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Corpos de bebês são trocados em hospital na BA; família pede exumação

Confusão com corpos de bebês aconteceu no Hospital Manoel Novaes  - Reprodução
Confusão com corpos de bebês aconteceu no Hospital Manoel Novaes Imagem: Reprodução

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL, em Salvador

18/01/2022 09h45Atualizada em 18/01/2022 09h53

A polícia investiga a troca dos corpos de dois bebês no Hospital Manoel Novaes, em Itabuna, no sul da Bahia. Um deles, que chegou a ser enterrado, deve ser exumado na manhã de hoje. As crianças morreram no último sábado (15).

De acordo com nota oficial do hospital, que faz parte do complexo da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna (SCMI), a troca "involuntária" ocorreu no necrotério da unidade de saúde e que a instituição lamenta o ocorrido. Além disso, admite que houve falha no protocolo de liberação do corpo. Por isso, foi aberto um inquérito administrativo para uma investigação preliminar do caso.

A exumação de um dos corpos deve ocorrer após autorização da Justiça, concedida depois de pedido feito em conjunto pela defesa dos pais dos bebês e do hospital.

Um dos casais que teve os bebês trocados é Jociel da Paixão e Vanúzia Reis, que mora em Ipiaú, no sul da Bahia. O filho deles, Jailson, estava internado há 43 dias no Hospital Manoel Novaes, depois de nascer prematuro, com apenas 28 semanas.

"Ele teve infecção intestinal, tomou medicamentos e foi preciso fazer a cirurgia no hospital", conta Jociel ao UOL. O procedimento cirúrgico foi feito no dia 11 e, no sábado, o casal foi informado pelo hospital da morte da criança. "Não informaram o motivo da morte. Só avisaram que tinha tido um problema respiratório, já que era prematuro. Ele não resistiu e faleceu", relata.

Ao chegar no hospital, eles foram encaminhados para fazer o reconhecimento do corpo. No entanto, o casal conta que só havia o corpo de um bebê, que estava identificado com o nome de outros pais. Além disso, Jociel e Vanúzia contam que o tamanho desse corpo também era diferente do de Jailson e não apresentava a cicatriz na barriga que o filho deles tinha por conta da cirurgia.

"Fomos na recepção (do hospital) e procuramos saber. Ficou aquele jogo de empurra e ninguém deu explicação", lamenta o pai. Jociel relata que, diante da demora, foi com a esposa até a delegacia de Itabuna para registrar uma queixa, junto com o advogado da família, Eric Lima.

Ainda de acordo com a nota do hospital, após ter conhecimento de que Jociel e Vanúzia não reconheceram o corpo como do filho deles, o departamento jurídico da instituição identificou os pais de outro bebê que morreu no mesmo dia. Leandro Dias de Sá e Josélia da Hora Pereira são pais de João Miguel, que faleceu com suspeita de covid-19.

O advogado de Leandro e Josélia, Vinicius Ferreira, disse à reportagem que eles haviam realizado o enterro com um caixão lacrado, por conta da suspeita da doença. Dessa maneira, não puderam realizar o reconhecimento do corpo do filho antes do sepultamento.

Assim, Josélia foi até o hospital, fez o reconhecimento do corpo que estava lá e confirmou que era do seu filho. O corpo de João Miguel está no Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Itabuna e a previsão é de que o enterro também seja feito ainda hoje.

Vinicius Ferreira também afirmou que o corpo de João Miguel ainda não foi sepultado porque será necessário aguardar a exumação do outro bebê enterrado, a fim de corrigir os dados registrados na certidão de óbito.

"A minha cliente sofreu para enterrar o filho [por engano] e vai sofrer novamente para enterrar a criança. É uma situação absurda", critica.

Depois do caso, Vanúzia e Jociel afirmam que esperam que essa situação não volte a acontecer com outras famílias.

"É uma irresponsabilidade sem tamanho. Vamos fazer o reconhecimento para enterrar logo. Eles [o hospital] precisam se responsabilizar para que isso não ocorra com outras pessoas", lamenta Vanúzia Reis.

Segundo a Polícia Civil, a 1ª DP de Itabuna apura as circunstâncias da troca de corpos de dois bebês que estavam internados no Hospital Novais em Itabuna. "Os funcionários do hospital serão intimados para prestar esclarecimentos", informa em nota oficial.

Outro lado

Segundo a nota do Hospital Manoel Novaes, a instituição tem "um procedimento operacional padrão, que determina e orienta como se dá a identificação dos corpos e a liberação para os serviços de verificação de óbito".

"A unidade ainda ressalta que não medirá esforços para continuar a dar assistência aos familiares, prestar todos os esclarecimentos necessários e ainda verificar a necessidade de adequação dos processos internos adotados no hospital", diz o comunicado.

O hospital declara ainda que as famílias já estavam sendo assistidas pelos departamentos jurídico e de assistência social da instituição desde o ocorrido. A unidade de saúde afirma também que apoia as famílias com o custeio das despesas da exumação, translado e serviço funerário.