Homem é preso suspeito de vender carne de cachorro como se fosse de bode
Um homem de 62 anos foi preso em flagrante por manter mais de 20 cães em situação de maus-tratos em uma residência no bairro do Ibura, na zona sul do Recife. O idoso, cuja identidade não foi divulgada, é suspeito de abater e vender os animais como se fossem carne de bode.
Os receptadores seriam a sua ex-mulher e o atual companheiro dela, que também não tiveram o nome revelados. As informações foram confirmadas ao UOL pela Polícia Civil de Pernambuco, que instaurou um inquérito para investigar o caso. O homem preso ainda não tem advogado constituído.
Conforme o delegado Sylvio Romero, responsável pela investigação, há indícios da prática de dois crimes. "Os depoimentos contidos nos autos são explícitos no sentido de que o suspeito estaria abatendo e comercializando a carne dos animais e que os supostos receptadores seriam duas pessoas residentes no bairro de Água Fria, e que uma delas seria a sua ex-esposa".
A casa onde supostamente ocorria o abate foi descoberta no último sábado (8), após uma protetora de animais receber uma denúncia de moradores da região. Ao chegar ao imóvel, Maria do Carmo Figueiredo, 46, se deparou com um ambiente repleto de fezes, carcaças de cães, e ainda animais bastante debilitados.
Em depoimento, ela descreveu ter visto um cachorro morto em uma cama, sendo comido pelos demais.
Diante de sua presença e de uma vizinha do suspeito, ele puxou uma faca na direção delas. A Polícia Militar foi chamada e, com a chegada dos agentes, o homem tentou fugir, mas foi localizado em um matagal próximo dali. Em seguida, foi conduzido à Delegacia de Boa Viagem, onde acabou autuado pelo crime consumado de crueldade contra animais.
A mulher e o homem apontados como receptadores seguem sendo procurados.
"Pessoa fria e calculista", diz delegado
Ainda segundo o delegado, o suspeito demonstrou ser uma pessoa fria, calculista e dissimulada. E, no momento da abordagem, avisou os receptadores que a polícia estava no local.
"Foi assim: a receptadora ligou pedindo para ele levar um lote de animais. Nisso, uma policial civil que estava no local, sem se identificar, combinou com ele para não falar que a polícia estava lá e que ele iria levar os cachorros para a casa dela. Assim que ele atendeu o telefone, falou gritando: 'Eu já caí. A polícia me pegou'", explicou Romero.
"Queria que fosse um pesadelo"
Sem segurar o choro, a protetora Maria do Carmo Figueiredo ainda se diz impactada diante da carnificina que presenciou. Ela diz que, após a chegada dos PMs no imóvel, conseguiu resgatar 17 animais, mas que pretende voltar para recolher outros cinco que estavam em outros cômodos. Inicialmente, porém, ela imaginava que havia apenas cinco cães no local.
"Eu ainda não estou acreditando em tudo o que está acontecendo. Eu queria que fosse um pesadelo. Só quem entrou naquela casa que sabe o que viu", desabafa Maria do Carmo, que acolheu os cães na própria casa.
Para cuidar dos bichos, ela tem contado somente com a solidariedade alheia, incluindo um veterinário que já a ajudou em outras ocasiões. De acordo com Maria do Carmo, a prioridade agora é lutar para tratar, castrar, vacinar e arrumar novos lares para todos os animais. Por isso, disponibilizou em sua conta no Instagram dados bancários e do Pix para quem puder contribuir com qualquer valor em dinheiro. Fraldas, ração, material de limpeza e medicamentos —sobretudo o Simparic— são os itens mais urgentes.
Consumir carne de cachorro é crime e traz riscos à saúde, diz nutricionista
No Brasil, o consumo da carne de cachorro não é recomendado e é considerado crime, observa a nutricionista Débora Câmara.
"Toda a carne para consumo humano, precisa ter fiscalização e inspeção da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Neste caso, o abate e o armazenamento ocorrem de forma clandestina, sem fiscalização e sem os cuidados necessários", alerta a especialista.
Além de a ingestão da carne do animal ser a porta de entrada para doenças graves, intoxicação, infecções e diarreias, trata-se de algo que envolve a prática de maus-tratos, com o uso de métodos de abate ilegais.
"Por isso, é essencial pensar de maneira mais crítica na origem da carne que consumimos. Também a forma que nos alimentamos é cultural, e o cachorro não faz parte da cultura culinária do Brasil, apesar de ser consumido em alguns países na Ásia. Sendo assim, além dos riscos de doenças, envolve uma questão moral", observa a nutricionista.
Maus-tratos a animais podem ser punidos pela Lei de Crimes Ambientais. A chamada lei Sansão, sancionada pelo governo federal em 2020, aumenta a pena para quem maltratar cães e gatos, especificamente —prevê reclusão de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda para quem praticar abuso, maus-tratos, ferir ou mutilá-los.
No caso da comercialização dos animais abatidos, a atividade também constituiria infração, pois a lei 8.137/90 caracteriza como crime contra as relações de consumo a venda de mercadorias impróprias ao consumo.
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