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Congolês: Funcionário que viu morte alega falta de celular para socorro

O jovem congolês Moïse Mugenyi Kabagambe - Reprodução/Facebook
O jovem congolês Moïse Mugenyi Kabagambe Imagem: Reprodução/Facebook

Lola Ferreira e Marcela Lemos

Do UOL e colaboração para o UOL, no Rio

01/02/2022 21h42

O funcionário do quiosque Tropicália que testemunhou a morte de Moïse Kabagambe, 24, afirmou hoje em depoimento à Polícia Civil que não acionou o socorro por estar sem telefone celular. A informação é da defesa que representa o funcionário e o dono do quiosque.

As imagens da câmera de segurança que registraram o espancamento de Moïse mostram o funcionário caminhando tranquilamente dentro do quiosque, e até fumando um cigarro, enquanto outros três homens agridem o congolês com pedaços de madeira e chutes. O funcionário prestou depoimento na tarde de hoje na 16ª DP, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Na noite de hoje, o delegado titular da Divisão de Homicídios da Capital, Henrique Damasceno, afirmou que identificou e pediu a prisão dos três agressores que aparecem na imagem. Damasceno afirmou que "o próprio dono do quiosque auxiliou bastante nas investigações, sendo solícito à Polícia Civil e fornecendo as imagens e auxiliando na identificação dos autores".

A Polícia Civil também apreendeu um taco de beisebol, utilizado para espancar o congolês até a morte. De acordo com as investigações, o objeto foi descartado em uma mata perto do quiosque. A polícia irá informar a motivação do crime ao final do inquérito.

O UOL apurou duas das identidades dos presos: Fábio Silva,e Alisson Cristiano Fonseca. Fábio estava em Paciência, na zona oeste carioca, na casa de familiares. Alisson se entregou na Delegacia de Bangu na tarde de hoje e afirmou que "não tinha a intenção de matar" Moïse.

Dono diz ter saído do local horas antes

O dono do quiosque prestou depoimento hoje, mas não teve a identidade revelada pela polícia ou pela própria defesa. Em entrevista à imprensa, o advogado Darlan Santos de Almeida afirmou que o dono do quiosque não soube das agressões, pois saiu do Tropicália por volta das 20h30 — as agressões foram registradas por volta de 22h20 do dia 24 de janeiro.

Almeida afirmou que o dono do estabelecimento é "um pai de família, homem bastante religioso, que está sendo perseguido". Ele negou que os homens sejam funcionários ou seguranças do quiosque.

"Eles não têm vínculo algum com o quiosque. Os outros depoimentos corroboram que, inclusive, a vítima trabalhou um ano no quiosque ao lado", disse Almeida.

Na noite de hoje, além das prisões, o delegado Damasceno afirmou que o crime as agressões foram cometidas "com uma brutalidade absolutamente desproporcional".

"Mesmo se verificando que, em dado momento, ao final das agressões, se busca uma tentativa de reanimar a vítima, isso não apaga a brutalidade das ações realizadas anteriormente", afirmou.

De acordo com a versão do advogado, o funcionário que testemunhou o crime sem reagir não tinha aparelho celular, por isso não acionou a polícia. O primeiro órgão acionado foi o Samu, após os agressores tentarem reanimar Moïse sem sucesso.

De acordo com um relatório inicial da Polícia Militar, uma viatura do 31º BPM parou no local ao ver a ambulância, quando constatou que Moïse havia sido espancado e amarrado ao lado do quiosque.

Moïse recebeu 15 pauladas já caído no chão

As imagens enviadas à imprensa pela Polícia Civil mostram ao menos 20 minutos de agressões —foram desferidas 11 pauladas enquanto a vítima estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão. O vídeo revela três agressores —que batem em Moïse mesmo estando ele imobilizado e em outros momentos imóvel no chão.

Os homens cercam e derrubam Moïse ao chão. Eles usam pedaços de madeira para bater no congolês. Um homem de camiseta vermelha prende o pescoço de Moïse com as pernas. Depois disso, outro homem espanca Moïse com um pedaço de madeira. Ele bate ao menos quatro vezes.

O agressor que deu uma "chave de perna" no pescoço de Moïse tentando amarrá-lo, com ajuda de um outro agressor. Com uma espécie de corda, eles amarram as mãos e os pés do congolês Após as agressões, os homens tentam reanimar Moïse, sem sucesso. Com uma garrafa de água tirada do freezer, ele molha os pulsos e o pescoço do congolês. Moïse não reage.