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Brumadinho distribui floral que não é eficaz contra 'doenças de enchentes'

Fortes chuvas causaram enchentes em Brumadinho (MG), em 2022 - Divulgação/Prefeitura de Brumadinho
Fortes chuvas causaram enchentes em Brumadinho (MG), em 2022 Imagem: Divulgação/Prefeitura de Brumadinho

Daniel Leite

Colaboração para o UOL, em Juiz de Fora (MG)

18/01/2022 12h49Atualizada em 18/01/2022 22h31

A prefeitura de Brumadinho, a 49 km de Belo Horizonte, distribui aos moradores atingidos pelas chuvas de janeiro deste ano um composto chamado de "floral detox" para combater complicações de saúde decorrentes das enchentes.

A promessa, inicialmente informada pelo município, era de ajudar as pessoas "que tiveram contato direto com a água da enchente" para a "desintoxicação de metais pesados e outras substâncias", o que gerou críticas de especialistas nas redes sociais sobre a ineficácia do composto para esse tipo de tratamento.

O anúncio da distribuição foi publicado nas redes sociais da prefeitura e não informava sobre a composição de substâncias do kit. Após as contestações sobre a medida, o post acabou apagado sob a justificativa de ter sido mal interpretado.

Hoje, a prefeitura publicou um novo comunicado. A postagem aparece novamente, mas dessa vez sem a promessa da desintoxicação, e com o aviso "Floral não é medicamento", o que não aparecia na publicação inicial.

Prefeitura de Brumadinho retirou postagem das redes sociais após críticas - Reprodução - Reprodução
Prefeitura de Brumadinho retirou postagem das redes sociais após críticas
Imagem: Reprodução

A assessoria de imprensa da prefeitura confirmou ao UOL que o composto segue sendo ofertado para quem teve contato com as enchentes, mas a Secretaria de Saúde agora esclarece que não é "essencial para tratamento fisiológico, apenas para minimizar os efeitos das inundações em Brumadinho".

O comércio onde trabalha a vendedora Giselle Reis foi invadido pela enchente. Como ela teve contato com a água da inundação e viu pelas redes sociais sobre a distribuição do floral, decidiu buscar para usar. Mas logo desistiu quando ouviu falar que o composto não a protegeria. "Eu só fiz o uso uma vez, e depois falaram que não era eficaz, aí descontínuei", contou ao UOL.

Segundo a prefeitura, o último levantamento sobre o número de pessoas prejudicadas pela chuva, feito no dia 16, indicou 1.560 desalojados e 141 desabrigados.

Floral oferecido desde 2018

De acordo com explicação da prefeitura hoje, desde 2018, devido a uma lei municipal, a Secretaria de Saúde oferece "terapias alternativas como massoterapia, reiki e distribuição de florais para diferentes usos".

O trabalho é feito pelo NUPIC (Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares), que neste ano também distribuiu o composto para minimizar os efeitos dos temporais, de acordo com a nota.

"Com a enchente em 2022, a equipe colocou à disposição da população um floral 'detox', como algo complementar e integrativo à saúde humana, mas não essencial para tratamento fisiológico, apenas para minimizar os efeitos das inundações em Brumadinho", informou.

Ainda de acordo com o governo municipal, o primeiro post sobre o floral não foi bem interpretado. "Devido à má interpretação, retiramos o post do Instagram para evitar maiores tumultos, mas está no nosso site com a nota".

A prefeitura afirma que as medidas do NUPIC possuem amparo de especialistas.

"O NUPIC está respaldado pelas diretrizes da OMS [Organização Mundial da Saúde], pela portaria do Ministério da Saúde GM/MS Nº. 971, de 3 de maio de 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) e, em Minas Gerais, pela Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde através da Resolução da SES-MG Nº 1.885/2009", garante.

Questionada sobre quantos kits do floral foram distribuídos até agora, a assessoria de imprensa não respondeu.

Infectologista nega eficácia do floral

Não há como atestar se esse tipo de composto "floral detox" realmente protege contra doenças decorrentes das enchentes, segundo afirmou ao UOL o infectologista Fernando Maia, professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas.

"Não há estudos definitivos se tem alguma eficácia. Provavelmente é inócuo", declarou.

De acordo com o especialista, a medida imediata que a pessoa precisa adotar nesses casos é lavar a pele com água e sabão.

"Caso apresente algum quadro febril nos dias subsequentes, deve informar ao médico o contato com a enchente", orientou.