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Mulher morre presa embaixo de carro durante enxurrada no interior de SP

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

01/01/2022 17h45Atualizada em 01/01/2022 17h47

O dia de Ano Novo ainda é marcado pela tristeza e revolta de moradores da avenida Princesa d'Oeste, uma ligação importante entre as regiões norte e sul de Campinas, no interior de São Paulo. Ontem, no último dia de 2021, uma mulher de 59 anos morreu ao ser arrastada para debaixo de um carro durante uma tempestade que durou aproximadamente uma hora.

Não é a primeira vez que o trecho enche de água. É comum que chuvas de média ou alta intensidade inundem a avenida, que fica em cima de um rio canalizado, se transformando em uma grande correnteza.

Denise Gabiatti desceu de um prédio onde mora, na mesma avenida, para tentar tirar o carro que estava sendo levado pela água, no cruzamento com a Rua Joaquim Roberto de Azevedo Marques. Acabou sendo derrubada pela correnteza e ficou presa embaixo do carro.

Orlando Schelbauer, catador de recicláveis que vive perto e passa todos os dias pelo local, foi alertado por uma amiga que Deise estava embaixo do carro.

"Ao cair, ela ficou presa. Fui tentando tirar, e ao mesmo tempo minhas pernas foram junto e eu ia ficar com ela se não aparecesse ninguém. Eu caí, tentei ficar de costas para que ela respirasse um pouco, aí apareceram outras pessoas", lembrou.

O catador ficou sozinho por vários minutos, até que um grupo de oito pessoas apareceu para tentar socorrer a mulher. Ela chegou a ser levada pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital Municipal Mário Gatti, mas não resistiu. Ela engoliu muita água, segundo fontes informaram à reportagem.

O enterro de Denise foi às 16h15 de hoje no Cemitério Flamboyant, também em Campinas. Nenhum familiar quis conversar oficialmente com o UOL. Todos estão revoltados com o caso e a falta de atitudes do poder público.

Há dois anos, outra tragédia

No mesmo local, em 24 de janeiro de 2019, um homem de 41 anos morreu afogado. Ele seguia de moto pela avenida, quando tentou ultrapassar a correnteza, mas foi arrastado. Bombeiros foram chamados e tentaram reanimá-lo por mais de 20 minutos, sem sucesso.

Na época da morte, a prefeitura disse que tinha um projeto para tentar revitalizar a área e evitar enchentes.

E agora?

A resposta não mudou de dois anos para cá. A prefeitura de Campinas alega que a Secretaria de Infraestrutura trabalha na elaboração de um projeto executivo de intervenção nas microbacias hidrográficas do Ribeirão Anhumas (rio onde está construída a avenida Princesa d' Oeste) e a microbacia do Córrego Serafim (no cruzamento das avenidas Orosimbo Maia e José de Souza Campos, continuação do trecho).

"Os estudos deverão propor uma série de obras de drenagem urbana, incluindo piscinões, alargamentos e aprofundamentos das calhas hídricas, com o objetivo de obter um melhor e mais eficiente controle das águas pluviais nos momentos de vazantes. Serão obras de grande proporção, de alto custo e com um período longo para sua execução", afirma a administração.

A microempresária Maria Ribeiro, 50, mora em outro prédio da avenida Princesa d'Oeste e viu a tentativa de resgate. Muito abalada, apesar de não conhecer Deise, ela disse que, desde o início da temporada de chuvas, no começo de dezembro, o local já inundou 'várias vezes'.

"Não tem jeito. Se chuviscar, alaga. Parece exagero, mas é verdade. Aqui toda vida foi assim. A gente sabe que passa um rio aqui embaixo, mas parece que falta uma obra mais contundente de saneamento para resolver isso", explica.