Crianças desaparecidas morreram após tortura por traficantes, diz polícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou hoje que Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12, desaparecidos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em dezembro do ano passado, morreram após uma sessão de tortura de traficantes.
Segundo as investigações, os criminosos decidiram dar um "corretivo" nos meninos em razão de um suposto furto de passarinhos. "Eles foram torturados. Em um momento um dos meninos falece, pelo excesso de agressão ou uma pancada mal dada", afirmou Uriel Alcantara, delegado da DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense). Após essa morte, os criminosos decidiram matar os outros dois na tentativa de ocultar o crime.
Cinco supostos traficantes foram identificados por suspeita de envolvimento nas mortes —eles serão indiciados pelos homicídios e ocultação de cadáver, enquanto um sexto suspeito responderá em liberdade apenas por ocultação dos corpos (veja a seguir quem são eles).
O delegado relatou que a traficante Ana Paula da Rosa Costa, conhecida como Tia Paula, foi a responsável pela ocultação dos corpos. Segundo a polícia, ela foi morta no tribunal do tráfico —a comunidade do Castelar é dominada pelo CV (Comando Vermelho).
"Quando eles [criminosos] viram três crianças mortas, chamaram a Tia Paula para levar os corpos para fora da comunidade, e ela mandou outra pessoa levar o corpo para um rio do município de Belford Roxo."
Os corpos dos meninos até hoje não foram encontrados. "Sabemos que [os corpos] foram jogados no rio, nós diligenciamos em três locais distintos, mas o lapso temporal torna uma diligência em busca dos corpos inviável [em alguns pontos]. As buscas pelos corpos não estão encerradas. Qualquer informação que a gente tenha, vamos analisar", disse Alcântara.
Suspeitos mortos em 'tribunal do tráfico'
As investigações apontam que ao menos três dos cinco suspeitos de envolvimento nas mortes foram assassinados por "queima de arquivo" no chamado tribunal do tráfico em razão da repercussão do caso.
A polícia tem elementos que indicam as "queimas de arquivo", mas como os corpos não foram localizados eles não são considerados mortos e, por isso, têm mandados de prisão em aberto.
Quem são os 5 indiciados?
Edgard Alves de Andrade, o Doca, é apontado como chefe do tráfico de drogas no Castelar, comunidade onde moravam os meninos. Ele é considerado foragido.
Outra liderança criminosa da localidade é José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha. Segundo a polícia, ele foi morto pelo "tribunal do tráfico".
Ambos respondem pelas mortes das crianças por serem responsáveis por autorizar todo o tipo de ação "corretiva" na comunidade.
De acordo com a Polícia Civil, uma testemunha-chave informou que, em conversa presenciada após a morte dos meninos, o traficante conhecido como Estala afirmou a outro criminosos que teve autorização de Doca e Piranha para "dar um corretivo" nos meninos.
Wiler Castro da Silva, o Estala, é apontado como o principal articulador das mortes. De acordo com testemunhas, os meninos teriam furtado um passarinho de um tio do traficante —Estala foi responsável por capturá-las. Ele também foi assassinado pelo CV, segundo a polícia.
Além dos três homens, a traficante Tia Paula também será indiciada —apesar de a investigação apontar que ela foi assassinada, seu corpo não foi encontrado. De acordo com a polícia, foi ela quem saiu pela comunidade em busca de alguém que pudesse dirigir o carro que levou os corpos das crianças do alto do morro do Castelar até um rio de Belford Roxo.
Há um quinto traficante identificado, mas a polícia não divulgou sua identificação ou sua participação no crime. Ele está preso.
Operação prende 18 suspeitos
A polícia realiza hoje operação para cumprir 56 mandados de prisão contra suspeitos de serem traficantes da quadrilha apontada como responsável pelo desaparecimento e morte das crianças.
Até o começo da tarde, foram cumpridos 31 mandados de prisão. Entre eles, 16 pessoas foram presas nesta manhã. Outros 15 mandados foram cumpridos contra suspeitos que já estavam no sistema carcerário. Além das ordens de prisão, foram realizadas duas prisões em flagrante.
Entre esses mandados, estão os cinco por triplo homicídio e ocultação de cadáver. Os demais são por associação para o tráfico.
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