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Enfermeira de folga ajuda a socorrer vítimas de Capitólio: 'Desesperador'

08.jan.2022 - Rocha de cânion caiu em Capitólio (MG), atingindo embarcações com turistas - Reprodução / Twitter
08.jan.2022 - Rocha de cânion caiu em Capitólio (MG), atingindo embarcações com turistas Imagem: Reprodução / Twitter

Simone Machado

Colaboração para UOL, em São José do Rio Preto (SP)

10/01/2022 19h52Atualizada em 10/01/2022 19h52

O descanso da enfermeira Jane Freitas deu lugar ao socorro às vítimas do desabamento de uma rocha que matou dez pessoas e deixou 34 feridos no último sábado (8) em Capitólio (MG). Ela estava em uma lancha, próximo do local da queda, e pediu para ser levada até o ponto onde estavam os feridos.

Jane trabalha em um posto de saúde de Várzea Paulista (SP) e, por um ano, ficou à frente da vacinação contra a covid-19. No último sábado, ela estava com um grupo de 10 amigos em uma embarcação quando soube do desmoronamento.

"Várias lanchas passaram por nós e as pessoas falavam do acidente e mandavam a gente sair dali. Como profissional da saúde, eu sabia que não poderia sair porque as pessoas estavam precisando de ajuda. Eu expliquei ao piloto do meu barco que eu era enfermeira e poderia ajudar. Pedi a ele que se aproximasse, com cuidado, o mais próximo possível do local para que pudéssemos ajudar no salvamento", recorda.

Ainda segundo a enfermeira, foram socorridas e colocadas na embarcação duas crianças que haviam caído na água após a lancha em que estavam ser atingida por fragmentos da pedra. Uma delas tinha um corte profundo na perna.

"O menino tinha uns 10 anos e estava desesperado por não ter informações dos pais. A todo momento ele me perguntava como o pai dele estava e falava o quanto o pai era o seu herói. Isso foi algo que mexeu muito comigo, porque era um sofrimento que eu não conseguia curar. A única coisa que fiz foi estancar o machucado dele e tentar acalmá-lo", conta Jane.

Jane - Divulgação/ Arquivo Pessoal - Divulgação/ Arquivo Pessoal
Enfermeira estava de folga em Capitólio quando acidente aconteceu
Imagem: Divulgação/ Arquivo Pessoal

A enfermeira relata ainda que após ajudar as crianças, foi até o bar flutuante para onde os feridos estavam sendo levados. No entanto, no local havia escassez de materiais apropriados para cuidar dos feridos.

"Não tínhamos curativos, soro para higienizar os ferimentos, ataduras, nada. Fomos improvisando com toalhas e com o que era possível, mas isso foi desesperador", acrescenta.

Passeio atrasado

No momento do desabamento, a embarcação dela deveria estar onde as rochas se desprenderam do paredão. Isso só não aconteceu porque a lancha fez uma parada a pedido de um dos passageiros.

"No meio do caminho um amigo meu quis ir ao banheiro. Então nós pedimos para o piloto parar em um ponto de apoio e, por isso, demoramos uns 10 minutos para sair. Se não fosse isso, nós estaríamos no local no momento do desabamento", conta a enfermeira, que já esteve no local há quatro anos.

Antes de fechar o passeio de barco, ela questionou se não havia perigo devido às chuvas.

"Como estava chovendo eu perguntei se não era perigoso e os pilotos falaram que não, que não tinha riscos. Meus amigos não conheciam o local e, por isso, decidimos ir mesmo com o tempo fechado", acrescenta.

"É um misto de emoções que não tem como explicar. Ao mesmo tempo que sou grata pela minha vida, é uma tristeza enorme em ter presenciado toda aquela situação desesperadora", diz.