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Enterro coletivo de vítimas de Capitólio esvazia cidade em MG: 'Todos aqui'

Velório coletivo de vítimas do acidente em Capitólio no ginásio de Serrania (MG); cidade ficou vazia - Lucas Borges Teixeira/UOL
Velório coletivo de vítimas do acidente em Capitólio no ginásio de Serrania (MG); cidade ficou vazia Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Lucas Borges Teixeira

Enviado especial do UOL, em Serrania (MG)

10/01/2022 18h02Atualizada em 10/01/2022 23h15

Não havia ninguém na praça em frente à capela São Benedito, no coração de Serrania (MG), na tarde desta segunda (10), ou nas ruas ao redor. Por volta das 15h, só se via movimento na pequena cidade de 7.000 habitantes, a 360 km de Belo Horizonte, ao se aproximar do Ginásio Poliesportivo Amélio Bueno da Fonseca.

No local, aberto à população, estavam sendo velados quatro vítimas do desmoronamento em Capitólio (MG), a 180 km dali, no final de semana. Das dez vítimas que estavam na lancha "Jesus", atingida pela rocha, quatro eram da mesma família, natural da cidade.
Centenas de pessoas foram ao ginásio nesta tarde para velar os corpos do militar Sebastião Teixeira da Silva, 64, sua mulher Marlene Augusta, 57, o filho Geovany, 37, e o neto Geovany Gabriel, 14.

A cidade inteira está aqui, ele [Sebastião] era muito querido. Sempre que passava, cumprimentava a todos, todo mundo gostava dele",
José Silvério da Silva, 68, vizinho do casal por 19 anos

Ex-sargento da Polícia Militar, Sebastião era conhecido na cidade, onde morou a vida inteira, pelo sobrenome Teixeira. "Um homem muito correto, né? Desses que fazem falta por aí. Está todo mundo sentindo muito. No sábado, quando a notícia correu, ninguém quis acreditar", disse o aposentado.

Os corpos chegaram do IML (Insituto Médico Legal) de Passos (MG), cidade próxima a Capitólio, às 15h de hoje e já foram direto para o ginásio. Os caixões foram dispostos na quadra, fechados.

Os arredores do centro poliesportivo começaram a encher pelo menos uma hora antes, após o almoço. "Todo mundo vai, não tem como. Ele foi sargento da cidade por muitos anos, é uma questão de respeito", afirmou o frentista Ozair Reis.

O acidente era o principal assunto nos poucos pontos abertos. "É assim, o que está guardado para a gente ninguém tira. Quando chega a hora", comentava um morador à caixa da padaria próxima ao ginásio. Sua próxima parada seria o velório.

Praça de Serrania (MG) vazia no momento do velório coletivo de vítimas do acidente em Capitólio realizado no ginásio da cidade - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Praça de Serrania (MG) vazia no momento do velório coletivo de vítimas do acidente em Capitólio realizado no ginásio da cidade
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

"Indentificaram por DNA. Mas queriam que a Vanessa [da família Teixeira] visse, não sei se viu", comenta alto, da janela da sua casa, uma vizinha à outra, em referência ao reconhecimento dos corpos.

No ginásio, com entrada livre, mas com uso obrigatório de máscara e oferecimento de álcool em gel na porta, as pessoas se aglomeravam ao redor dos caixões e, após se despedirem, seguiam para as arquibancadas.

Por volta das 16h, as duas laterais estavam lotadas. Por causa do alto número de pessoas, foi preciso até colocar uma faixa de isolamento nos caixões, para respeitar os familiares.

"Ele [Teixeira] era realmente muito querido", afirma a enfermeira Júlia Santos, que auxiliava na entrada. No local, também estavam presentes diversos militares, ex-colegas de Sebastião, que não quiseram falar à reportagem.

A Prefeitura de Serrania declarou luto oficial por três dias.

O acidente ocorreu por volta das 12h do sábado. A família Teixeira era a principal ocupante do barco "Jesus" em um passeio privado e familiar pelo Lago de Furnas.

Os dez corpos já foram identificados e, agora, a Polícia Civil deverá averiguar a causa do desmoronamento, em colaboração com a Marinha e o Corpo de Bombeiros.

Vítimas da queda de rocha em Capitólio- no alto, da esq. para a dir.: Júlio, Maycon, Camila e Sebastião; embaixo: Marlene Geovany, Geovany Gabriel, Thiago e Rodrigo - Redes sociais - Redes sociais
Vítimas da queda de rocha em Capitólio- no alto, da esq. para a dir.: Júlio, Maycon, Camila e Sebastião; embaixo: Marlene Geovany, Geovany Gabriel, Thiago e Rodrigo
Imagem: Redes sociais

"Eles gostavam de viajar"

Johny Ramos, sobrinho do casal Sebastião e Marlene, ajudou a reconhecer os corpos em Passos. Morador de Campinas (SP), ele correu para o estado vizinho na noite do sábado, ao saber do acidente, por meio do WhatsApp.

É difícil, eu não tenho palavra. Eu não acreditava. Não tem como você se preparar para isso, foi uma surpresa muito grande. Ver tanta gente de uma mesma famíalia, da sua família, é muito triste"
Johny Ramos, sobrinho do casal Sebastião e Marlene

Segundo ele, passeios como este faziam parte da rotina dos tios. "Eles gostavam de viajar. Uma família alegre, divertida. Meu tio nasceu ali [São José da Barra, cidade vizinha], então era muito comum. Nós eramos muito ligados, uma família muito ligada muito unida."