Marginal Tietê: Chuva pode atrasar reparo e reabertura, dizem especialistas

Se chuvas mais intensas continuarem atingindo a cidade de São Paulo, a cratera aberta na Marginal Tietê após o desmoronamento da obra da linha 6 - Laranja do Metrô pode levar mais tempo para ser reparada, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Para eles, a previsão de chuva nos próximos dias deve ser levada em consideração na tomada de decisões.

Hoje (2), mais cedo, o governo de São Paulo disse que considera liberar a pista central da Marginal Tietê em até três dias, se não houver necessidade de colocar estacas nas obras de contenção (leia mais abaixo). As faixas central e local estão bloqueadas desde ontem, no sentido Ayrton Senna, no trecho entre as pontes do Piqueri e da Freguesia do Ó.

"Ontem [1º], visualmente, na hora que teve um avanço da cratera, quando a erosão foi potencializada, havia chovido", disse o engenheiro Vinicius Marchese, presidente do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo).

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Ele e o professor Francis Bossian, presidente da Academia Nacional de Engenharia, afirmam que apenas a perícia poderá indicar quais foram as causas do acidente, mas "sem dúvidas" a chuva não é um elemento que colabora com melhora da situação.

"O escorregamento de terra está sujeito a acontecer principalmente em ocasiões que existe chuva em excesso. Não há uma resistência interna [da obra]", explica Bossian.

O professor afirma ainda que uma quantidade excessiva de água faz com que os "parâmetros de resistência" —itens checados para manter uma obra em pé— fiquem instáveis.

Previsão do governo

Durante entrevista coletiva hoje (2), no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, disse que a reabertura das pistas depende da forma como a estrutura de contenção será construída no trecho.

De acordo com o governo e a concessionária Acciona, responsável pelas obras da linha 6-Laranja e pelos reparos na cratera, existem dois cenários previstos:

• No primeiro, será necessário instalar estacas para a contenção da pista da marginal. Neste caso, o governo liberaria o trânsito na via central até o dia 11.
• Caso não haja necessidade de estacamento, o secretário afirmou que entregaria a pista em "dois ou três dias".

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), confirmou que o plano é tentar liberar as pistas "o quanto antes" e que o prazo máximo é a próxima sexta-feira (11).

Independente de quando as pistas serão reabertas, o presidente do Crea-SP afirma que é necessária uma "análise técnica" para liberação. "Se a chuva persistir e tiver essa mesma densidade [dos últimos dias] é preocupante. Neste momento, é preciso de um certo respiro para estabilizar a situação e para depois retomar e reabrir", avalia Marchese.

Reabertura depois do plano de recuperação

Para o presidente da Academia Nacional de Engenharia, a reabertura das pistas para veículos deve acontecer somente após a existência de um plano de recuperação.

"A interdição tem de ser feita até ter medidas seguras. Deve segurar o escorregamento, não deixar trechos da obra tão íngreme, por exemplo", disse Bossian. O professor defende que as pistas podem ser liberadas para passagem dos carros depois de um estudo de recuperação do trecho pronto e alinhado. Outro ponto importante a ser considerado é a desenvolvimento de um sistema de drenagem de água correto.

Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergência) da prefeitura, a previsão é de tempo mais aberto nos próximos dias. Com a temperatura em elevação ao longo do dia, existe a possibilidade de pancadas fortes de chuva, com trovoadas e ventos. A máxima deve chegar a 27ºC na quinta (3) e 28ºC na sexta (4).

Prazo para conclusão da obra da linha 6-Laranja

O projeto dessa linha foi lançado em 2008 pelo então governador de São Paulo José Serra (PSDB). A obra, no entanto, passou por diversos problemas, ficou parada por quatro anos e já teve cinco prazos diferentes para entrega.

Agora, a previsão de conclusão é em 2025, mas a entrega da linha dentro desse período depende da execução da obra pós-desmoronamento.

"Não foi um problema simples, naturalmente, o planejamento dessa obra vai ser alterado, porque há um fato novo. Isso vai demandar um replanejamento e pode impactar no prazo da obra, mas vai depender do esforço que vai se fazer pra cumprir o prazo e a pós-execução depois desse problema", explica o presidente do Crea-SP.