre, o que foi descartado devido ao risco de pais e familiares pegarem a estrada naquela situação —Santa Maria fica a 289 km de distância da capital gaúcha.

Por isso, os corpos foram levados para o CDM (Centro Desportivo Municipal). Pereira explicou que, no mesmo dia da tragédia, a coordenação da operação passou do Corpo de Bombeiros para o Exército. A mudança ocorreu pela vinda da então presidente Dilma Rousseff (PT) para Santa Maria.

O julgamento

Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato -- os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do Judiciário gaúcho.

Com o depoimento de Pereira, chega a 23 o número de pessoas já ouvidas no julgamento dos réus acusados no incêndio da boate Kiss.